Ashilley resistiu como pôde, decidida a não facilitar a tarefa daquelas mulheres. O esforço porem foi em vão. Minutos depois, encontrava-se vestida como uma odalisca, o corpo esbelto revelando-se sobre cetins e musselinas coloridas. Quando a colocaram sobre um improvisado tablado erguido entre as tendas, conseguindo finalmente entender o que se passava. Ia ser leiloada entre aqueles nômades que a haviam sequestrado! Já se julgava perdida, mas de repente um silêncio nervoso abateu-se sobre os presentes. Um inesperado visitante se aproximava. O desconhecido acercou-se sem dizer nada e tomou-a nos braços. No instante seguinte ele a acomodava no cavalo e disparava em direção ao deserto...
Leer másAshilley Hilden sentou-se próximo à fogueira do acampamento, procurando se aquecer. Ao seu lado encontravam-se dois homens, que a luz do fogo iluminava em um vago tom dourado.
— Não é espantosa a rapidez com que esfria no deserto? — ela comentou com os companheiros. — Parece impossível que aqui seja tão quente durante o dia e tão frio à noite. O mais jovem dos rapazes voltou-se para ela com um sorriso Sarcástico. — Isso não devia surpreendê-la. Não é assim com sua vida também? — O olhar dele percorreu-lhe o corpo como se quisesse tirar-lhes as roupas, usava shorts jeans e uma camisa branca de algodão. Os olhos verdes de Ashilley brilharam de raiva. Will Kennet havia sido desagradável desde que iniciaram a viagem a Yahren, o pequeno país desértico no Norte da África. Ela chegou à conclusão de que ignorá-lo era a melhor coisa que tinha a fazer. Levantou-se e dirigiu um sorriso para o homem mais velho. — Boa noite, Roby. Eu vou me deitar. — Eu também vou, embora não me seja nada agradável a ideia de voltar àquela barraca abafada. Ainda bem que estamos quase terminando o trabalho! Já não suporto mais este clima. Ashilley tinha uma grande afeição por Roby Ricks, embora o conhecesse há pouco tempo. Olhou para ele com ar preocupado, notando-lhe a palidez do rosto. De certo modo, sentia-se culpada pelo desconforto do colega, uma vez que era a responsável por ele permanecer no acampamento. A parte de Roby no trabalho já estava encerrada e ele poderia voltar para casa, mas decidiu ficar apenas para não deixá-la sozinha com Will naquele local isolado. Se não fosse pelas atitudes atrevidas e insistentes de Will, aquela seria uma missão maravilhosa. Quando o editor da revista Architectural World entrou em contato com ela na pequena faculdade em que trabalhava, em Maryland, nos Estados Unidos, Ashilley havia ficado entusiasmada. Toda a comunidade arqueológica estava excitada com a descoberta de uma tumba datada da época dos faraóis na longínqua Yahren, já que aquela era a primeira descoberta do gênero que foi do Egito. A múmia e todos os objetos encontrados nas salas funerárias ainda estavam sendo avaliados por especialistas e, portanto, foi um feito notável a Architectural World ter obtido permissão para fotografar a tumba antes de ela ser liberada para exposição. Roby era editor da prestigiosa revista e encarregou-se da missão. Will seguiu como fotógrafo e Ashilley, na função de arqueóloga, deveria examinar a estrutura das salas e determinar qual teria sido o uso de cada uma delas. A reportagem seria o destaque de um dos próximos números da publicação. Após deixar a fogueira naquela noite, Ela entrou na barraca e certificou-se de fechá-la com cuidado antes de começar a tirar as roupas. Will parou de tentar partilhar de sua cama, mas ela não tinha dúvidas de que o rapaz não hesitaria em dar uma espiada se encontrasse uma brecha na lona. Vestiu a camisola e desmanchou a longa trança em que prendia os cabelos. Soltas, as mechas loiras caíam sedosas sobre seus ombros, emoldurando as linhas delicadas do rosto de beleza clássica. O tecido fino exibia com perfeição o corpo bem feito e curvilíneo, mas não a protegia da temperatura baixa da noite, e ela não tardou a enfiar-se no aconchegante casulo de cobertores sobre a cama baixa. Um ruído acordou Ashy no meio da noite. O luar entrando pela abertura da tenda revelou um homem usando o longo traje típico dos árabes. Ashilley sentiu o ódio arder o seu rosto, pensando que daquela vez Will tinha ido longe demais! Ela sentou-se na cama e puxou o cobertor até o queixo. — O que você pensa que é? O sheik das