A Fuga

─ Com certeza, meu amor. Isso é o que eu mais desejo fazer neste momento!  John entende a malícia em suas palavras, mas se mantém discreto e não dá a entender que compreendeu a sua insinuação para ele e pergunta-lhe novamente. Lívia, percebendo seu desinteresse, disfarça e diz:

─ Digo, estou aqui para ajudá-lo, querido! O que eu posso fazer por você?

 ─ Eu estou querendo informação sobre uma paciente que eu deixei aqui ontem à noite! 

─ Qual o nome dela, meu amor?

─ Ela foi registrada com o nome de Elizabeth! 

 ─ Espere um pouco, por favor, meu amor. E em voz baixa, quase sussurrando, ela procura em seu computador pelo nome de... Elizabeth...

─ Teve sim uma moça registrada com esse nome aqui no hospital ontem à noite, precisamente às 11h45min, mas ela não se encontra mais aqui neste hospital.

John até se assusta com a notícia que ele recebe de tão surpreso.

 ─ Como é? Deve haver algum engano; ela estava inconsciente quando eu a deixei aqui, e só fui embora ontem depois de falar com o doutor Osmar! Por acaso, eu posso falar com o doutor que estava ontem aqui? Por favor! 

─ Eu lamento muito, meu querido, mas o doutor Osmar, que era o médico que estava aqui ontem à noite, não está presente nesse horário. O plantão dele é à noite, mas você pode falar com o doutor Roberto, que é quem está atendendo neste horário!

─ Tudo bem! Chame-o, por favor!

 ─ Eu vou chamá-lo! Disse Lívia. E logo em seguida o doutor Roberto ouve a mensagem em seu nome, a qual diz que ele deva se dirigir à recepção do hospital para esclarecimentos sobre a saída de um paciente. O doutor Roberto é médico recém-formado, e há pouco tempo foi transferido para esse hospital; ele vem de uma família de grandes médicos. Antes dele, foi o seu pai; e antes de seu pai foi o seu avô que haviam construído a boa reputação de sua linhagem de bons médicos. Ele ainda não fez grandes procedimentos hospitalares que envolvessem grandes responsabilidades médicas, e ainda não teve que atender nenhum paciente grave, afinal há pouco tempo havia recebido a responsabilidade de medicar, mas, devido ao quadro de funcionários do hospital ser composto por apenas dois médicos, eles dividem a missão de estar no comando do hospital quando é necessário. Diretor e também médico, o doutor Osmar Monteiro se ausenta por algum período do hospital. Chegando à recepção, o doutor Roberto é abordado por um rapaz muito nervoso e preocupado, então o médico pergunta à recepcionista o que está acontecendo.

─ O senhor é o doutor Roberto? Pergunta John.

─ Sim! Sou eu, mas o que posso fazer pelo senhor, cidadão?

 ─ Doutor, eu deixei uma moça aqui ontem à noite! Ela estava inconsciente, e o médico me falou que ela iria ficar em observação! Que nada iria acontecer com ela, enquanto ela estivesse aqui! E hoje, quando eu chego à recepção, me dizem que ela não está mais aqui, e me falam que ela foi embora, e eu pergunto: como pode ser isso? Eu quero uma explicação a respeito, e quero agora! Doutor Roberto calmamente lhe respondeu:

─ Olha moço, o senhor tente se acalmar, por favor! Venha comigo. Vamos até a minha sala. Gostaria de falar com você em particular; lá em minha sala irei lhe explicar tudo o que sei ou pelo menos tudo o que me foi repassado sobre esse assunto!

Então os dois caminham até uma pequena sala, que fica a mais ou menos três metros da recepção, após passar pela porta de entrada da sala do doutor, que na verdade é o seu consultório; na entrada, pode-se perceber que no meio da sala há uma mesa grande com quatro cadeiras; no canto esquerdo da sala, um frigobar branco embutido em uma espécie de mesa feita em alvenaria; em cima do compartimento feito para acomodar o frigobar, uma pedra de granito preto com alguns pigmentos embranquecidos, em que se podem notar alguns adesivos; e, em cima do granito, uma cafeteira elétrica, que dava para perceber que ainda continha meia jarra de café ainda quente e saindo fumaça, indicando que há pouco tempo havia sido desligada. Atrás da mesa, três quadros dividem o espaço da parede de cor branca; o quadro que fica à direita contém uma foto de um homem vestido com uma bata na cor branca, já bem idoso, esboçando um grande sorriso, dando a ideia de felicidade e a certeza ter tido o seu dever cumprido! Já o quadro da esquerda mostra a foto de um homem, um pouco mais jovem, que porta um estetoscópio sobre seu pescoço e que faz um gesto de positivo com as mãos, deixando transparecer em seu gesto a imagem de que ainda há caminho a percorrer, seguir em frente, em plena harmonia e com amor pela profissão escolhida; e finalmente no centro, entre um quadro e outro, um quadro de menor tamanho mostra a imagem de um jovem também em vestes brancas e portando um instrumento médico sobre os ombros, que é um estetoscópio, instrumento que identifica um profissional que atua na área da medicina. Esse esboça em sua foto um enorme sorriso de satisfação levando-se em conta sua trajetória e a sua linhagem, e essa felicidade pode sugerir um bom começo na carreira escolhida, que está apenas começando.

John entra no consultório, o médico pede a ele que se sente em umas das cadeiras, que estão ao redor da grande mesa no centro da sala. John senta-se e ouve atentamente a explicação que o médico lhe dá:

─ Bem, senhor John Kenny, nós levamos muito a sério o trabalho que prestamos neste hospital, e sempre gostamos de prestar contas de nossas ações para com as pessoas que aqui nos chegam precisando de ajuda. E com bastante transparência fazemos isso. Realmente nós tivemos internada aqui neste hospital uma paciente até então identificada somente como “Elizabeth”; não nos foi dado o sobrenome dela. Foi possível saber de quem você está falando, porque só tínhamos uma única paciente com esse nome de “Elizabeth”. Eu não estava presente no horário desse plantão, e o meu é sempre durante o dia; nesse horário o plantão era feito pelo doutor Osmar Monteiro; eu chego aqui sempre pela manhã; e hoje, quando cheguei para cumprir meu turno de trabalho, o doutor me chamou em sua sala e me relatou o que se passou aqui. Segundo as suas próprias palavras, foi assim que aconteceu: depois que a paciente em questão ter sido deixada aqui, ela foi examinada, e nada foi encontrado em seu corpo. Nada mesmo; sequer ferimento, então não havia a necessidade de administrar qualquer medicamento que fosse, então foi dada a ordem à enfermeira que iria ficar responsável pelos cuidados daquela ala do hospital, sendo necessário que se fizesse monitoramento da paciente Elizabeth, que iria ficar em observação, daí o doutor foi para a sua sala. Como não tinha nenhum paciente para ele atender, ficou na sua sala e até dormiu um pouco, de forma que a enfermeira o iria chamar caso a paciente acordasse, após as duas horas da madrugada, algum tempo depois de ela ter sido deixada no leito, porque, segundo o doutor Osmar, ela não esboçava nenhum movimento, mesmo o médico mexendo em seu corpo. Tudo indicava que ela estava dormindo, e seus batimentos cardíacos e seu pulso estavam normais.

De repente, nesse horário que lhe falei, lá pelas duas da madrugada, ela acordou, levantou-se e saiu do quarto andando pelos corredores do hospital. Ela quis ir embora, e os funcionários do hospital ainda tentaram levá-la de volta para o leito, mas foi inútil: ela não quis voltar, forçou a sua saída, e não tivemos como impedi-la de sair, afinal não temos como obrigar uma pessoa a permanecer aqui contra a sua vontade, mesmo estando doente ou ferida, que não era o caso daquela mulher; depois, segundo o doutor Osmar, ela estava muito bem de saúde, tirando o fato de ela estar inconsciente ou dormindo como foi dito. Ela nem parecia a mesma pessoa que entrou aqui. Quando deram por falta dela no leito, a enfermeira que estava responsável por ela a procurou por vários leitos do hospital sem encontrar; e, depois de muito procurá-la, encontraram-na mexendo em um computador na sala de informática do hospital. Aquela sala nunca fica aberta, e ninguém tem permissão de entrar naquela sala à noite; ainda mais deixá-la aberta, mas parece que, por algum motivo que desconheço, ela achou essa sala aberta ontem; pelo que me relatou a enfermeira, após encontrá-la, ela estava mexendo em um de nossos computadores. O técnico que cuida dos computadores do hospital esteve aqui logo pela manhã para ver se ela tinha causado algum dano ao equipamento.

Ao analisar o computador que ela havia usado, ele disse que ficou até surpreso com o conteúdo que ela acessou; ele nos disse que parece que ela tem um grande conhecimento em informática, pois, com o pouco de tempo em que ela ficou lá ao computador, ela fez uma infinidade de pesquisas na Internet, abriu alguns cursos de idiomas, como se ela estivesse querendo aprender a falar o nosso idioma, e outros vários idiomas do mundo. Veja você mesmo: esse vídeo foi feito pela câmera de segurança que instalamos recentemente na sala de informática. É espantoso! É muito rápido, como se ela estivesse estudando tudo sobre a gente, ou sobre a vida na Terra; ela pesquisou sobre países, seus idiomas, seus costumes, seus modos de vida, seus meios de transportes, como dirigir carro, como as pessoas se relacionam umas com as outras. E por fim pesquisou um endereço determinado, Isso é mesmo muito estranho. Tudo o que ela pesquisou seria apropriado a uma pessoa que não soubesse nada sobre o nosso planeta. Onde você a encontrou? Pergunta o médico.

O que eles não sabiam era que a jovem havia feito uma viagem muito longa, interplanetária, em uma nave espacial e a teria programado para vir em direção a terra, e por ser uma viagem longa era preciso hibernar durante a viagem, viajando na velocidade da luz durante esse trajeto ela poderia ter sofrido uma espécie de esquecimento, perdido algumas lembranças, por isso a necessidade de rever tudo novamente, a nave a deixou envolvida ainda no casulo naquele lugar e retornou ao planeta de origem.

 ─ Eu a encontrei na estrada. Pensei que ela tinha sofrido um acidente. Ela estava inconsciente, por isso não tive como saber nada a seu respeito! Respondeu John. E o doutor Roberto continuou:

─ Pois, é meu rapaz. Nós nada podemos fazer por você neste momento; esperamos que você nos compreenda: fizemos tudo o que estava ao nosso alcance, mas, infelizmente, esse fato nos deixou impotentes perante os acontecimentos. Lamentamos e desejamos que o senhor possa encontrá-la, embora, pelo que pudemos observar na filmagem, acredito que não é uma boa ideia não. Seja ela quem for, é muito autossuficiente, ou seja, ela pode se cuidar muito bem, disse o doutor Roberto. E, com essas explicações dadas pelo doutor, John saiu do hospital, mais triste do que quando chegou, agora mais confuso e cheio de perguntas a fazer: Que história louca era essa na qual ele havia se envolvido? E, como ele está envolvido, gostaria de não mais querer procurá-la, porém seu coração sangrava de compaixão, desejando achá-la de novo. Para John, não havia outra solução, senão encontrar aquela mulher misteriosa e encantadora, mas por onde deveria começar a procurar? Se ninguém sabia em qual direção Elizabeth foi, aonde ele deveria ir? Essa é a sua maior dúvida de muitas outras que ele tinha, e sem nenhuma resposta naquele momento!

John estava no meio de um enigma, sem rumo a seguir, a noite já se aproximava, e ele teria que escolher um caminho para seguir em busca de encontrar Elizabeth. Seus pensamentos voavam em busca de respostas, todavia essas perguntas não tinham como ser respondidas, pelo menos naquele momento. Sentado em seu carro, parado à beira de uma estrada, o rádio ligado, uma canção a tocar; a melodia fala de um amor entre um homem e uma mulher que se encontram e logo se apaixonam; e, por ironia do destino, são separados pelos pais, deixando apenas as estrelas para contemplarem o amor, esse amor que traz um sentimento (um amor além das estrelas); e John se põe a olhar para o céu, para as estrelas, fazendo um pedido em seu coração por meio de seus pensamentos, clamando uma direção para seguir, afinal seu coração está sofrendo, e só existe uma cura para essa dor, que é encontrar aquela que tirou seu sossego, que trouxe alegria e depois tristeza; que trouxe certezas, depois incertezas; que antes lhe deu novamente um sentido para viver, mas depois transformou tudo em solidão. John só havia sentido algo tão forte assim por alguém, uma única vez, porém a havia perdido, por isso jurou para si mesmo nunca mais sofrer outra vez, então não entendia como ele podia permitir que o seu coração o machucasse tanto. Em seus pensamentos, ele pede para as estrelas que o guiem por esse caminho que ele tem para percorrer. Sem perceber, ele faz seu pedido para as estrelas em uma noite em que elas brilhavam com tanta intensidade como se o estivessem a observar naquele momento; e brilhavam tanto como se elas tivessem apenas mais uma única noite para luzir.

John, deitado sobre o capô de seu carro, fica a admirá-las; e nessa noite só as estrelas iluminam os céus e sua grande paixão. Ele se põe a pensar: será que a resposta de que tanto preciso encontrarei aqui? E, se nesses momentos a mágica acontecesse, como se tudo que eu precisasse saber fosse respondido, que as minhas perguntas tivessem respostas; isso só as magníficas estrelas podem me responder! E então, como se fosse um aviso, uma estrela cadente rasga os céus indo em direção ao sul de sua localização; como se ela estivesse mostrando a ele o caminho que ele deveria seguir; como se dissesse ao seu coração a direção que ele deve seguir. Isso dá outro alento a seu coração; ele sente que foi um recado, um recado dos céus para ele seguir. Com toda certeza, ele irá seguir, mesmo que esse caminho o leve a lugar algum. Ele o seguirá, mas, naquele momento, John se encontra muito cansado e adormece de repente, e logo se encontra vagando em um mundo de sonhos, em que se vê como um grande negociante de pedras preciosas; e nesse sonho ele busca encontrar as mais raras de todas as pedras, uma pedra que ele ainda nem viu, mas sabe que existe. Outro que trabalha no mesmo ramo como negociador de pedras preciosas confessou para ele que essa pedra tem poderes milenares, mágicos, e é de um valor incalculável; que essa pedra tem poder de dar amor, riquezas e felicidades sem limites a quem a possuir. Em seus sonhos, John viaja pelo mundo inteiro em busca de encontrar a tão desejada pedra. Em suas buscas, ele passa por inúmeros perigos, mergulha em águas profundas, entra em cavernas escuras infestadas de insetos e morcegos, atravessa enormes florestas de mata fechada e nunca exploradas, é perseguido por índios, é roubado por bandos de ladrões, até encontrá-la em umas ruínas antigas e abandonadas.

Depois de tanto procurar e passar por tantos perigos e provações, em seus sonhos, John descobre que a valiosa pedra não pode deixar as ruínas onde se encontra, pois a pedra, além de ter um grande valor comercial, também é portadora de uma grande maldição: enigmaticamente simboliza as almas dos habitantes daquele lugar, dos vivos e dos mortos, que um dia viveram naquele lugar, por isso é preservada por uma tribo de índios que acreditam fielmente que, se a pedra sair das ruínas onde ela se encontra, o deus a quem eles temem irá se revoltar e destruir toda a sua tribo. Após John fazer essa descoberta, ele simplesmente a deixa onde a encontrou, mesmo ele tendo passado por tanto perigo para encontrá-la.

O dia amanhece, e os primeiros raios de sol batem em seu rosto fazendo-o despertar, dizendo que é hora de partir, pois o caminho é longo, e o destino é incerto, mas a certeza de chegar é contagiante, e ele partiu em direção ao sul de sua localização. Agora nada pode se pôr em seu caminho, nem desviá-lo dele, caminho que ele acredita ter-lhe sido dado pela estrela cadente que riscou o céu na noite passada. Ele acredita na mensagem; acredita que vai encontrar quem ele tanto anseia, quem ele tanto ama; agora John já está na estrada, há mais de duas horas sem parar; o vidro do carro aberto, o vento batendo em seu rosto, a certeza em seu coração lhe confirma a direção certa a seguir,  um longo caminho a percorrer, e seu carro possante corre incessantemente sem reclamar; nem um barulho diferente que não seja apenas o ronco do motor; um mestre no volante sempre no comando do possante, como se os dois fossem apenas um.

