Sem pensar em mais nada, Melissa saiu correndo daquela situação embaraçosa. Entrou por uma porta qualquer em disparada e trombou com Daniel em um dos corredores.
— Amor, o que houve? — perguntou Daniel, preocupado.
— Nada — Melissa respondeu apressadamente, tentando soar natural.
— Parece que viu um fantasma no jardim? — disse Daniel, fazendo menção de sair para verificar. Melissa segurou seu braço, com um leve tremor.
— Não é nada, já disse. Sou medrosa e, de repente, me vi sozinha no jardim. Saí correndo, foi isso — riu nervosa. — Vamos, quero falar com Sofia e sua mãe — disse, puxando Daniel pelo braço.
— Vim chamá-la para o almoço, logo será servido.
— Ótimo. Já estou com fome — respondeu, tentando disfarçar a ansiedade que ainda a percorre.
Na varanda, Melissa avistou Sofia, que veio ao seu encontro com um sorriso acolhedor.
— Onde estava? — perguntou Sofia, beijando-a na face.
— Estava no jardim. Sabe que adoro a natureza.
— Esse jardim é realmente maravilhoso. De vez em quando passeio por ele à tarde, quando os pássaros estão cantando. É lindo! — Graças a Deus, Sofia desviou a conversa, poupando Melissa de dar mais explicações sobre o incidente embaraçoso. Ufa!
Enquanto isso, à mesa, aguardando o almoço, D. Joana prolongava a conversa.
— O que estamos esperando, mamãe? Estou com fome — disse Daniel, percebendo que todos já estavam à mesa e nada havia sido servido.
O silêncio fez com que todos olhassem para D. Joana. Sofia rapidamente interveio.
— Estamos aguardando David.
— David está aqui? — Daniel disse, a voz carregada de surpresa e hesitação.
— Daniel, ele... — começou Sofia.
— Achei que não costumava frequentar esta casa.
— Daniel, ele é nosso irmão — Sofia explicou, tentando amenizar a tensão que começava a crescer na sala.
Daniel baixou a cabeça, o cenho franzido. Joana manteve silêncio, enquanto Daniel parecia digerir a notícia. Sua mãe, ultimamente tão sensível, já não exibia a força de outrora.
— O que ele está fazendo aqui? — perguntou finalmente, com a voz carregada de curiosidade e cautela.
— Daniel, ele também é meu filho, e hoje é meu aniversário — respondeu D. Joana, com firmeza e delicadeza ao mesmo tempo.
Daniel baixou a cabeça novamente. Um silêncio pesado tomou a sala, até que ele finalmente perguntou, quase em tom de acusação:
— Por que não me disseram que ele estaria aqui?
— Você não viria se soubesse — disse Sofia, firme.
— Tem razão — Daniel murmurou, relutante.
— Daniel, eu peço que faça isso por mim — continuou D. Joana, educadamente. — Quero todos os meus filhos comigo neste dia especial.
— E ele aceitou vir? Ou ele costuma vir aqui e ninguém nunca me contou?
— Ele nunca fez objeção. Você é o único que se incomoda — respondeu Sofia, tentando suavizar o clima.
— Claro. Ele não é o ofendido — retrucou Daniel, com certa ironia.
Melissa acompanhava tudo em silêncio, confusa. Quem seria esse David que gerava tanto alvoroço? Nem imaginava que Daniel tinha um irmão. Um frio percorreu sua espinha.
— Daniel — disse D. Joana, calma e diplomática — eu pedi que ele viesse. Gostaria que todos passássemos este dia juntos e em paz. Seria possível fazer isso por mim?
Daniel permaneceu em silêncio. Melissa segurou sua mão, sentindo o aperto dele como um pedido silencioso de apoio. Ele respondeu apenas com um leve aceno de cabeça.
Todos permaneceram tensos, em silêncio, até que David entrou na sala com presença marcante, apoteótica.
— Bom dia, família! — disse ele efusivamente, beijando o rosto da mãe e depois o de Sofia. Em seguida, pousou os olhos em Daniel, que desviou o olhar, rígido. David então olhou para Melissa. Ela congelou instantaneamente.
Não podia ser verdade. David, o irmão de quem Daniel tanto se guardava, era o mesmo estranho que a havia beijado pouco antes no jardim. Um arrepio percorreu seu corpo. O coração disparou, e Melissa sentiu o mundo girar ao seu redor. Estava completamente exposta, vulnerável, e ainda precisava disfarçar.
— Há quanto tempo, Daniel? — disse David, com uma calma inquietante.
Daniel apenas fez menção de um sorriso irônico, sem responder.
David sentou-se no topo da mesa, e Daniel se remexeu, incomodado, mas conteve-se. Quando David direcionou os olhos para Melissa, o impacto foi imediato. Seus olhares se encontraram como lâminas cruzando no ar, e Melissa estremeceu, quase perdendo o fôlego. Cada músculo de seu corpo reagiu, um pânico silencioso se misturando à excitação proibida.
— Ninguém vai me apresentar à visitante? — perguntou David, quebrando o silêncio pesado que pairava na sala.
Daniel finalmente levantou os olhos para o irmão, e Sofia interveio rapidamente:
— Esta é Melissa — disse, tentando acalmar a tensão e suavizar o clima.
Melissa engoliu em seco, sentindo que, naquele instante, toda a situação do jardim se materializava diante dela. Seu coração batia tão rápido que parecia explodir, e ela percebeu que precisava manter o controle antes que tudo escapasse completamente.
— Melissa — David repetiu. — Só Melissa? — fitava-a insistentemente.
— Não — respondeu Daniel. — Não é só Melissa, é minha NOIVA — enfatizou, destacando a palavra "noiva".
David ficou em silêncio por alguns instantes, absorvendo a informação.
— Noiva? — perguntou, olhando diretamente para Melissa, que se encolheu, esperando a chuva de reprovação cair sobre sua cabeça.
— Sim. Por quê? — Daniel interveio, imprimindo certa agressividade à voz.
— Veja bem — D. Joana assumiu com calma. — Hoje é meu aniversário. Quero meus três filhos comigo e, se alguém aqui ousar destruir este momento, vou entender como uma ofensa a mim.
Os dois irmãos baixaram a cabeça, e em seguida D. Joana ordenou que fosse servido o almoço.
Após um curto silêncio, David iniciou uma nova conversa e, naturalmente, buscou incluir Daniel no assunto. Este permaneceu resistente, respondendo sempre da forma mais curta possível, muitas vezes apenas com monossílabos. Melissa, por sua vez, evitava olhar para David. Primeiro, porque temia ler uma acusação nos olhos dele; segundo, porque precisava manter distância da tentação. Encontrar o olhar de David reacendia nela a mesma chama que sentira no jardim pouco antes.