No campo de batalha os Lycans eram implacáveis, possuíam força e uma fúria incontrolável. O Alfa do clã das montanhas era um líder forte, porém teve sua amada destinada pela Lua assassinada por uma matilha de lobisomens. Ele caçou e matou a maioria, mas alguns escaparam. Então Aram regressou e se tornou a sombra do que um dia foi. Tempos depois, os anciãos ofereceram a ele uma oportunidade de retomar sua posição no Clã. Uma fêmea da matilha que ele perseguia, havia sido encontrada sozinha e desorientada na floresta. Um clã inimigo de lobisomens estava em poder dela e gostaria de entregá-la, em busca de uma trégua nos conflitos. Aram deveria desposá-la e temendo uma rebelião, ele aceitou. Dessa forma ele subjugaria a loba, provando a superioridade dos Lycans. Lucine era uma jovem que já havia vivido seu inferno particular, nascida em uma matilha de lobisomens desonestos e cruéis, sempre viveu como uma pária. Quando o Lycan matou quase todos, ela julgou que estava livre, mas ao contrário disso foi levada pelos sobreviventes e mantida como escrava a mercê de seus abusos. Quando finalmente conseguiu matá-los e fugir, lá estava ela sendo capturada, e sendo entregue para o maior inimigo de seu Clã. Em meio a uma disputa sangrenta entre Lycans e lobisomens, o destino ligaria duas almas em uma história de amor que poderia salvar suas vidas?
Ler maisUltimamente Aram detestava a visita do tio, na verdade, detestava qualquer visita que viesse interromper o seu bem-sucedido e satisfatório calvário de dor e autopiedade. Yasmina havia partido para a vida além da vida e ele merecia todo aquele sofrimento pois não a tinha protegido. A Deusa Lua o havia abençoado quando a colocou em seu destino e ele não fora digno daquela graça, às vezes, escolher permanecer vivo era muito mais difícil do que morrer.
Agora ele teria que viver o resto de seus dias sob o peso de ter sido indiretamente responsável por sua morte e a dor de não ter mais a sua Luna destinada. Para viver seu suplício, ele só precisava ficar sozinho, o que era muito difícil, visto que ainda era o Alfa daquele clã, apesar de vir há meses negligenciando seus deveres. Ele não fazia questão de ouvir os muitos lamentos do tio, que vinha trazer notícias do conselho de anciãos. O homem disse a Aram que os mais velhos estavam a ponto de desistir dele e já estavam procurando uma saída para aquela situação. — Aram, você precisa reagir, o futuro do clã não é um jogo. Eu entendo que passou por uma situação muito ruim, mas precisa retomar o comando. Há meses que você não se interessa por nada que não seja uma garrafa de bebida, todos estão comentando que o Alfa sucumbiu ao álcool e tenta se matar lentamente. O povo tem muitos problemas, precisam de orientação. Daqui a pouco o inverno vai chegar e vamos todos morrer de fome. Você sabe bem que medidas precisam ser tomadas para garantir que todos tenham como se manter nos meses mais frios. Aram ouvia o tio em silêncio, permanecia sentado na mesa da cozinha com um copo de whisky barato nas mãos. A barba estava crescida e sua higiene não era das melhores, era o oposto do Alfa que um dia fora. Passava a maior parte do dia bêbado, sem condições de aconselhar ninguém, quanto mais resolver contendas dos seus tutelados. Ele precisaria de ajuda da Deusa Lua se tivesse que se envolver em algum combate corpo a corpo ou se transformar em fera pois, desde que exterminou quase todo o maldito clã Boram, nunca mais havia se transmutado ou lutado. — Eles não precisam de mim, tio, precisam é de outro Alfa. Um que possa protegê-los, um que possa proteger a própria esposa. Ele falou com a voz carregada de amargura. — Você é o Alfa deles por direito de sangue, todos respeitam isso. Já passou muito tempo e ninguém quis desafiá-lo pela liderança, mas a situação está ficando insustentável, você precisa reagir meu filho. Já se escutam rumores de pessoas querendo partir, famílias inteiras. É isso que você quer? Mulheres e crianças viajando durante o inverno, com poucos suprimentos e a mercê de ataques pelas estradas? Pode aguentar essa culpa nas suas costas? A verdade é que Aram não podia. Apesar de tudo ele ainda se sentia responsável por aquelas pessoas, não podia perder mais ninguém. Especialmente depois de sua vingança contra a matilha, em que todos os lobisomens da região estavam apenas esperando uma oportunidade de atacar um Lycan, ou uma vila inteira deles. Quando passasse o inverno ele decidiria o que fazer, mas até lá o tio tinha razão, ele precisava reagir. — Eu tenho outra coisa para lhe contar. — Disse o ancião se aproximando mais dele, e colocando uma mão em seu ombro. — Você sabe que precisa dar força ao clã para enfrentar o duro inverno, recuperar sua moral perante eles. Eu sei uma forma de você conseguir isso. Uma fêmea membro da matilha que você persegue foi encontrada vagando na floresta a poucos dias, ela disse que foi a única que restou. Um grupo de lobisomens está em poder dela, e eles gostariam de entregá-la a você, em troca de uma trégua entre os clãs. Eu o aconselho a tomá-la como esposa, você precisa de um herdeiro, e um híbrido se tornaria futuramente um Alfa muito poderoso. O conselho aprova essa decisão e julga que é o melhor a se fazer, sua vingança foi sangrenta Aram, se algo não der um basta nisso, muito sangue inocente será derramado. Pela primeira vez ele levantou os olhos do copo e encarou o homem mais velho com uma fúria contida nos olhos. — Tio, como pode sequer mencionar uma coisa dessas? Eu quero essa fêmea, sim, mas para destruí-la assim como fiz com o resto da matilha. Eu jamais conseguiria me casar com ela. — Não seja ingênuo, ela é só uma menina. Apenas recentemente fez dezoito anos, não tem nada a ver com os lobos que fizeram aquela coisa horrível. Eles garantiram que ela é inofensiva, apenas deu azar de nascer na família errada. — Dezoito anos? Mas ela é pouco mais que uma criança, eu já tenho trinta e dois! Aram não queria outra esposa, menos ainda uma que era pouco mais que uma menina. Sua prometida havia morrido, não existia mais nada para ele na vida. E a ideia de desposar uma lobisomem, ainda mais uma que pertencia ao clã Boram, lhe causava náuseas. Não conseguiria conviver com ele mesmo se fizesse aquilo, não poderia se olhar no espelho e se respeitar. Porém, o tio foi enfático que ele precisava reassumir seu lugar e seu poder, ele devia isso ao povo, os anciãos já estavam cogitando incitar uma disputa para um novo Alfa. Mortes aconteceriam, na melhor das hipóteses muitos deixariam o lugar para uma jornada muito perigosa. Ele não podia carregar mais sangue nas costas. Refletiu que, no momento, o melhor seria aceitar a oferta e fazer dela sua companheira. Precisava se lembrar que era o espelho do clã e tudo dependia dele. Aquela união agregaria poder a eles, e ele poderia subjugar uma loba, mostrando que os Lycans eram definitivamente mais poderosos, fazendo-a pagar de várias formas pelo que sua matilha havia tirado dele. Bebeu o resto da bebida que havia no copo em um gole só e se serviu mais, que ingeriu também de um gole só. — Tudo bem, eu vou fazer isso. Mas não sei se a alcateia vai gostar, acho que essa garota vai passar maus momentos por aqui. Eu não tenho muita paciência com crianças. O tio sorriu, aliviado por ele aceitar o oferecimento, aquele era o primeiro passo para retomar o controle de tudo. — Estamos contando com isso, a ideia é que ela descubra rápido porque está aqui. Conto com você para fazê-la saber todos os dias, como nós Lycans somos superiores em tudo e espero que ela aprenda rápido que a situação dela aqui é de subserviência. Você pode ter certeza de que é só ela andar pela rua, que o povo não vai deixá-la esquecer. Você tomou a decisão certa Aram, poderá terminar sua vingança e nós teremos o nosso troféu. Mas por favor, vá tomar um banho e trocar de roupa, assim como está parece mais um mendigo do que o grande Alfa que eu sei que você é. O senhor idoso terminou de falar e se retirou, deixando ele novamente sozinho com seu tão apreciado silêncio. Pelo visto aqueles momentos estavam prestes a acabar, muito em breve ele seria um homem casado novamente, mas dessa vez não com o amor da sua vida, e sim com uma loba juvenil. A garota não poderia ter escolhido uma hora pior para aparecer, logo ela descobriria isso por conta própria.Ao final da reunião, Szafir os acompanhou até a cabana que estavam ocupando desde que haviam chegado ali.— Esse lugar já é apertado agora, imaginem quando chegar o bebê. Tem certeza de que não quer a sua casa de volta?— É claro que não, a cabana é pequena mas a porção de terreno não, planejo cercar e aumentar a casa. Vou aumentando peça por peça, até chegar em um tamanho adequado. Estaremos bem aqui Szafir, mas a promessa de respeito tem que prevalecer. Eu não vou aceitar que Lucine passe por nenhuma hostilidade.Aram foi muito claro com o amigo, que sorriu com seu comentário.— Que novidade, nem quando você dizia que a odiava permitia tal coisa, que dirá agora. Talvez leve um tempo, mas ninguém esqueceu tudo que Lucine já fez por esse clã. Eles amavam a sua Luna, tenho certeza que vão amar outra vez. Ainda mais agora que ela tem o apoio e a proteção do conselho.Lucine saiu da cabana e veio encontrá-los.— Está esquecendo do meu aliado vampiro, Alfa.— Desculpe, mas eu não tinha en
