Capítulo 6

      Acordei sentindo falta de ar e qundo abro os olhos Vega está com os braços em volta de mim e me aperta como se fosse um urso, eu tento me libertar de seu aperto mas assim que me movo ele reage apertando mais e suspira em meus ouvidos, sabendo que tentar sair seria uma tentativa em vão eu resolvo ser mais prática.

Nyele- Vega, acorde, está me apertando.

Vega- Só mais uns minutos, está cedo. -ele parecia não estar acordado mesmo falando.

Nyele- Acorde !

      Eu digo mais alto e me mexo com mais vigor, então ele acorda em um pulo e eu sinto o ar voltando para os meus pulmões, respiro fundo e lanço um olhar de reprovação para ele, que faz uma cara como se se desculpasse.

Vega- Perdoe-me, você parecia um grande travesseiro de noite, tão macia e quente, eu não vi diferença, o sono deve ter nublado meus sentidos.

Nyele- Claro, claro.

Vega- Não foi minha intenção realmente, mas deixemos isso de lado, venha tomar café com os outros, devem estar esperando, na cômoda tem um vestido para você, estarei na porta lá fora te esperando.

    Ele passa as mãos pelo cabelo ajeitando minimamente os fios que saiam da trança longa, sua silhueta volumosa some pela porta em poucos instantes me deixando para me arrumar, eu pego o vestido e o admiro.

      Me lembrava o estilo pirata, eu o peguei e fui para o banheiro me trocar, eu tirei meu vestido e lembrando da noite passada eu devo ter deixado a cama um pouco molhada pois meu vestido ainda está um pouco úmido, coloquei o outro e saí rapida...

      Era bem confortável e se ajustou muito bem ao meu corpo, tendo tudo pronto eu saí e encontrei Vega encostado na parede ao lado olhando para o mar e ao me ver acena para que possamos ir à cozinha, vamos descendo as escadas e na cozinha todos nos olham até que nos sentamos na ponta de uma das mesas e então começamos a comer. Tudo se passou tranquilo, algumas conversas que eu não consegui decifrar mas nada que me incomodasse, a rotina foi a mesma, práticas sobre o que fazer em alto mar, dentro do navio e caso acontecesse algum incidente, nada difícil, eu me adaptava rápido. Na hora do jantar eu fui seguindo Vega novamente para a cozinha e nos sentamos, mas eu percebi que nenhuma bebida era sem álcool, o cheiro forte me mostrava isso, então fui comendo sem beber nada.

Vega- Não vai beber minha querida ?

Nyele- É que eu nunca bebi nada que tenha álcool.

      Os homens riram baixo e com um olhar Vega faz com que eles parem, ele aproxima um pouco o rosto do meu e fez uma expressão pensativa e depois se afasta com uma de divertimento, dá um aceno para o homem a sua direita, ele sorri e coloca um líquido escuro em um copo, ele estende ao seu capitão que pega e me dá.

Nyele- O que é isso ?

Vega- Bom...- ele olha para o homem sorrindo e depois para mim- isso é rum.

Nyele-Eu não posso beber isso.

Vega- Aqui você pode.

Nyele- Mas...

Vega- Está com medo ? -ele provoca para me motivar.

Nyele- Não, me dê isso.

        Eu ergo devagar e reparo que os homens a minha volta estão me observando e quando olho para Vega ele me incentiva com um aceno de cabeça, então eu bebo rapidamente sentindo minha garganta queimar, faço de imediato uma careta e os homens riem junto de Vega, coloco o copo na mesa e sem aviso Vega se levanta animado colocando uma mão em meu ombro, seus marujos se levantam da mesa com ele e nos rodeiam gritando aparentemente felizes e empolgados, eu olho para Vega e ele me olha com divertimento e orgulho, eu sorrio e ele me levanta para que fique ao seu lado e passa o braço em minha cintura deixando nossos corpos próximos.

Vega- Homens, agora ela é uma de nós! -eles urram e erguem as mãos- Dêem as boas vindas, porque ela será a minha rainha, mais uma para a nossa companhia !

        Eles gritam de alegria em comemoração, olho pra cima para o rosto de Vega e em seus olhos vejo um brilho.

         Todos formam um círculo a nossa volta e Vega me coloca a sua frente, eles mostram sorrisos e em sincronia batem o punho em seus peitorais.

