No coração de uma floresta isolada, um casal de indígenas se torna alvo da lei e de caçadores de recompensas após serem acusados de crimes que não cometeram. Fugindo das forças da civilização e das próprias tribos que um dia os acolheram, Yara e Tupã precisam lutar não apenas pela liberdade, mas pela verdade, enquanto enfrentam dilemas morais, traições e segredos de um passado sombrio. Unidos pelo amor e pela sobrevivência, eles se tornam lendas em uma jornada épica de honra, justiça e redenção.
Ler maisAs sombras na câmara quase respiravam. Moviam-se como criaturas famintas, dançando pelas paredes em um espetáculo de malevolência pulsante. No centro, Naaldlooyee permanecia imóvel, mas sua presença era tudo, como um olho de tempestade que atraía o caos ao seu redor. Ele controlava as trevas como um maestro oculto, cada movimento calculado com uma precisão arrepiante.Tupã sentia a opressão do lugar como se o ar tivesse se tornado líquido e denso e tenebroso. Era mais do que o peso físico: era uma mordaça que sufocava seus pensamentos, sua ligação com a floresta, seu próprio espírito. Ele tentou buscar força nas lições espirituais que aprendera — na energia das árvores, no sussurro da terra — mas o silêncio do mundo natural era ensurdecedor.Ele respirou fundo, forçando-se a não sucumbir ao desespero.— Agora você entende — a voz de Naaldlooyee cortou o silêncio como uma lâmina fria, reverberando pela câmara como trovões distantes. — Sua floresta o abandonou, guerreiro. Você não é nad
A noite estava mergulhada na penumbra, mas o horizonte começava a exibir tímidos tons de cinza. As estrelas ainda brilhavam, teimosas, conforme o amanhecer enviava seus primeiros sinais. O ar era carregado, pesado com a tensão de algo iminente. Era o tipo de silêncio que antecedia o caos.Hei e Kaena moviam-se como sombras pelos arredores das minas. Guiados apenas pela luz tênue das estrelas e pelos sons abafados ecoando das cavernas, avançavam com cautela. O terreno era traiçoeiro, pontilhado por detritos e buracos cavados pelos exploradores. Cada passo era medido, cada respiração controlada.— O trabalho aqui é mais cruel do que imaginei — murmurou Hei, observando um grupo de homens acorrentados carregando pedras pesadas. Seus ombros estavam curvados sob o peso, os olhos apagados pela exaustão. — Essas pessoas estão sendo destruídas.Kaena não respondeu de imediato, mas seu olhar ardia com raiva. Ela apertou os punhos, os nós dos dedos brancos.— Por isso estamos aqui — disse ela, a
A escuridão pulsava nas passagens, quase viva, valsando ao ritmo de um coração oculto nas profundezas da terra. Cada passo de Tupã era meticulosamente calculado, mas, apesar de sua vasta experiência como caçador, a sensação de ser observado era inescapável. Algo antigo e insidioso espreitava das sombras, algo que nenhuma presa antes enfrentada poderia igualar.O ar estava denso, saturado por um peso invisível que pressionava seus pulmões. Tupã mantinha a mão firme no arco, os olhos atentos ao menor movimento. A energia da floresta, outrora um guia gentil, parecia dividida dentro dele. Era como se duas forças conflitantes duelassem em sua mente: uma que o chamava à luz e outra, mais tentadora, que o atraía para as sombras.Após uma curva inesperada, revelou-se uma câmara oculta. Tupã parou, os sentidos em alerta máximo. O espaço era vasto, iluminado por tochas que emanavam uma luz azulada e dançante, projetando sombras inquietas pelas paredes. No centro, um altar rudimentar, cercado po
Ele mapeava mentalmente o local, observando a disposição das pedras, padrões de patrulha e pontos vulneráveis.As passagens escuras pareciam se estreitar a cada passo de Tupã, como se o próprio caminho conspirasse para prendê-lo. As paredes de pedra bruta, úmidas e irregulares, exalavam um cheiro de terra velha e mofo, enquanto os ecos de seus passos, mesmo tão leves quanto podia fazê-los, ricocheteavam pelo labirinto.Ele ajustou a aljava nas costas e apertou o arco com mais força. Algo o incomodava, uma sensação persistente de que estava sendo guiado — não pelo destino, mas por algo ou alguém que o observava de longe.— Nada aqui é por acaso — murmurou para si mesmo, atento a cada sombra que parecia se mover ao seu redor.Seu instinto não estava errado.Ao dobrar um corredor, Tupã ouviu um som pesado, como uma rocha sendo empurrada. Ele congelou, os sentidos aguçados, e então percebeu: não estava sozinho.Emergindo da escuridão, um homem enorme surgiu. Ele tinha a postura de um tour
