Luzes no Céu á Noite

─ Não! ─ Eu realmente não sou daqui; estou de passagem; parei para abastecer o meu carro; estava comprando mantimentos quando por acaso ouvi a conversa de vocês!

 ─ Pois é, meu senhor! O povo vive com medo. Aqui ninguém sai mais de casa à noite; muitos já viram essas coisas. Começou há pouco tempo, cerca de um mês. Certo dia, eu estava caminhando de volta para casa; já era de tardinha, e logo a noite chegou e me pegou ainda pelo caminho. Eu vinha da casa de meu irmão, quando de repente eu olhei para o céu e vi umas luzes tão fortes que até faziam doer os olhos. Por um momento eu cheguei a pensar que fosse um avião, mas logo pude ver que não era nenhum avião; pelo menos dos que eu já tivesse visto. Quando a intensidade daquela luz diminuiu, eu pude ver a forma daquele objeto que estava ali no ar. Era uma espécie de objeto redondo, tipo um disco, sabe?, com muitas luzes. Ele parou bem em cima de mim, mas não era um disco pequeno; era enorme; era tão grande que podia até cobrir a lua. Era todo iluminado. Eu pude ver muito bem quando uma luz azul foi lançada contra mim. Depois disso, eu não me lembro de mais nada até o dia seguinte. Quando eu acordei, já estava em minha casa, porém não sei como cheguei até lá. Não me lembro de nada!

John ouviu a história de seu Manoel e ficou completamente fascinado com o relato. Ficou tentado a saber mais sobre a história misteriosa e resolveu então ficar mais um pouco e passar a noite naquele lugar onde seu Manoel foi atacado para tentar ver alguma coisa. A noite chegou tão rápida que eles nem perceberam, e a conversa estava tão interessante para John que ele pediu ao homem que o levasse até o lugar onde ele teve o contato com aquele objeto desconhecido, mas o homem, amedrontado, a princípio relutou dizendo que não queria ir com ele até aquele local. Mas, após algum tempo, John conversou bastante com ele e lhe ofereceu uma boa quantia em dinheiro para que o levasse até lá, o que convenceu seu Manoel, já que John garantiu que ficariam escondidos.

Após as vinte e duas horas, os dois saíram em direção ao lugar, que, a essa hora da noite, estava todo silencioso, e não havia mais ninguém nas ruas da vila. O povo tem medo e se tranca em suas casas logo após as dezoito horas, mas nesse dia um jovem estava disposto a quebrar essa regra por pura curiosidade. Ele não se assusta tão fácil, gosta do perigo, e não será um simples disco iluminado que iria assustá-lo. John e seu Manoel chegam então ao lugar planejado. A noite está escura, sem estrelas, e a lua não deu o ar de sua graça. Cada um dos homens carrega consigo uma lanterna nas mãos, o silêncio é assustador, e a noite é tão fria que pode até chegar a congelar o sangue nas veias dos homens bravos; até para um homem valente não é tão fácil desafiar o desconhecido; não é uma tarefa fácil; tem que ter nervos de aço; não é uma coisa que se possa fazer sempre; não todos os dias ou todas as noites. Seu Manoel de repente para e diz:

─ Chegamos! É aqui, senhor. Era aqui mesmo que eu estava naquela noite quando eu vi aquela coisa no céu!

─ Vamos ficar aqui perto dessa árvore, assim evitamos ser vistos de cima para baixo! E os dois permaneceram por um longo período, sem que nada aconteça. Somente os mosquitos vieram nessa noite encontrar os dois visitantes, que vieram de longe até aquele lugar, atrás de encontrar o desconhecido ou só para trazerem seus corpos para que aqueles mosquitos famintos que ali estavam se deliciassem com seu sangue quente, mas que naquele momento deveria estar totalmente gelado pelo temor do desconhecido. Os dois homens observam por horas, mas nada acontece, e então resolvem voltar, ir embora para casa. John combinou de voltarem novamente na noite seguinte, e caminham na escuridão da noite de volta. Não foi possível encontrar nada nessa noite, e o foco de suas lanternas já não estava mais como antes, pois as pilhas ficaram fracas por causa do tempo em que foram usadas; não conseguiam iluminar mais que dois metros a sua frente, e o caminho é estreito, cercado de árvores por todos os lados, tornando-o ainda mais escuro e ainda mais difícil de seguir.

