(Narrado por Camila)
Desde a conversa com Daniel, algo dentro de mim não para de latejar.
Ele plantou uma semente — uma semente amarga, torta, que não deveria ter lugar aqui dentro.
Mas cresceu. Em silêncio.
Tentei ignorar. Tentei rir da ideia de Gabriel esconder alguma coisa. Ele foi a única coisa real que senti em muito tempo. O toque dele, o calor, o jeito como me olhou depois… Não foi só desejo. Foi mais. Eu senti.
Mas agora… agora eu o observo diferente.
Gabriel está mais fechado. Não que antes fosse um livro aberto, longe disso. Mas havia ali uma entrega silenciosa. Uma troca. Hoje, ele parece distante. Como se quisesse voltar para a casca onde se escondeu por anos. E isso me destrói. Porque eu sei o que aconteceu entre nós. Eu estive lá. Eu senti.
Essa manhã eu o vi na varanda, com os cabelos bagunçados pelo vento, o olhar fixo em nada. Estava lindo, claro. Sempre está. Mas havia algo em seu semblante… algo pesado. Culpado.
Desci com passos leves, fingindo que não estava indo a