Arábias? Se não sair daqui agora mesmo eu vou começar a gritar! Quando ela estendeu o braço em busca da lanterna, o homem segurou-a pelo pulso. Chocada, Ashy descobriu que não era Will! A pessoa de pé à sua frente era um árabe dos desertos, que ela, às vezes, via a distância. As tribos nômades nunca os haviam perturbado, mas eles tinham sido avisados para ter cuidado quando acampassem em regiões isoladas. Ashilley saltou o braço e pulou da cama, gritando por socorro enquanto corria para a entrada da tenda. Porém, um outro homem, maior ainda do que o primeiro, bloqueou-lhe o caminho, segurou-a pela cintura e levantou-lhe o queixo, de modo que a lua iluminasse seu rosto amedrontado. Disse algo em uma língua que ela não compreendeu e os dois estranhos riram. O coração de Ashilley pulava dentro do peito, enquanto os árabes a devoravam com um olhar malicioso. — Tire as mãos de mim! Eu sou uma cidadã americana, entenderam? — Ao ver que suas palavras não surtiam efeito, ela entrou em pânico. — Eu lhes darei dinheiro ou qualquer coisa que tiver aqui na tenda! Por favor, soltem-me! O homem que a segurava pela cintura pareceu compreendê-la, mas o alívio de Ashilley durou pouco. — Nós levamos dinheiro e levamos você, também. — Os olhos dele brilharam ao examiná-la da cabeça aos pés. — Vocês vão ter problemas se não saírem daqui. Meus amigos têm armas. — "Onde estariam Roby e Will?", ela pensou, desesperada. "Não teriam percebido o movimento?” Obteve a resposta quando o homem colocou-a sobre o ombro e carregou-a para fora. Roby e Will estavam deitados no chão e amarrados. — Sinto muito, Ashy — murmurou Roby. — Eles nos dominaram antes que percebêssemos que estavam dentro da tenda. — Não posso acreditar — ela disse, debatendo-se sem sucesso. — O que vou fazer agora? — Eles não ousarão machucá-la. Tenho certeza de que vão levá-la apenas para pedir um resgate. — A voz de Roby não parecia muito convicta. — Pagaremos qualquer coisa para tê-la de volta — disse ele aos homens, que o ignoraram. Ashilley foi atirada sobre a sela de um dos dois cavalos que esperavam. Sem mais uma palavra, os raptores montaram e levaram-na através do deserto. Aquele foi o início de três dias de ansiedade e medo. Ela foi conduzida ao acampamento dos árabes, um amontoado de tendas que abrigava homens, mulheres e crianças. Uma infinidade de animais domésticos andava entre as barracas. Ao ver o lugar tão calmo, ela sentiu-se mais aliviada. Era certo que eles não a molestariam na presença de suas famílias! No mesmo instante, os homens juntaram-se em torno dela. Tocaram-lhe o cabelo, sentindo a textura e o comprimento. Depois, tentaram tocar-lhe o corpo, mas Ashilley os repeliu com fúria. Os árabes não insistiram, apenas riram entre si. Após muita conversa, da qual ela não entendeu nada, Ashilley foi levada para uma grande tenda e entregue aos cuidados de várias mulheres, que pareciam tão interessadas nela quanto os homens. Elas mexiam nos laços da camisola e examinavam um pequeno anel de ouro em seu dedo. — Eu o darei a vocês se me ajudarem a sair daqui — tentou Ashy, sem ser ouvida. Deitou-se, imóvel, sobre o tapete que as mulheres lhe indicaram, tentando imaginar qual era sua situação. Talvez Roby estivesse com a razão e aquelas pessoas apenas quisessem um resgate. Se tivessem mais alguma coisa em mente, já a teriam feito, em vez de alojá-la com as mulheres. Ainda assim, não gostava da maneira como os homens a fitavam. Quem poderia garantir que eles a libertariam depois de receber a quantia que pedissem? Na manhã seguinte, Ashilley recebeu um kaftã para vestir, o que, pelo menos, permitiria que saísse da tenda para avaliar suas chances. Porém, as mulheres a seguiam por toda parte, sem que ela soubesse se obedeciam ordens ou apenas estavam curiosas. Não podia falar com as pessoas porque ninguém no acampamento compreendia sua língua, exceto o homem que a raptou, cujo nome descobriu ser Akmed, e que havia desaparecido do local. Ele voltou após três dias e parecia satisfeito. Ashy apressou-se em enfrnta-lo. — O que vão fazer comigo? Não podem me manter aqui para sempre. — Você não está feliz? Não se preocupe, irá embora logo. Aquelas palavras, no entanto, não a convenceram. De fato, quando as mulheres a levaram à tenda e começaram a despi-la, ela soube que a situação