— É para isso que servem os amigos. Não estava escrevendo nenhum livro, e me sentia muito entediado. Quando Greg disse que eu precisaria de toda minha esperteza contra o governo de Yahren, como poderia resistir?
— Não sei como você conseguiu me encontrar no meio do deserto. Parece um milagre. — Tivemos alguma sorte. Em primeiro lugar, Roby alertou Greg imediatamente. Mas o mais importante foi o fato de Akmed ser tão ambicioso. Ele poderia ter vendido você no dia seguinte à captura, mas decidiu que alcançaria um preço mais alto se fizesse um leilão. Precisou de algum tempo para avisar e reunir os compradores e isso me deu a oportunidade de chegar aqui e fazer perguntas. — A quem você poderia fazer perguntas? — Tenho alguns contatos, pessoas que me devem favores. Depois que descobri o que estava havendo, foi fácil. Ashilley pressentiu mais alguma coisa que ele não queria contar. Recordava-se da maneira como Taylor olhava para trás de tempos em tempos ao deixar o acampamento dos nômades e como tinha pressa para chegar à cidade. Percebeu também que havia uma pistola no bolso dele quando fugiram a cavalo. Um tremor agitou-lhe o corpo. — Não pense mais nisso — disse ele, segurando-lhe a mão. — Já terminou. Ela baixou os olhos para os dedos quentes e masculinos que cobriam os seus. Estaria mesmo tudo terminado ou apenas começando? Lembrou que Taylor tinha reputação de aventureiro e conquistador e que, a partir daquele dia, iriam viver juntos sob o mesmo teto. Compreendeu, de repente, que poderia estar tão em perigo na mansão quanto esteve no deserto. Taylor nunca usaria a força para obrigá-la a ceder, mas tinha um histórico invejável de seduções bem-sucedidas. — Já que você adquiriu uma nova imagem, temos que arranjar também um novo nome — ele comentou, interrompendo as divagações de Ashilley. — Por quê? — Como eu vou apresentá-la às pessoas? — Não quero conhecer ninguém! — Não é uma questão de escolha. Mais cedo ou mais tarde vai acontecer de encontrarmos alguém que eu conheça e não vou poder dizer: "Gostaria que conhecesse minha amiga, mas não posso revelar seu nome". — É, eu compreendo o problema — ela concordou, relutante. — Que mudar seu nome para Sheyla Assim correremos menos risco de você não atender quando alguém a chamar. Pois é parecida com o seu. — Está bem. — Agora, quanto ao sobrenome... Tem que ser algo que combine. Sheylla Hort! Que acha? — É, soa bem. — Então, um brinde à recém-nascida srta. SHEYLLA. A propósito, é senhorita, não é? — Sim. — Ótimo. — Quando ela o encarou com ar de repreensão, Taylor fez uma expressão inocente. — Acho que possa haver algum marido desesperado esperando por você. — Não, não há. — É difícil acreditar. Normalmente, minha próxima pergunta seria sobre como uma garota tão adorável escapou das garras do casamento. Mas isso é considerado machista nos dias de hoje. — Eu poderia lhe perguntar como um homem tão atraente e famoso conseguiu a mesma façanha. Taylor recebeu o cumprimento com um leve sorriso. — Eu não sou bem o tipo ideal para isso. A maior parte das mulheres quer um lar permanente, dois carros e um marido que trabalhe em horário fixo. — Muitas mulheres adoram andar pelo mundo como você. Acho que essa generalização é puro preconceito. — É, talvez. Admito que meus critérios são muito rígidos. Quero um tipo especial de mulher, uma companheira e não apenas uma esposa. Alguém com senso de aventura, que não entre em pânico e se desmanche em lágrimas quando as coisas ficam difíceis. — Como eu — disse Ashilley, baixando os olhos. — De modo algum. Você manteve a cabeça erguida quando foi preciso. Qualquer pessoa tem direito a algumas lágrimas depois que passa o momento de crise. ASHILLEY sentiu-se lisonjeada e não pôde esconder o prazer que se revelava em seu sorriso. — Bem, sendo assim, deve haver muitas garotas que poderiam preencher os requisitos. — Esqueci de mencionar que ela também precisa ser bonita, ter uma presença marcante e estar terrivelmente apaixonada por mim. Exceto pela última exigência, você seria perfeita para o papel. — Eu não quero me casar — Ashilley respondeu com firmeza, sem se dar tempo para pensar melhor na ideia. — Alguma razão específica? Uma experiência desagradável? O que Taylor diria se ela contasse que nunca teve nenhuma experiência? Com certeza não acreditaria ou, então, se ofereceria para corrigir a falha. — Não, é que eu sou feliz assim. Meu trabalho é gratificante ... bem, não há nada que eu queira mudar. — O que faz uma arqueóloga quando não está sendo raptada por bandidos? Ashilley sorriu de forma doce. — Minha vida costuma ser bem mais tranquila. — O que você faz em um dia normal? — Bem, eu relaciono os últimos resultados de pesquisas e os coloco nos arquivos; preparo relatórios para serem lidos em diferentes sociedades científicas, e... coisas assim — ela concluiu, sabendo que sua descrição do trabalho não parecia muito emocionante. — Ora essa! E é isso mesmo que você quer fazer? Qualquer arqueólogo sonha em participar de uma escavação como a que revelou a tumba do Rei Tut. Todos nós gostaríamos de estar fazendo trabalho de campo, mas não existem muitas chances. O dinheiro é pouco é vários sítios arqueológicos encontram-se sob cidades atuais, por isso este trabalho em Yahren era tão excitante. Eu não vim acompanhar a escavação, mas apenas a oportunidade de examinar a tumba já era uma experiência fantástica. — Acha que vai conseguir voltar ao trabalho burocrático? — Não tenho outra escolha. Ashilley adorava a profissão, mas havia momentos em que gostaria de ter escolhido outra; períodos em que se sentia semelhante aos fósseis que estudava. A sensação difusa de descontentamento cristalizou-se quando ela tentou explicar seu trabalho a Taylor. Vista através da perspectiva dele, sua vida era bastante insípida. — Sempre há escolhas, Ashy. Você não precisa ser uma funcionária-modelo se não for isso o que deseja. — Eu gosto muito do meu trabalho. Taylor levantou as sobrancelhas, mas não discutiu a afirmação. — E sua vida social? O que você faz para se divertir? — As mesmas coisas que as outras pessoas. — O quê, por exemplo? — Às vezes há festinhas na faculdade e vou também a apresentações da orquestra sinfônica e a teatros.