Capítulo 119

O jantar daquela noite parecia repetir o de tantas outras: pesado, silencioso, quase sufocante. O tilintar dos talheres contra a porcelana era o único som que quebrava o ar tenso à mesa.

Fernando estava sentado à cabeceira, o semblante fechado, o olhar distante. Mal tocava na comida. Natália, à sua direita, tentava manter a postura, mas a cada movimento dele sentia o coração apertar.

Mariana permanecia cabisbaixa, mexendo no prato sem apetite, e a senhora Catarina, ereta como uma estátua, observava tudo com a rigidez que lhe era habitual. Vez ou outra lançava olhares severos para Natália, olhares que diziam mais do que palavras.

Carlos tentava, inutilmente, amenizar o ambiente.

— O gado do pasto novo está respondendo bem à mudança — comentou, tentando soar casual. — Se continuar assim, em dois meses teremos um bom lucro.

— Hum. — Fernando respondeu apenas com um som grave, sem erguer os olhos.

Natália, numa tentativa de quebrar o gelo, perguntou baixinho:

— Foi um dia muito cansativo?
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