O ar carregava um silêncio inquietante. Tupã avançava pela trilha estreita, cercado por pedras que pareciam mais vivas do que nunca, como se sussurrassem entre si. O peso do ambiente pressionava seus ombros, não de cansaço, mas de uma certeza: algo medonho o aguardava, algo que mudaria o curso da sua jornada.Ele havia sentido a mudança desde que cruzara a passagem. Os espíritos estavam inquietos, como se advertissem sobre um perigo iminente. Seus instintos confirmavam isso, cada som amplificado, cada sombra mais ameaçadora...Tupã chegou a uma alcova, onde parou para observar. Dali, podia ver mercenários de Donaldo e figuras encapuzadas, envoltas em uma aura quase sobrenatural.Essas figuras chamaram sua atenção imediatamente. Vestiam mantos escuros que se misturavam com as sombras, e seus movimentos eram lentos, quase ritualísticos. Era evidente que não eram apenas guardas; eram ocultistas da seita do bruxo que Tumbleweed mencionara.Tupã abaixou-se, analisando o território.Pelos es
A noite havia caído como um manto espesso, cobrindo a terra em sombras profundas. O vento sussurrava segredos antigos pelas árvores, e as estrelas cintilavam como olhos curiosos, observando o destino de todos que caminhavam sob seu tênue brilho.Em um esconderijo subterrâneo próximo às minas, Kaena e Hei flagravam-se juntos. O abrigo era rudimentar, feito de pedras e vigas improvisadas, mas proporcionava o mínimo de segurança contra os homens de Donaldo.Hei, um jovem de olhos puxados e pele dourada como o trigo ao sol, ajeitava cuidadosamente a cama feita de folhas e tecidos desgastados. Ele era ágil e astuto, um estrategista por natureza, sempre pensando alguns passos à frente. Kaena, com seu olhar intenso e presença magnética, observava-o conforme retirava o capuz que lhe cobria os cabelos negros.— Hei, você nunca para de pensar, não é? — Kaena sorriu, sentando-se ao lado dele. — Mesmo aqui, você parece estar montando um plano.Ele sorriu de volta, embora houvesse algo pensativo e
O silêncio do esconderijo subterrâneo envolvia Hei e Kaena como um manto. As tochas projetavam sombras suaves nas paredes de pedra, e o calor dos corpos deles parecia ser a única coisa viva naquele momento de tranquilidade roubada. Hei acariciava o rosto de Kaena com delicadeza, como se temesse que ela pudesse desaparecer como um sonho ao amanhecer.Conforme a observava, os pensamentos de Hei começaram a se afastar, mergulhando nas águas turvas de sua memória. Ele fechou os olhos por um instante, permitindo que as lembranças o levassem de volta a um tempo distante, a uma terra onde o céu sempre parecia em guerra com a terra.A terra natal de Hei era um lugar de vastas planícies e montanhas altivas, onde o vento carregava o cheiro das flores de cerejeira misturado com a poeira da batalha. A guerra parecia uma constante, uma sombra que se recusava a dissipar-se, movendo-se de um vilarejo para o próximo, como um incêndio insaciável.Hei, mesmo jovem, fora reconhecido por sua mente afiada.
A floresta parecia tensa, como se aguardasse o desenrolar de algo que transcendia o tempo, conforme Tupã movia-se com precisão, os olhos fixos nos sinais de fumaça que dançavam no céu distante, conforme os decifrava como se fossem palavras escritas em um antigo idioma, cada curva e ondulação contando uma história.As informações transmitidas por Yara o levaram a uma clareira isolada, onde ele se ajoelhou para criar um novo mapa. Usando papel artesanal e carvão improvisado, o jovem guardião recriou os detalhes simbólicos que Yara havia passado. As linhas tomavam forma, cada traço uma promessa de que estavam mais próximos do coração dos planos de Donaldo.Mas Tupã sabia que mapas eram apenas guias. O verdadeiro desafio seria atravessar o território hostil, onde caçadores e sombras aguardavam.Enquanto isso, Yara enfrentava seus próprios perigos. Movendo-se com a graça de uma Iara, ela explorava uma trilha próxima a um rio, verificando se os caçadores de Donaldo haviam se aproximado mais
O ar na base das montanhas parecia mais denso, a floresta, com sua habitual vitalidade, agora carregando uma estranha tensão, como se ela mesma estivesse prendendo o fôlego. Yara movia-se com prudência, cada passo silencioso, mas repleto de propósito. Estava reunindo provisões: raízes comestíveis, pequenas frutas, e analisando o terreno para futuras necessidades da tribo.Mas havia algo diferente naquele dia.Conforme examinava um arbusto de folhas largas, sentiu uma presença. Não era um som ou um movimento perceptível, mas algo mais sutil, uma sensação de que os olhos da própria floresta grudavam-se sobre si. O vento parecia mudar de direção, sussurrando advertências que ela não conseguia compreender.Endireitando-se devagar, Yara olhou em volta, seus olhos compenetrados vasculhando as sombras. O silêncio era profundo, porém não reconfortante.— Quem está aí? — perguntou ela em voz baixa, a mão já tocando seu arco.Nenhuma resposta veio, mas as folhas de um galho próximo tremularam, e