Homens- Bem vinda aos Hidra!

         Eu olho para Vega e ele balança a cabeça positivamente.

Nyele- Obrigada, mas eu não vou me tatuar. -digo com um pequeno riso que é seguido pelo riso dos outros no ambiente.

Vega- Não será preciso, eu não mudaria em nada sua pele, para você eu tenho outro presente, Karl.

         Um homem some e volta trazendo uma caixa que Vega pega e abre me mostrando.

         Um homem some e volta trazendo uma caixa que Vega pega e abre me mostrando

Nyele- É lindo.

Vega- Pegue, é seu, use sempre, é o símbolo de que você é uma de nós e de que você é minha prometida. -ele chegua perto do meu ouvido para sussurrar- Só para já deixar garantido, use por enquanto.

       Eu pego ergo a manga e coloco o bracelete abaixando em seguida, todos aplaudem e um homem moreno todo definido se aproxima da mesa.

Vega- Esse é Jason, o segundo no comando do meu navio e um grande amigo.

Jason- Grande prazer minha dama. -ele pega minha mão e deposita um beijo rápido.

Vega- Nem comece, tire seus olhos que ela não está disponível ouviu ? -ele brinca.

Jason- Claro meu amigo.

Vega- Vamos continuar a comer.

        Todos voltaram a mesa para comer, eu me sento no mesmo lugar sentindo o bracelete sobre minha pele.

      Após o jantar Vega me acompanhou até onde Jason regia o timão, ele me mostrou o mar e o horizonte, eu, fascinada caminhei até a borda e segurei no navio, a água brilhava em um azul profundo e eu vi a luz da lua refletida nas ondas fazendo do mar um grande espelho de cristal, com essa imagem eu suspiro admirada com tanta beleza, Vega pôs a mão no meio das minhas costas e chegou perto do meu ouvido falando doce.

Vega- Isso tudo é meu e agora eu quero compartilhar com você.

Nyele- É maravilhoso, eu não sei o que dizer...

Vega- Diga que aceita.

Nyele- Eu aceito, dividir é claro, mas isso não é um sim para sua proposta inicial.

Vega- Poxa eu não sou tão mau assim, posso te dar muitas coisas e ser alguém em que você pode confiar.

Nyele- Talvez... Mas você mesmo assim quer uma coisa que não está nos meus planos e ainda assim me faz ficar aqui, mas temos nosso acordo, por isso estou tranquila. 

Vega- Você é persistente, isso misturado a sua beleza deve chamar a atenção, nunca teve nenhuma proposta de outro homem ?

     Viro me apoiando de costas no navio e ficando de frente para ele tendo uma visão mais clara de seus olhos e respondo com calma e sinceridade. 

Nyele-Não.

Vega- Uma dama prisioneira de sua casa, até que é liberta por um belo cavaleiro, é quase como um conto de fadas não é ?

Nyele- Claro, só que você não é um cavaleiro.

Vega- Ah então concorda que sou bonito, já é alguma coisa.

Nyele- Apegue-se no que quiser. -eu rio com sua fala.                                                        Vega- Venha, logo a brisa esfria.

    Me puxou pela mão até a cabine e lá ele fechou a porta mas sem trancar, Garul estava no canto dormindo, mas levantou a cabeça quando chegamos, Vega se senta na cama encostando-se na cabeceira me olhando, eu seguro seu olhar e ele aponta para que eu me sente a sua frente na cama, eu sento no meio da cama e fico fitando-o curiosa enquanto ele se acomoda, ele pega sua longa trança e a coloca na frente de seu ombro e erguendo a cabeça para me olhando.

Vega- Por que tanto me olha ?

Nyele-Não posso ?

Vega- Claro, eu sei que você não consegue desviar seu olhar de mim- diz isso com um sorriso maroto nos lábios.

Nyele- É claro que consigo.

       Viro meu rosto para não precisar olhá-lo, ouço seu riso e o balanço da quando volto minha atenção para ele, estamos a centímetros de distância, seus olhos estão vidrados nos meus e eu me sinto como se olhasse diretmente para os olhos de uma cobra, hipnotizada e presa, mas quebrando a ligação ele me prende em um abraço caloroso e firme.

Nyele- Poderia me soltar por favor ?

Vega-Não estou com vontade.