─ Você falou que eles vêm todas as noites!, indagou John, ao que seu Manuel respondeu:

─ Não, senhor. Eu não sei se eles vêm todas as noites; todos ficamos dentro de casa, ninguém sai à noite; temos medo!

─ Tudo bem. Você pode vir amanhã comigo de novo?

─ Sim, senhor! Eu vou vir com o senhor! Nada deu certo na primeira noite, mas John não desiste e decide voltar mais uma vez, pois se lembra de seu compromisso principal, que é continuar em direção à cidade de Americana, onde ele espera encontrar Elizabeth, mas, com esses acontecimentos, ele decide ficar até descobrir o que está acontecendo nesse povoado e o que está deixando assustada tanta gente nesse lugar. Seu Manuel, o seu guia, o convida para passar a noite em sua casa, John aceita e os dois vão em direção à casa do anfitrião. Pelo caminho, John faz muitas perguntas ao homem sobre os fatos acontecidos anteriormente; e entre uma pergunta e uma resposta ele percebe que o homem, assustado, olha muitas vezes para o céu. Acredita que o pobre homem está tentando encontrar os tais objetos estranhos para lhe mostrar. O tempo está calmo, a noite escura e tranquila. Enquanto os dois homens caminham pela escuridão da noite, John não está nada satisfeito, pois não teve nenhum êxito em sua primeira noite de procura pelos tais objetos estranhos. Ele sente uma grande vontade de descobrir mais sobre isso e sente que tem de resolver esse mistério, que na verdade é só mais um de muitos mistérios que cercam a sua vida! Nesses últimos dias ele tem encontrado muitos problemas a desvendar, e sua vida ficou tão mais emocionante depois que ele encontrou aquela mulher que o envolveu nessa teia de mistério. Ele pensa sobre isso, se lembra dela e esboça um sorriso no rosto, afinal ela faz bem ao seu coração. John chega até a ter uns momentos de felicidade ao lembrar-se de Elizabeth por alguns minutos, mesmo não tendo a menor ideia de onde ela está. É época de noites sem luar, e a escuridão é profunda; as noites são frias, e o caminho a percorrer é estreito, mas seu Manoel conhece muito bem o lugar, afinal ele mora lá há muito tempo, desde quando ainda era uma criança, por isso tem muita certeza de qual caminho seguir. Logo os dois chegarão à casa de seu Manoel um tanto cansados, afinal caminharam por pelo menos uma hora na escuridão da noite, por caminhos cheios de obstáculos e mistérios, como quando tiveram que passar por meio de uma plantação de cacau que, para quem conhece, sabe que as árvores crescem tão perto umas das outras que chegam a entrelaçar os galhos; e próximo de seus troncos nada cresce ao seu redor; nada!; nem capim-bravo, devido ao fato de a luz do sol não conseguir penetrar as folhas das árvores; e, chegar ao solo, que é importante para garantir que as plantas nasçam, apenas folhas secas ficam por sobre o solo, folhas que caem das árvores de cacau, as quais denunciam qualquer um que passe por lá, pois, ao pisá-las, elas se quebram e, estando secas, fazem ruído que se pode ouvir claramente, assim como foi dessa vez em que eles passaram por esse lugar e ouviram passos em sua direção, olharam por várias vezes para todos os lados, mas não viram nada, nem ninguém, mas aquele ser continuava seguindo-os mesmo sem que vissem, até quando eles saíram da roça de cacau, mas seu Manoel avisou, antes que eles entrassem lá, que aquele lugar é perigoso de se passar durante a noite, pois vários acontecimentos  já houve com pessoas que ali passaram, as quais sofreram ataques, foram espancadas sem sequer poder ver seus próprios agressores, logo passar sozinho ou mesmo acompanhado não é seguro, por isso é considerado um lugar perigoso e misterioso, e quem conhece as histórias do lugar não se aventura a passar por lá sozinho.

