No coração de uma floresta isolada, um casal de indígenas se torna alvo da lei e de caçadores de recompensas após serem acusados de crimes que não cometeram. Fugindo das forças da civilização e das próprias tribos que um dia os acolheram, Yara e Tupã precisam lutar não apenas pela liberdade, mas pela verdade, enquanto enfrentam dilemas morais, traições e segredos de um passado sombrio. Unidos pelo amor e pela sobrevivência, eles estão destinados a se tornar lendas numa épica jornada de honra, justiça e redenção
Leer másA floresta ainda dormia sob o manto da madrugada. A névoa rasteira dançava sobre o solo úmido, conforme as folhas, orvalhadas pelo frescor da noite, sussurravam segredos ao vento. Lá, no coração desse antigo silêncio, duas sombras se moviam com a suavidade de felinos. Yara, de olhos afiados como a lâmina da sua adaga, conduzia seus passos compactos sobre as raízes da terra que tanto conhecia. Ao seu lado, Tupã, o caçador cuja respiração ritmada harmonizava-se com o pulsar da floresta, mantinha os sentidos aguçados, preparado para defender a mulher que amava. Unidos, eram como duas metades de uma mesma alma — um elo forjado pela necessidade de sobrevivência e temperado no fogo do amor.
A alvorada não tardaria a banhar os céus de laranja e ouro, mas aquela manhã não seria como as outras. Desta vez, a luz do sol traria consigo caçadores — não de presas, mas de almas humanas.
Yara olhou de relance para Tupã, os olhos expressando a certeza e a preocupação que tentava esconder. Ele não precisava de palavras para entender. Um simples olhar bastava. Era uma conexão que transcendera a carne e o sangue; algo forjado nas chamas da sobrevivência e no eco do amor.
— Eles estão perto — murmurou ela, a voz baixa como o farfalhar das folhas, porém firme como uma promessa. — Sentem o cheiro do medo... mas o nosso é o cheiro da liberdade.
Tupã, com a pele marcada pelo sol e cicatrizes de antigas batalhas, meneou a cabeça em concordância. Ele, filho da floresta, sabia que cada som em volta poderia ser tanto um aliado quanto um traidor. Havia aprendido, desde cedo, que a floresta abraça quem respeita suas regras, mas também destrói os que se esquecem dela.
— O tempo corre contra nós, Yara — disse ele, em tom grave que fazia ecoar a urgência em seu peito. — Os guerreiros de tua tribo e os homens brancos... Eles nos cercam como predadores cercam uma presa cansada.
O som de tambores distantes ecoava pela floresta, acompanhado pelos primeiros raios de sol que rasgavam a escuridão. Yara fechou os olhos por um momento, sentindo o peso daquela manhã sobre seus ombros. Ela não era apenas uma jovem guerreira, não mais. Era uma fugitiva, acusada de um crime que não cometera. O sangue derramado no solo de sua aldeia não fora obra de suas mãos, mas isso pouco importava agora. A verdade era uma lança cega nas mãos daqueles que a perseguiam.
Meses antes, Yara tinha sido prometida ao grande guerreiro de sua tribo, uma aliança destinada a unir clãs e trazer prosperidade. Mas o coração de Yara nunca bateu ao compasso das tradições impostas. O que seus anciãos chamavam de destino, ela chamava de prisão. Foi em uma noite como esta, sob a luz das estrelas, que ela deixou sua aldeia para trás, decidida a trilhar seu próprio caminho.
Foi então que cruzou o caminho de Tupã, um guerreiro errante, banido da própria tribo após um erro que jamais cometera. Ele também carregava o peso da injustiça nos ombros, e essa dor comum uniu seus espíritos. Naquele primeiro encontro, não houve desconfiança, apenas reconhecimento. Yara viu em Tupã a força que faltava para escapar de seu destino imposto, e Tupã encontrou em Yara a chama de liberdade que há tanto tempo procurava. Juntos, decidiram abandonar suas tribos e viver fora das regras, no coração da selva que os acolhia.
Agora, no entanto, estavam sendo caçados como animais.
Os tambores se aproximavam. Tupã encostou o ouvido no chão, escutando a vibração da terra. Sentiu o peso dos pés de guerreiros vindos do norte e o som inconfundível dos cavalos dos homens brancos ao leste. Estavam cercados. Haveria uma luta, e ela seria sangrenta.
— Precisamos cruzar o rio — disse ele, com a calma de quem já escapou da morte antes. — Se conseguirmos alcançar as pedras de Mboia, poderemos desaparecer nas cavernas. Eles jamais ousariam nos seguir até lá. Não sem perder a coragem.
Yara assentiu. Sabia que Tupã estava certo. As pedras de Mboia eram território sagrado, onde nenhum homem, branco ou indígena, ousava entrar sem uma boa razão. As histórias sobre serpentes antigas e espíritos guardiões eram o suficiente para afastar os mais corajosos. Era a única chance que tinham.
