Durante o dia, estiveram todos juntos. D. Joana fez questão da presença de todos os filhos. David, como sempre, era o filhinho da mamãe: adorável e brincalhão. Na presença dele, Daniel mudava completamente. Melissa mal o reconhecia. Durante todo o tempo, esteve ao lado de Daniel, e ele não a deixou sozinha.
Somente no final da tarde, quando Daniel precisou sair para atender um cliente em uma emergência — sob protestos de D. Joana —, Melissa conseguiu respirar. Procurou uma das inúmeras salas da mansão, uma que fosse mais isolada, sentou-se no sofá e se esticou. Fechou os olhos, mas as imagens de David não a deixavam. Em que enrascada tinha se metido? Não havia relaxado um só instante desde que ele aparecera naquele almoço. O que ia fazer? Daniel o odiava. Viviam em guerra. E, se soubesse que eles haviam se tocado, aconteceria uma tragédia entre os dois. Não podia desaparecer dali, não naquele dia. Ele iria querer saber o porquê, e ela não podia nem sonhar em falar a respeito. Aliás, precisava tirar David da cabeça imediatamente. Ele era o irmão do seu namorado, afinal.
— Ah, você está aí — a voz inebriante de David a tirou de seu mundo de confusão silenciosa.
Em um pulo, Melissa estava de pé. Encontrou o olhar acusatório de David direcionado a ela.
— O que pensava que estava fazendo? — disse ele, sem rodeios.
— Do que está falando? — Melissa respondeu, fingindo desentendimento.
— Como pode fazer aquilo? — continuou no mesmo tom.
— O que? — Melissa se assustou com a acusação, mas manteve a estratégia.
— Você é noiva do meu irmão e, mesmo assim, ficou me seguindo pela casa.
— Eu não o segui, eu… — droga, ela não tinha argumentos. Ele tinha razão.
— Não? Eu vi você me observando na piscina.
— Eu… eu fui passear no jardim e… coincidentemente você estava na piscina.
Ele riu, e Melissa estremeceu com aquele sorriso.
— Sério? Eu não acredito. E depois não é só isso, você sabe o que aconteceu.
— O que aconteceu? Ah… você me agarrou — Melissa resolveu atacar, já que estava sendo alvejada de acusações.
— Eu não agarrei você. Apenas… atendi o seu apelo.
— Apelo? Do que está falando?
— Estava se oferecendo para mim — disse ele, sem pudor.
— É mesmo muito pretensioso. Se acha assim tão irresistível? — Ele até tinha certa razão, mas falar daquela maneira era muita presunção. Ele a fitou em silêncio, e ela quase respondeu por ele: “Sim. Você é”.
— Eu não sabia que era noiva do meu irmão. E eu que havia prometido nunca mais interferir na vida dele — murmurou, como se falasse para si mesmo.
— O quê? — Melissa não compreendeu muito bem.
— O que há com as mulheres? Por que não conseguem ser fiéis?
— Esta não é uma "virtude" exclusiva das mulheres.
— Você está noiva de Daniel, tinha que manter a compostura — disse ele, segurando o braço dela.
Melissa, assustada, pousou os olhos naquela mão enorme, pressionando seu braço fino. Em meio ao susto, viu uma aliança no dedo anelar da mão direita dele. Olhou-o nos olhos, cheia de força.
— Parece que não sou só eu que estou traindo aqui.
Ele olhou para sua própria mão e soltou o braço dela.
— Isso não é importante.
— Não. Para os homens nunca é. Eles só exigem fidelidade das mulheres, mas nunca conseguem se manter longe de outra que apareça em seu caminho.
— Ele é meu irmão, droga. Já tivemos muitos problemas, quero ficar em paz com ele.
— Ótimo — respondeu Melissa. — Eu também. — Foi em direção à porta e, antes de sair, olhou para trás. — Vai trazer sua noiva para a festa de sua mãe?
Ele olhou para a mão, tirou a aliança e colocou no bolso.
— Isso lhe incomoda? — disse, com seu habitual sorriso torto.
Melissa balançou a cabeça. Ele acabara de pedir que ela se mantivesse longe e, ao mesmo tempo, jogava charme novamente. Precisava sair dali urgentemente, antes que não resistisse àquela tentação.