Nyele- Me deixe ir, você é o quê, uma criança ?

Vega- Talvez, o que me dará em troca ?

Nyele- E o que você quer ?- perguntei já presumido o que ele diria e pronta para negar.

Vega- Quero conversar.

Nyele- Sério? É isso ? -me surpreendo com o seu pedido.

Vega- Sim, a não ser que você queira algo mais, a qualquer momento eu posso mandar fazerem uma cerimônia para nós.- disse brincalhão mas com certa faísca encoberta.

Nyele-Não, tudo bem, conversar parece ótimo.

         Eu toco seu peito o afastando e ele ri me dando espaço e retornando ao seu lugar, eu me recomponho e sento esperando que comece a falar, mas sem uma real iniciativa.

Nyele- Então... Por onde quer começar ?

Vega- Comece você, o que quer saber sobre mim ?

Nyele- Eu não tenho muita curiosidade.

Vega- Qual é, eu sou um cara interessante, se não tem curiosidade me peça algo inesperado.

Nyele- Eu posso tocar no seu cabelo ? -disse a primeira coisa que me veio a mente.

        Não sei porque pedi algo tão simples, mas vendo a situação melhor até que não foi uma escolha ruim, seu cabelo era bonito e parecia bem tratado apesar do dono não parecer tão vaidoso, ele ri com a minha escolha inusitada e então se aproxima aos poucos nos deixando próximos novamente, sinto calor emanar de sua pele queimada de sol e um aroma fresco, como menta fresca misturada ao sal do mar, era um cheiro gostoso e que preenchia o meu olfato, ele se vira de costas para mim e joga a trança para trás me permitindo mexer em todo o comprimento eu respiro fundo e passo a mão levemente nos fios, eram macios, um sorriso se forma em meu rosto e então pego sua trança entre minhas mãos e a massageio, inebriada pelo seu cheiro eu só deixo minhas mãos seguirem sem pensar, destranço devagar sentindo toda a extensão, primeiro as pontas, o comprimento e depois na raiz, pego e solto com cuidado várias vezes, imersa no que estava fazendo e no cheiro que tomava cada vez mais o ambiente eu me aproximo mais, mas sou tirada do transe com Vega falando.

Vega- Gostou ?

Nyele- Sim.

Vega- Bom, mas agora...como foi sua infância ?

Nyele- O que ?

Vega- Como foi sua infância ? Lembra que íamos conversar ?

Nyele- Aaa, minha infância... Foi solitária, eu não podia sair de casa e como meu pai tinha a taverna eu também não pudia descer, eu só tinha minha mãe às vezes para brincar ou conversar quando ela não estava trabalhando também, mas na maioria das vezes eu estava sozinha, ficava lendo ou olhando pela janela o porto e o mar enquanto eu sonhava acordada.

Vega- Sonhava com o que ?

Nyele- Com o dia em que eu poderia sair e conhecer o mundo, ver até onde o mar poderia ir, olhar de perto as águas brilhantes do oceano e talvez até achar alguém que compartilhasse isso comigo.

Vega- Tão nova e já pretendia se casar ?

Nyele- Não, eu jamais quis me casar, decidi a muito tempo que não faria isso.

Vega- Por que ?

Nyele- Isso significaria que eu teria que ficar presa a alguém, jamais serei presa, não deixarei que ninguém tire minha liberdade, eu não pertencerei a ninguém e não admitirei ser submissa nem que custe a minha vida, prefiro a morte do que a escravidão e submissão.

Vega- Você tem um espírito livre, entendo, saiba que está livre em meu navio.

Nyele- Claro, eu estou livre, só não posso voltar para casa e sair de seu navio até que o contrato termine. 

Vega- Não pense assim, eu também priorizo a liberdade, não tenho escravos, nem mesmo de batalhas.

Nyele- Mas é claro, não lhe restou  nenhum, dizem que quem vai contra vocês acaba tomando chá com os peixes.

Vega- Não é só por isso, eu não tenho escravos por que sei como é a escravidão.

         Seu tom ficou sério, eu parei de mexer nos fios, tínhamos chegado a um ponto delicado e eu não sabia se gostaria de continuar nesse caminho, então após uns segundos de silêncio Vega o quebra.

Vega- Você gostaria de saber da minha infância ?

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados