Capítulo 89
Yulssef
O teto amarelo, mofado, descascando sobre mim, me dizia que nem hospital de beira de estrada merecia aquilo. A luz da lâmpada piscava de tempos em tempos, irritando o pouco da paciência que me restava. Malditos japoneses olhos chatos, que me jogaram aqui como um cão sem dono.
Eu tentava respirar fundo, mas a costela doía. Tudo doía. A porra do olho esquerdo não abria, e o direito só enxergava embaçado por causa do inchaço.
A coxa latejava com força, como se ainda tivesse o canivete enfiado nela. Aquela lembrança específica... Ezequiel. Filho da mãe. Com um sorriso quase sereno enquanto cortava minha carne. Ele e aquela mulher dele, endemoniada. Me acertou com um pedaço da parede, depois com a cadeira, e depois nem lembro mais. Só sei que apaguei e acordei aqui. Jogaram meu corpo como um cachorro velho na porta de um hospital de quinta, longe do perímetro de segurança japonês.
Mal tiveram a decência de me internar sob outro nome.
Ou talvez...