estava piorando. Ashilley resistiu como pôde, decidida a não tornar a tarefa fácil para as mulheres. O esforço, porém, foi em vão, pois minutos depois encontrava-se nua no meio do aposento. Elas, então, a vestiram com calças largas de tecido fino e esvoaçante, presa na altura dos quadris por um cós de lantejoulas que lhe deixava o umbigo à mostra. Um sutiã faiscante completava o traje, expondo grande parte dos seios firmes. Ashilley olhou para si própria, incrédula. Parecia uma dançarina árabe... ou uma noiva nativa. Seria possível que a fariam se casar com um daqueles homens do deserto? Uma onda de pânico subiu-lhe à garganta, quase a sufocando. Após lhe pentearem os longos cabelos claros, arrumando-os em torno dos ombros nus, as mulheres fizeram Ashy sair da tenda, colocaram-na sobre uma mesa que havia sido armada no centro do acampamento e se retiraram. Havia uma atmosfera de excitação entre os homens que se agruparam em torno do palanque improvisado. Os olhos escuros brilhavam com avidez quando eles a examinavam como se fosse uma peça de mercadoria: De repente, Ashilley compreendeu o que se passava. "Ia ser vendida!", refletiu: os três dias de espera haviam sido necessários para contatar todos os chefes locais. Seria leiloada como uma escrava! Como aquilo poderia estar acontecendo com ela? Olhou os homens morenos que a devoravam com o olhar e sentiu enjoos. Os lances se iniciaram logo, com os árabes empurrando-se uns aos outros e acenando os braços para chamar atenção. Akmed era um leiloeiro astuto e passava todo o tempo afagando os longos cabelos loiros de Ashilley e apontando para várias partes de seu corpo, para elevar as ofertas. Todos estavam tão concentrados no leilão que não notaram a aproximação de um retardatário. Olharam-no com surpresa quando ele, montado em um imponente cavalo negro, misturou-se à multidão de compradores. Vestia um caftã de brancura imaculada, em contraste com às roupas puídas usadas pelos outros homens. O kaffiyeh que levava à cabeça, preso à testa por um cordão, escondia grande parte de seu rosto, mas Ashy calculou que ele devia ter cerca de trinta e cinco anos. Os olhos castanhos escuros estavam apertados e sérios. Embora irradiasse poder e arrogância, havia no recém-chegado alguma tensão ao observar atentamente o grupo que a cercava. Ashilley perguntou-se o que poderia preocupar um homem tão audacioso. Com certeza, não seria medo. Quando os olhos dele passearam com admiração sobre seu corpo semidespido, ela estremeceu. Não havia dúvida quanto à significação daquele olhar: também veio para participar do leilão. A voz dele soou com determinação ao falar em voz alta na estranha língua nativa.— Isso não é da sua conta.— Sempre gosto de saber o fim da história. Curiosidade de escritor. Você planeja fingir-se de noivinha tímida na sua noite de núpcias? E quando Ravier fizer amor com você? Será que vai conseguir demonstrar a mesma paixão com que respondeu a mim? — Ele levantou o queixo dela e fitou-a dentro dos olhos. — Responda, Ashilley!Ashilley sentiu que o quarto começava a virar na sua frente. Taylor segurou-a quando ela vacilou.— O que foi, querida? — perguntou, com ar preocupado. — Você não se sente bem?— Não é nada. Só fiquei um pouco tonta. Já estou bem.— Fique deitada. Vou buscar um pano úmido para colocar em sua testa. — Ele a ajudou caminhar até á cama e a ajudou a deitar.Quando Taylor saiu, Ashilley respirou fundo várias vezes. Precisava controlar o nervosismo ou ele começaria a suspeitar. Poderia até perder o bebê! Diante do pensamento terrível, colocou as mãos protetoras em torno da barriga.Taylor voltou logo depois com uma toalha úmida. Tirou-lhe
— É lindo! — murmurou.— Você está louca! — exclamou Will. — Se eu visse essa bugiganga em uma loja não daria mais de um dólar por ele.— Seu gosto é tão bom quanto o seu conhecimento das leis — comentou Taylor. — O roubo dessa "bugiganga" poderia lhe custar trinta anos na prisão.Will ficou mais pálido ainda.— Nós fizemos um trato! Você disse que eu ia escapar!— Não tenho nenhum interesse em mantê-lo aqui. Sente-se e fique comportado que eu vou dar um jeito de tirá-lo do país.O resto do dia foi marcado pela tensão. Taylor deu roupas limpas para Will e ordenou que ele permanecesse no quarto de hóspedes e não deixasse ninguém vê-lo. O rapaz estava tão apavorado que nem pensou em discutir as instruções.Após fazer alguns telefonemas, Taylor saiu de casa, deixando Ashilley ansiosa e irrequieta. "E se as autoridades não concordassem em fazer o acordo, mesmo tendo o amuleto de volta? Nunca acreditariam que ela não tinha nada a ver com o furto, ainda mais sendo uma especia
