Como eu já intuía, Ethan não regressou durante toda a noite. Contudo, quando meus dedos tatearam o lado oposto do colchão e tocaram apenas o vazio gelado, uma pontada aguda comprimiu meu peito.
As batidas na porta intensificaram-se, trovejando a cada instante.
Abri-a e deparei-me com o assistente do Ancião, cujo olhar transbordava desdém.
— A velha mandou que você levasse a criança para a casa da alcateia. — Disse ele, seco como poeira.
A matriarca — avó de Ethan — jamais escondera seu desprezo por mim.
De acordo com as leis da Meia-Lua Prateada, quem se recusasse a herdar o posto não poderia revelar sua ascendência fora da alcateia.
Por isso, na visão dela, eu não passava de uma Ômega oportunista tentando ascender agarrada ao neto.
Seu desprezo estendia-se também à minha filha, e o exemplo da matriarca contaminava toda a alcateia.
Ao adentrarmos o grande salão da casa principal, notei todos os membros do conselho reunidos.
Ethan, desaparecido desde a véspera, permanecia ao lado de Victoria, oferecendo-lhe apoio com ternura estampada no olhar.
A velha matriarca fitava a barriga de Victoria, o rosto quase rachando de júbilo.
— Victoria finalmente está grávida. Agora que os Anciãos se encontram reunidos, é hora de cumprir a promessa feita há seis meses!
O Ancião mais respeitado avançou e proclamou, em voz solene, o status de Ethan como Alfa da Alcateia.
— Com um novo Alfa e o futuro herdeiro a caminho, marcaremos a data da Cerimônia de Acasalamento.
Ergui os olhos e vi todos fixos em Victoria — inclusive Ethan.
Ele acariciava a barriga dela como se ninguém mais existisse, expressão suave e amorosa.
— Eu vou ser pai. — Murmurou ele.
Não “vou ser pai de novo”, mas “vou ser pai”.
A voz infantil de Lily ecoou pelo salão:
— Mamãe, o que isso quer dizer?
O questionamento atraiu todos os olhares. O Ancião franziu o cenho.
— Se descobrirem que o Alfa possui uma filha ilegítima, a reputação da alcateia estará arruinada.
— Uma bastarda, filha de uma mulher de reputação duvidosa. — Sussurrou alguém.
A avó de Ethan lançou-me um olhar de puro desprezo.
— Doravante, diremos aos de fora que essa criança é órfã de um guerreiro tombado, criada aqui para confortar a família dele.
A velha matriarca nunca gostou de mim e, por extensão, desprezava minha Lily.
Fora ideia dela que Ethan assumisse a responsabilidade pela cunhada em troca da posição de Alfa.
Agora que Victoria estava grávida de um lobo de sangue puro, Lily tornava-se insignificante aos olhos dela.
Ethan soltou Victoria.
— Vovó, não acha isso um exagero?
Deu um passo em minha direção, mas Victoria o puxou de volta, discretamente.
Vi tudo com clareza cristalina. Segurei a mão de Lily e avancei até a matriarca.
— Como desejar. A partir de hoje, Lily não é mais filha de Ethan Blackwood.
Minha menina em breve será a herdeira mais honrada da Meia-Lua Prateada.
Ajoelhei-me diante de Lily e expliquei, em tom sereno:
— Querida, você não pode mais chamá-lo de papai. De agora em diante, vai chamá-lo de Tio Ethan, está bem?
Ethan empalideceu. Sabia que, nos últimos seis meses, eu permanecera ali porque Lily se recusava a ficar longe do pai.
Vasculhou meus olhos em busca de ressentimento ou dor, mas não encontrou nada além de calmaria resoluta.
Uma criança não consegue decifrar conflitos tão complexos. O rostinho de Lily enrubesceu, inundado de lágrimas silenciosas. Apressada, conduzi-a para fora, quando a voz de Victoria nos deteve.
— Irmã Autumn, meus enjoos estão terríveis. Preciso de uma ametista curativa rara, e Ethan a procura há dias, sem sucesso. Acabei de saber que, por acaso, você tem uma!
— Você não se importaria de me ceder sua ametista curativa, não é? — Perguntou Victoria, o olhar cintilando em desafio.