Parei de contar os dias aqui dentro, o tempo se dissolve como se estivesse mergulhado em ácido. Os minutos corroem, as horas pesam. Só o que ainda pulsa é a lembrança da Jade.
A dor do último espancamento ainda arde em alguns músculos, mas já aprendi a esconder. Aqui dentro, mostrar fraqueza é abrir o próprio túmulo. Mesmo assim, algo mudou. Desde aquela noite em que quase me deixaram quebrado no chão, alguns olhares mudaram. Um dos caras mais antigos, um tal de Batista, um negão forte, careca, com um olhar que vê tudo, começou a me observar de outro jeito.
Hoje, na hora do banho de sol, ele se aproximou. Caminhava devagar, com um cigarro no canto da boca, sem pressa nenhuma. Eu estava sentado num canto, o rosto meio virado pro sol, olhos fechados.
— Tá se recuperando bem, Soldado? — ele perguntou, com aquele tom irônico que todo mundo aqui tem.
Abri os olhos devagar, sem querer mostrar que estava alerta.
— Vai passar — respondi, sem emoção.
Ele se abaixou, agachado na minha frente