Todos a viram se aproximando da aldeia, e ela não fez questão de se esconder, afinal, teria que revelar tudo o que havia acontecido a todos. Os betas a encaravam, esperando respostas que não obtiveram, enquanto ela se dirigia diretamente ao conselho. Faltava pouco para amanhecer, certamente a notícia de que ela havia saído despercebida e agora voltava para a aldeia já havia se espalhado.Não demoraria muito para os anciões aparecerem para encontrá-la, mas quem chegou primeiro foi um Aram muito bravo.— Onde diabos você estava? No que pensava quando decidiu sair assim pela noite, com essa criatura nos espreitando? Perdeu o juízo Lucine?Lucine seguia em silêncio, sentada na cadeira que a ampara desde que chegou ali. Um cansaço enorme tomou conta de seu corpo, uma sensação de alívio e inquietação ao mesmo tempo. Se por um lado estavam aparentemente livres dos vampiros por algum tempo, a Quimera deixou claro que haviam diversos outros perigos que poderiam vir atrás deles, do seu clã, da
Lucine caminhou com cuidado pela aldeia adormecida, com passos leves, para não chamar a atenção para si. O luar iluminava o caminho entre as cabanas, mas ela se movia nas sombras, evitando os guardas lycans que patrulhavam o perímetro. Quando alcançou a borda da floresta, olhou para trás uma última vez. O perigo que ela iria enfrentar era imprevisível, mas sua determinação em salvar a todos era maior.A floresta estava quieta, exceto pelo sussurro das folhas ao vento. Lucine avançou lentamente, seus sentidos aguçados captando cada som, cada movimento ao seu redor. Se transformou e correu muito em sua forma de loba, visando afastar o perigo da aldeia.Quando já estava considerando que a distância era segura, ela parou e voltou a forma humana. De repente, um farfalhar de folhas à sua esquerda a fez parar. Seu coração disparou, mas ela manteve a calma. A voz que ecoou na escuridão fez seu sangue gelar.— Lucine…Uma voz profunda a chamou das sombras. — Finalmente poderemos nos apresentar
O grupo de betas que Szafir havia selecionado se aventurou pela noite escura, determinado a descobrir mais sobre os vampiros cuja existência recém havia sido revelada a eles.Liderados por Rurik, um lycan astuto e experiente, eles seguiram os passos de seu contato, um velho lobisomem chamado Kael, que possuía conexões valiosas com outros clãs.— Não sei o que o Alfa acha que poderíamos descobrir, esses vampiros devem apagar muito bem seus rastros. Será como procurar uma agulha em um palheiro.Um dos betas desabafou durante o caminho.Rurik esboçou um meio sorriso com comentário do companheiro, antes de responder.— Quando Szafir me falou sobre a missão eu me voluntariei. Esse meu contato pode saber de alguma coisa útil para nós, assim não ficaremos totalmente no escuro.Outro dos seus companheiros também falou— Essa história toda me dá calafrios. Eu sempre achei que conhecia bem o mundo em que vivíamos, mas parece que eu estava enganado.— Você não é o único Tamar, eu acho que está t
Na manhã seguinte, quando eles chegaram à aldeia, Szafir veio recebê-los. Aram havia mandado uma mensagem avisando que estava chegando, a fim de que o Alfa alertasse os anciões e acalmasse os ânimos com o retorno de Aram e da alfa suprema.Obviamente eles encontraram muitos olhares curiosos e de julgamento quando desceram do carro. Szafir pareceu não se importar em absoluto, e deu um longo e caloroso abraço em cada um deles. Rosina estava ao lado dele, Lucine pensou que ela era a mesma pessoa, mas ao mesmo tempo parecia diferente.A amiga lhe deu uma abraço sincero, mas sem muita emoção. Ela tinha uma cicatriz no rosto, resultante do ferimento que havia sofrido no ataque. E o semblante era fechado.Os olhares direcionados a eles pelos demais não eram em nada amistosos, mas Lucine não se deixou intimidar. Havia muito mais em jogo, havia um perigo iminente, que todos precisariam enfrentar juntos.Szafir pareceu finalmente se dar conta do ventre avolumado dela, e sorriu com surpresa.— V
O sol começava a se pôr quando Aram chegou na casa de Lucine, após sair da oficina. Ela havia tirado o dia de folga, mas o que seria um momento de descanso se tornou um tormento. Quando ele entrou em casa, Lucine estava andando de um lado para o outro da pequena sala.Lucine olhou para Aram, seus olhos refletindo preocupação.- Aram, essas ameaças estão ficando mais sérias a cada dia. Precisamos fazer algo antes que seja tarde demais.Aram concordou, franzindo a testa.-O que foi, aconteceu alguma coisa? Em todas as vezes que nos falamos você disse que estava tudo bem.-Eu não queria te preocupar, mas recebi algumas mensagens ao longo do dia. O pior, ele deu a entender que sabe onde fica a aldeia das montanhas, e que eles também estão na sua lista. Esse psicopata sabe exatamente quem somos Aram.-Lucine, porque não me disse nada? Não podemos subestimar esse vampiro. Se ele realmente souber onde está a aldeia dos lycans, todos estão em perigo.Lucine suspirou, preocupada.-Precisamos e
Último capítulo