As horas passam, seu corpo enfraquecido pelas horas dirigindo sem parar precisa de alimento, seu estômago reclama e o faz parar. Há de haver uma parada para saciar sua fome, e logo à frente se pode ver um restaurante de beira de estrada, e o local parece ideal para repor energias perdidas nessa longa estrada, uma pisada no freio, uma parada no acostamento, uma puxada na maçaneta da porta, e sai John do carro. Uma boa esticada nas pernas, tão doloridas por estar tanto tempo sentado na mesma posição. Entra ele no restaurante, percebendo muitos olhares curiosos em sua direção; ele é só mais um estranho que tem fome, como todos os outros que ali estão. Senta-se a uma mesa que fica próxima à janela, da qual dá para ver toda a paisagem lá fora, e logo a garçonete lhe traz o cardápio. Bella é seu nome, e ela lhe dá as boas-vindas dizendo:

─ Bem-vindo, senhor. Esteja à vontade!  John agradece, pega o cardápio de suas mãos e olha para ver o que eles têm a lhe oferecer. Todos os pratos que fazem parte do cardápio têm uma sequência de números de um a dez; pode-se escolher entre carnes, frangos ou peixes acompanhados de feijão, arroz, macarrão, salada, farofa e uma porção de macaxeira frita. John escolhe o prato de número três, que lhe dá direito a saborear a deliciosa carne assada de panela, uma saborosa escolha.

Cinco minutinhos após o pedido ser feito, vem em sua direção uma bela garçonete cuja beleza faz jus ao seu nome – Bella Monter. Essa linda garçonete adora o trabalho que faz ao longo de seus cinco anos nesse lugar. Bella se dedica a servir seus clientes com a maior satisfação, sempre alegre, sempre sorrindo; nunca perdeu um só cliente; ela já até ouviu inúmeros convites e pedidos de casamentos, mas não poderia deixar seu local de trabalho, até porque ela é a proprietária do lugar. Bella herdou o local de seu pai há pouco mais de dois anos, quando foi acometido por um infarto fulminante deixando-a sozinha para cuidar do restaurante; apenas há a ajuda de sua mãe, que tem a responsabilidade de fazer a comida, enquanto Bella a serve e cuida do caixa. As duas dão conta do trabalho e moram nos fundos do restaurante, em um espaçoso apartamento construído por seu pai. John a observa enquanto ela se aproxima de sua mesa. Bella é realmente uma linda mulher, que sempre desperta desejos de muitos homens que por ali passam, mas não o de John, pois seu coração já está prometido a outra mulher; em outros tempos ela realmente seria uma bela conquista, mas agora John só tem vontade de encontrar uma única pessoa: Elizabeth. Bella chega, serve o seu almoço:

─ Você deseja mais alguma coisa, senhor? John a fita nos olhos e diz:

─ Obrigado! Mas, sim, gostaria de saber qual a cidade mais próxima daqui? Bella responde:

 ─ Moço, a cidade mais próxima daqui está um pouco longe, a pelo menos uns três dias daqui, mas o senhor pode fazer duas paradas antes; há dois pequenos povoados em seu caminho. Isso se o senhor se mantiver na estrada principal. Depois dos dois povoados, o senhor vai encontrar a cidade de Americana; lá já é cidade grande! Mas que mal lhe pergunte: o senhor procura o que por aqui?

─ Bem, como posso lhe dizer... Eu procuro alguém! Uma jovem amiga! Eu a deixei em um hospital, na cidade de Novo Paraíso, para uma consulta; e, quando voltei, ela tinha ido embora.

 ─ Mas como assim foi embora? Pergunta-lhe Bella. Vocês brigaram antes?

 ─ Não! Nós estávamos muito bem. Pelo menos não brigamos. Na verdade ela não estava tão bem, pois a encontrei desmaiada na estrada; eu estava passando e a vi caída. Parei, coloquei-a no meu carro e a levei ao hospital; eu a conheço, mas ela não me viu até então; talvez ela não se lembre de mim, mas eu a conheço muito bem.

 ─ Como o senhor a conhece, e ela não se lembra do senhor? Ela está com amnésia? 

 ─ É complicado de explicar!

─ O senhor tem uma foto dela? Pergunta-lhe Bella. Eu posso mostrar a foto a outras pessoas que estão aqui. Se ela passou por aqui, alguém vai lembrar!

─ Não! Não tenho nenhuma foto dela!          

Ele havia se esquecido da copia que tinha pedido durante a sua estada no hospital

─ E como ela é? Você pode descrevê-la para mim?

─ Sim! Ela é loira, cabelos longos até a cintura, mais ou menos um metro e setenta e oito, pele clara, olhos verdes, linda. Ela é assim!

─ Nossa! Com essas características, difícil é alguém que a viu não lembrar. Bella anotou toda a descrição dada por John e logo pediu a atenção de todos que ali se encontravam para saber se alguém tinha visto, ou se sabia de alguém que tinha comentado sobre uma pessoa com essas características, porque uma mulher com essas características dificilmente passaria despercebida. Ela fala com todos que estão no restaurante, descreve compassadamente o que lhe foi dado e espera a resposta, logo um cliente se manifesta dizendo:

─ Eu sei de algo que talvez possa ajudá-lo. Eu ouvi falar de uma mulher parecida com essa descrição que você falou. Sei que ela pegou uma carona com um caminhoneiro dias atrás, um amigo meu. Ele me contou que viu essa mulher caminhando sozinha na estrada, à noite; ficou com um pouco de medo, mas ela deu com a mão para ele parar, e ele parou, então ela pediu que ele a deixasse na cidade mais próxima. Ele disse que sim; ela entrou no caminhão, sentou-se e ficou em silêncio. Ele disse que ela era muito bonita, a mulher mais bonita que ele já viu, aí ele resolveu puxar assunto com ela, perguntou de onde ela estava vindo, àquela hora da noite, sozinha, e naquela escuridão. Ela lhe respondeu que tinha vindo com uns amigos e que eles a haviam deixado ali para conhecer sobre as pessoas deste planeta, como nós vivemos, saber sobre nós, saber como nós nos relacionamos uns com os outros, saber como nós nos reproduzimos, geramos filhos, saber sobre o amor entre homens e mulheres – só papo de louco! Descobrir tudo sobre nós, de forma que seus amigos saibam como podem se adaptar ao nosso planeta para poderem viver aqui – um papo doido! Parecia até que essa mulher era de outro planeta, sabe! O senhor me desculpe! Só coisas loucas; ele não entendeu nada e disse que, da forma como ela falava, parecia até que ela era mesmo de outro planeta, aí ele pensou: “Essa mulher é louca”, e parou de falar com ela. Ficaram os dois calados até chegarem à cidade. Ele achou estranho ela dizer que seus amigos a deixaram ali, lá onde ele a encontrou, onde não há nada além de mato, não mora ninguém; é só mata fechada. Quando eles chegaram à cidade de Americana, ela saltou, agradeceu e foi embora, mas, antes de ela ir, perguntou-lhe se ela conhecia alguém ali naquela cidade. Ela olhou para ele, respondeu que sim e se foi. Foi isso que ele me contou! John ouviu atentamente tudo o que aquele homem falou.

─ Que história estranha! Não se parece nem um pouco com a pessoa que você está procurando, afinal você disse que ela estava em um hospital; se estava em um hospital, esperávamos que essa pessoa estivesse um pouco debilitada, eu acho, disse Bella. Apesar de que o senhor ali relatou que era realmente uma mulher muito bonita e que seu corpo e sua aparência têm as características que você descreveu aqui para nós. Ela realmente parece saber bem o que ela quer e aonde quer chegar! Afirmou Bella Monter, e John ouviu todos os tipos de comentários que as pessoas que estavam ali fizeram sobre aquela a quem ele procura, porém não pensou nem por um segundo em desistir de sua busca; em hipótese nenhuma ele irá desistir; ele irá até o fim desse mistério. Bella olha para John e diz:

 ─ Você ouviu? Será que é essa a pessoa que você está procurando?

─ Não sei! Mas vou descobrir; já estou aqui e não pretendo voltar sem encontrá-la.

 ─ Você carrega um sentimento muito grande por essa mulher! Não é somente uma questão de amizade ou solidariedade. Você a ama, e isso está escrito em seus olhos, dá para ver só de ouvir você falar sobre ela. Se for realmente isso, não deixe esse amor se perder; vá até o fim e encontre a sua amada, diz Bella.

John olha fixamente para Bella, mas não diz nada; só agradece a ela e ao senhor pela informação que ele lhe deu, paga a sua conta, sai do restaurante, entra em seu carro e volta para a estrada. Ele tem que dirigir por mais três dias, de acordo com aquela bela garçonete, até chegar à cidade de Americana, onde o caminhoneiro supostamente deixou a sua amada Elizabeth. Já se passaram alguns dias desde que John encontrou aquela mulher; e, por mais que ele sinta uma vontade enorme de estar a seu lado, ele sabe que não pode alimentar muitas esperanças, pois, pelo que tudo indica, ela tem a aparência de Elizabeth, todavia, no seu entender, não age como ela, podendo assim ser outra pessoa, talvez até totalmente diferente de sua amada Elizabeth – carinhosa, meiga, atenciosa, sua amada que sempre esteve a seu lado nos bons e maus momentos. Essa é umas das qualidades que o motivam a continuar a procurá-la, tentar encontrá-la para saber o que está acontecendo, pois aquela mulher a quem ele encontrou se parece muito com sua amada.

Noutro dia, após sair do restaurante de beira de estrada, depois de percorrer alguns quilômetros, John já se aproxima do povoado de Vilas do Cacau, esse é o nome desse lugar, que é o primeiro povoado de que lhe falou Bella Monter, a garçonete e proprietária do restaurante de beira de estrada, onde John estava antes. John já está agora na estrada há mais de 12 horas. Nesse tempo, ele fez somente duas paradas desde quando saiu do restaurante de Bella Monter, onde ele fez a sua última refeição. Depois de lá, pelo caminho, ele se alimentou apenas de biscoitos e bolachas que comprou minutos antes de entrar na estrada novamente. Sabe-se que isso não chega nem perto de uma refeição de que o corpo precisa para se manter alimentado, então tentará encontrar alimento nesse pequeno povoado. John para no posto de gasolina e manda que o frentista encha o tanque do carro e aproveita para m****r fazer o serviço completo: lavar e aspirar o veículo, que, depois de tanto tempo na estrada, está tão empoeirado que mal dá para ver a sua verdadeira cor, pois ainda lhe resta viajar mais dois dias até chegar à cidade de Americana, seu destino final, onde ele espera encontrar sua amada. Se tudo ocorrer bem pelo caminho, ele não pretende mais parar, pelo menos até chegar à cidade. São muitas horas dirigindo, então fica difícil de interromper a jornada, afinal ele está sozinho para dirigir o carro. John aproveita para comprar suprimentos para a última parte da viagem.

Enquanto ele está pagando pelas suas compras, ouve alguns comentários a respeito de acontecimentos estranhos na região, histórias de objetos voadores inexplicáveis que riscam os céus durante a noite. O que está acontecendo neste lugar? – pensa John. Por pura curiosidade ele se aproxima das pessoas que estão comentando a fim de ouvir um pouco mais das histórias que estavam sendo contadas, afinal John também é um aficionado por esse tipo de história sobre extraterrestres, e ele observa que as pessoas desse lugar estão muito amedrontadas com tudo isso. Nesse lugar, quando a noite chega, o medo domina a todos, e as pessoas que residem ali têm muito temor de sair de casa à noite; alguns dos moradores já viram os tais objetos voadores brilhantes passando sobre o pequeno povoado, mas ninguém sabe dizer o que são aquelas coisas. Já até ouviram boatos de que pessoas foram atacadas por eles, e isso deixa John ainda mais curioso, então, sem poder aguentar a vontade de saber mais sobre o que está sendo comentado, pergunta para algumas daquelas pessoas:

─ Oi! Desculpem-me, mas eu acabei ouvindo vocês falarem sobre os tais objetos voadores que passam sobre a vila e gostaria de saber mais sobre isso! Seu Manoel responde:

─ Sim, meu senhor. Você não é daqui da vila, eu acredito; eu nunca o vi por aqui antes. O senhor está de passagem? John responde:

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