Após a empregada se retirar, preparou um almoço substancial para Will: sopa, carne assada, salada, pão, manteiga e sobremesa. Embora não tivesse nem um pouco de pena, tinha que admitir que parecia fazer tempo que ele não comia direito. Depois de pôr a comida na mesa, voltou ao quarto para chamá-lo.A desordem com que se deparou fez os olhos de Ashilley faiscarem de raiva. As roupas de Ralph estavam empilhadas no chão e havia toalhas molhadas por toda parte. O espelho estava borrifado de água e o vidro de xampu sem tampa. Naquele instante, Will apareceu vestindo um robe de Taylor.— Você está bem aqui, não é? — ele observou. — O sujeito do quarto ao lado deve ser bem rico, a julgar pelo guarda-roupa.— Eu lhe disse para ficar neste quarto!— Você queria que eu voltasse a pôr aquelas roupas imundas? Ou talvez preferisse me emprestar uma de suas lindas camisolas? Não, garota, gosto mais disto aqui — ele disse, alisando a manga do robe de seda.— Você não tem o direito de mexer nas c
Os dias foram se passando, cada um mais tenso e sem esperanças do que o anterior. Ashilley não sabia o que era pior: a dificuldade para encontrar Will ou o sarcasmo de Taylor. Evitava o marido tanto quanto possível, saindo cedo e voltando tarde. Uma noite, chegou depois de haver escurecido e encontrou Taylor zangado, andando pela sala. Foi o único momento em que ele perdeu o ar de indiferença.— Por onde andou até esta hora?— Foi difícil encontrar um táxi.— Não tem ideia de como é perigoso ficar perambulando sozinha nesta cidade?— Que diferença faz, afinal?— Pare com isso, Ashilley! Não quero mais que você chegue depois de escurecer. Se me desobedecer, não sairá mais desta casa, entendeu?Quando se viu sozinha no quarto, Ashilley tentou encontrar algum sentido no comportamento de Taylor. "Por que ele se preocupava tanto? Será que restava algum afeto?", Ashilley suspirou, ao pensar que a resposta era bem mais simples: ele apenas não queria tê-la como um peso na consciência.
— Até agora não trouxeram nada.— Você acha que eles não estão se empenhando?— Não disse isso... Eu... eu só pensei que poderia ajudar se houvesse mais pessoas na trilha de Will.— Mesmo assim você não me pediu para ir com você. Por quê?— Pensei que você ia querer me dissuadir. É o que sempre fez em outras oportunidades.— E você compreendeu a razão. O que aconteceu para que, de repente, não confiasse mais em mim? E por que a súbita urgência em sair de Yahren?O coração de Ashilley se acelerou. Precisava evitar a qualquer custo que Taylor seguisse aquela linha de raciocínio. Era melhor dar a impressão de que havia se cansado ou que estava ansiosa para voltar para Ravier. Tudo, menos a verdade! Já bastava de humilhação.— Eu já expliquei. Não é muito agradável saber que, de uma hora para outra, posso ser arrastada para a prisão.— Não há nenhum perigo imediato.— Mas também não estamos mais perto de resolver o problema. Não podemos continuar assim para sempre, Taylor. Você
Teddy logo bateu os olhos nos copos sobre a mesa.— Ótimo, chegamos bem na hora dos aperitivos. Que acha dessa cronometragem perfeita?— Eu diria que não foi tão perfeita assim — disse Taylor, sério. Quando Tedy levantou uma sobrancelha, sem entender, ele fez um esforço para esconder o aborrecimento. — Quis dizer que estamos com um drinque de vantagem.— Não se preocupe. Eu bebo rápido.Enquanto Taylor foi até o bar para servir os visitantes, a mente de Ashiley se debatia desesperada. Como poderia fazer para que eles fossem embora antes que Taylor descobrisse que ela mentiu sobre os encontros com Mônica e Margô? Tinha o corpo rígido de tensão.— Para onde vão hoje? — perguntou a Mônica, tentando avaliar quanto tempo duraria a visita.— Ouvi falar de um novo restaurante. Pensamos que talvez você e Taylor quisessem vir conosco.— Hoje, não — ele respondeu, depressa.— Nós ainda nem falamos sobre o lugar — protestou Jefferson. — Servem carne feita em fogão de lenha e batatas frit
Último capítulo