Sem hesitar, começaram a correr em direção ao rio. Seus pés descalços mal tocavam o chão conforme deslizavam pela mata densa. Tupã estava à frente, abrindo caminho com agilidade, conforme Yara mantinha a respiração controlada, sentindo o pulsar de cada músculo em sintonia com o ritmo da fuga. Eram um com a floresta, seus corações batendo no mesmo compasso das árvores, dos animais, do vento.
Mas não estavam sozinhos. O som de cascos e gritos de guerra cortava o ar, cada vez mais próximo.
— Ali! — gritou um dos guerreiros atrás deles. — Peguem-nos!
Yara sentiu uma fisgada no peito. Não era medo. Era raiva. Raiva de ter que fugir, de ser caçada por algo que não fez, de ver Tupã arriscar sua vida para protegê-la. Mas era o mundo que os havia forçado àquela situação, e ela lutaria até o fim por sua liberdade.
Chegaram à margem do rio, suas águas revoltas refletindo o brilho dourado do sol nascente. As pedras de Mboia estavam do outro lado, imponentes, como guardiãs de um destino ainda desconhecido. Tupã parou por um instante, estudando a correnteza perigosa que se movia rapidamente.
— Eu primeiro — disse ele, virando-se para Yara. — Se eu conseguir atravessar, tu me segues.
Yara abriu a boca para protestar, mas as palavras ficaram presas em sua garganta. Sabia que ele estava certo. Tupã mergulhou nas águas, nadando com a força de quem já havia desafiado as correntezas mais traiçoeiras. Por um instante, ele desapareceu sob a superfície, mas logo reapareceu, agarrando-se a uma pedra no meio do rio.
— Agora! — gritou ele, acenando para Yara.
Sem hesitar, Yara mergulhou, sentindo o frio cortante da água invadir seu corpo. A correnteza tentou arrastá-la, mas ela lutou com a mesma ferocidade com que lutava em batalhas. Suas mãos procuravam por um apoio, até que encontrou o braço de Tupã, que a puxou para junto dele. Juntos, conseguiram alcançar a outra margem, seus corpos exaustos, mas suas almas ainda cheias de fogo.
Do outro lado do rio, os guerreiros hesitaram. O som das águas rápidas e o brilho das pedras sagradas de Mboia fizeram com que recuassem. Até mesmo os homens brancos pareciam cautelosos.
Yara e Tupã estavam a salvo. Por enquanto.
Enquanto recuperavam o fôlego, seus olhares se cruzaram. Não precisavam de palavras. Eles sabiam o que aquela fuga significava — estavam unidos, não apenas pelo desejo de liberdade, mas por algo mais forte, algo que nem a morte ou a perseguição poderia quebrar. Naquele momento, no silêncio da floresta, entre o rugido do rio e os murmúrios das árvores, Yara e Tupã selaram um pacto inquebrantável.
A alvorada havia trazido mais do que a fuga. Ela trouxera a promessa de um destino maior.
E o destino os chamava.
A floresta despertava com o primeiro canto dos pássaros, um coro suave ecoando entre as antigas árvores, como se a própria natureza estivesse anunciando o início de um novo dia. O sol ainda não havia rompido o horizonte, mas o céu já se tingia de tons de lavanda e dourado, prometendo uma manhã clara e fresca. Era nesse momento, quando o mundo parecia suspenso entre a noite e o dia, que Tupã, ainda um menino, começava sua jornada.Seus pés descalços pisavam levemente sobre a terra úmida, sentindo cada raiz, cada pedra, como se a floresta lhe contasse histórias através do toque. Ele carregava um arco pequeno, feito por suas próprias mãos, e uma aljava de flechas que seu pai lhe dera no último aniversário. Tupã não era apenas um menino; era um aprendiz, um caçador em formação, e cada dia trazia uma nova lição.— Tupã, você está pronto? — chamou seu pai, Araçá, cuja voz era grave como o trovão distante. Araçá era um guerreiro respeitado na aldeia, um homem cujas histórias de caçadas e bat
O ar em volta parecia carregado de eletricidade, cada movimento uma melodia de sensações que os conectava de maneira quase transcendental. Ele sentia o calor dela envolvê-lo, um abraço íntimo que o fazia perder o fôlego. Cada avanço, cada recuo – uma dança que ambos conduziam com paixão e ternura, como se o mundo exterior tivesse deixado de existir.Ela arqueava as costas, os dedos dele marcando levemente sua pele, conforme murmúrios escapavam de seus lábios, palavras entrecortadas que misturavam desejo e afeto. Ele respondia com ações, cada toque, cada movimento, uma promessa silenciosa de que aquele momento era só deles, um segredo guardado a portas fechadas.O ritmo acelerava, a respiração ofegante ecoando no quarto, enquanto as mãos dela exploravam suas costas, sentindo cada músculo tensionado, cada onda de prazer que o percorria. Era como se estivessem à deriva em um mar de sensações, onde o tempo não tinha mais importância.E então, quando o ápice se aproximou, ela o fitou, os ol
A lua cheia pairou sobre a ravina, derramando uma luz prateada que banhou as pedras e a vegetação, tingindo o cenário de um brilho fantasmagórico. À beira do precipício, Lyra, a concubina de Donaldo, assentou-se com os pés balançando no vazio, ao que seus olhos mergulharam nas profundezas, onde as sombras se estendiam como dedos esqueléticos, conforme um arrepio gelado percorria sua espinha.Entre as muitas concubinas de Donaldo, Lyra era singular. Sua mente inquieta e seu coração ainda não haviam sido absolutamente subjugados pelo poder e pela riqueza de seu senhor. Ela nutria uma curiosidade insaciável sobre o passado de Donaldo, sobre os fios que teceram o homem que ele se tornara. Seria ele ainda aquele que conquistara corações femininos, ou apenas uma casca vazia, arrastada para as trevas?— Ele está bem? — sussurrou Lyra, sua voz quase engolida pelo vento que sibilava entre as rochas. — Ou está se perdendo nas sombras, afundando, como um navio à deriva?As histórias que ouvira s
O silêncio da noite pesava como um manto sufocante sobre o acampamento. A fogueira lá fora já não passava de brasas lânguidas, e dentro da tenda principal, Donaldo repousava... mas seu sono era agitado.No começo, era um sonho comum. Ele estava de volta à sua casa, muito antes de sua jornada rumo às florestas e ao hermético poder. A madeira das vigas rangia suavemente com a brisa noturna, e o cheiro de terra molhada impregnava o ar.Mas algo estava errado.O corredor... parecia longo demais.As paredes, onde outrora havia quadros e tapeçarias, agora estavam nuas e pulsantes, como se tivessem vida própria.Ele olhou para suas mãos. Estavam manchadas de... sombra? Como tinta negra escorrendo por sua pele.Ao fundo, um som abafado vinha do quarto. Risos. Um riso masculino, entrelaçado com suspiros de desejo.O ódio explodiu dentro dele, queimando como fel. Ele conhecia aquele quarto. Conhecia cada centímetro da madeira, cada imperfeição no teto. Era o quarto de Clara. Era o seu quarto.A
O vento murmurava lá fora, carregando consigo a poeira da terra ressecada.Dentro da tenda, o calor sufocava.Pele contra pele.Carne contra carne.Os lençóis embolados, úmidos de suor e desejo.Os suaves gemidos da esguia mulher abaixo dele se fundiam ao ranger do colchão e ao cadenciado som dos corpos em movimento.Mas Donaldo não estava totalmente ali.Seus olhos fitavam o vazio, mesmo conforme seu corpo seguia o movimento, seus dedos cravados nos quadris da concubina de pele azeitonada.Ela gemeu alto, arqueando-se contra ele, buscando sua atenção.— Você está noutro lugar, meu senhor — sussurrou ela, arranhando-lhe o peito.Donaldo não respondeu.Porque seu pensamento estava envolto por outra presença.Naaldlooyee.Donaldo não sabia exatamente quando começou a temer Naaldlooyee.Quando firmara o pacto, acreditava que controlaria a escuridão, que manteria as sombras sob seu comando.Mas, agora, não tinha certeza se a escuridão não começava a controlá-lo.E ele se perguntava:Naaldl
A mãos dele exploravam o corpo dela com uma mistura de desejo e curiosidade. Os avantajados seios. A virilha. A parte interna das coxas. Cada cantinho reservado aos meandros da imaginação. Excitada, a moça respondeu — removendo a fina calcinha de seda e abrindo as pernas, ao que a rosada vulva revelou-se. Úmida. Convidativa. Donaldo entrou nela, e a concubina envolveu-o com seus braços, atraindo-o para mais perto, levando-o a mergulhar ainda mais profundamente nela, conforme intensificavam a troca de beijos e toques e carícias.Ela gemeu conforme ele se movimentava, entrando e tornando a entrar.O calor dentro da tenda se condensou.Os lençóis de seda espalhavam-se pelo chão como rastros de uma batalha silenciosa.A loira arquejava sob ele, as unhas cravando-se em suas costas.Donaldo grunhiu, segurando-lhe os pulsos acima da cabeça, dominando-a com facilidade.— Você gosta disso, não é? — sussurrou ele, o hálito quente roçando o pescoço dela.Ela gemeu em resposta, os olhos vidrados d
Último capítulo