Em um sonho trespassado por sombras, Donaldo via-se imerso em um bosque de murmúrios antigos. Entre os esqueletos retorcidos das árvores, um vulto mascarado dançava, seus gestos tão fluidos quanto sinistros — um arauto do caos ou espectro de algum abissal delírio. A noite, outrora silenciosa, era rasgada por uma escuridão pulsante, lampejante, como se o próprio abismo cuspisse fagulhas de trevas.
E então... movimento. Um borrão fugidio, nascido das entranhas das sombras, desprendia-se como um suspiro da noite. E dela, como uma aparição condenada a eternamente retornar, emergia Clara.
Clara.
Seu nome ecoava como uma maldição adocicada. Fantasma de um amor putrefato, ela surgia envolta apenas no véu da lua — bela, graciosa, e nua, carne e memória enleadas. Seus olhos, frios como lápides, carregavam o peso de todas as palavras não ditas, de todos os beijos que haviam se transformado em facas. Ela, outrora esposa, agora apenas um espectro de desejos enterrados e promessas apodrecidas.