Após chegar a sua casa, seu Manoel já se sente mais calmo, oferece uma xícara de café a John, afinal a noite está muito fria, e uma xícara de café quente seria uma ótima forma de aquecer o estômago e o corpo. John aceita o café, mas, quando vai dar o primeiro gole, se surpreende com um clarão que se forma do nada de lado fora, e seu Manoel, quando vê, fica em pânico e dizendo:

 ─ São eles! São eles que estão aqui! John sai pela porta afora a fim de ver o que era essa luz e, quando olha para o céu, vê uma enorme nave de forma triangular, totalmente iluminada, e com luzes tão fortes que fazem até doer os olhos, e esse objeto está passando bem sobre as suas cabeças. Ele fica muito surpreso e admirado com aquele objeto, afinal ele nunca tinha presenciado algo assim, dessa magnitude e tenta por um tempo acompanhá-la com os olhos, e assim conseguir ver a direção em que o objeto vai. Mas, da mesma forma que aquele objeto apareceu de repente, também desapareceu. Aquela enorme nave fez uma manobra tão rápida que nem um tipo de avião na Terra poderia fazer. Em seguida desapareceu em direção ao céu. Agora John acabara de ver com os seus próprios olhos o objeto atrás do qual tinha ido tão longe para ver naquela noite, e nessa hora ele entende que nem precisava ir tão longe para procurá-la, pois eles acabaram de vir até ele.

A noite passa, e o dia logo chega, e John não conseguiu dormir mais nada o resto da noite. Ele passou o resto da noite acordado, fazendo uma espécie de vigília, olhando para o céu e esperando ver outra vez aquele objeto, mas nada mais aconteceu naquela noite. Ele ficou com muita vontade de ver aquele objeto desconhecido novamente, afinal tudo aquilo é um fato novo para ele, e John quer ter a oportunidade de chegar mais perto; ele quer ver bem mais de perto, mas isso não seria desta vez, nem mesmo aquela noite, porque ele tem outro mistério a desvendar. Esse novo fato irá ter que ficar para depois, pois ele tem que ir embora e deve encontrar Elizabeth, mas, antes de ir, ele prometeu a seu Manoel que iria voltar logo que resolvesse o assunto o qual o tinha trazido até aquele lugar. John tinha que partir logo pela manhã, continuar seu caminho para a cidade de Americana, seu principal objetivo. Ele se despede então de seu novo amigo e parte levando em sua mente pensamentos a decifrar sobre o que ele tinha visto na noite anterior, mas uma certeza percorria sua mente: tinha que voltar logo que possível àquele lugar, pois ele gostaria de saber mais sobre os objetos voadores estranhos que ele havia presenciado naquela noite. Esse acontecimento não sairia de sua mente tão cedo. Aquele objeto enorme voando no céu... O que era aquilo? O que era incrível é que aquele objeto não fazia nenhum ruído de motor. Era como se aquela coisa estivesse flutuando no ar sem ajuda de motores, e ele sabia que um objeto daquele tamanho não fazia parte da frota de aeronaves da força aérea do País. Tinha que ser de outro lugar ou até de outro planeta, pois a tecnologia que estava sendo implantada naquele objeto era superior às conhecidas na Terra. E, seja lá o que for aquilo que ele viu no céu, não era um produto fabricado na Terra. Com certeza, isso é uma coisa que ele quer descobrir e saber do que se trata. Será que está acontecendo um ataque ao nosso planeta? Ou aos seres humanos? Estamos sendo atacados por seres de outros planetas? O que realmente era aquela coisa? Minutos, depois já na estrada, John ainda pensa sobre esses acontecimentos misteriosos e até esquece por alguns momentos o seu objetivo maior, pois esses fatos novos desafiam a sua mente. Mal sabe ele que isso é só o começo de tudo, que está tudo ligado a seu objetivo principal.

Agora John já está bem mais perto do seu destino final, a cidade de Americana. Ele deve chegar por lá antes do anoitecer; isso se ele permanecer na estrada o dia todo, com poucas paradas, apenas para se aliviar e esticar as pernas, então se aproxima do último povoado que antecede o seu destino. Chega ao local, entra no povoado e não vê nenhuma pessoa na rua. Antes, quando ainda vinha pela estrada, a alguns quilômetros atrás, John havia passado por algumas casas, mas, como neste lugar, ele também não havia visto ninguém, sequer uma pessoa. Ele parou, desceu do carro, foi até algumas das casas, mas nada encontrou, pois elas estavam completamente abandonadas, com as portas abertas, com todas as mobílias, porém sem ninguém! Todos os móveis, eletrodomésticos, louças tudo! Em algumas das casas até as panelas foram deixadas com a comida dentro delas em cima do fogão. O que aparentava era que as pessoas tinham saído às pressas, deixando tudo para trás; inclusive, pode-se observar que as panelas foram deixadas sobre o fogo ainda aceso, sem que fosse desligado o gás, até que este acabasse, e as panelas estavam queimadas, totalmente derretidas; as portas e as janelas das casas estavam todas abertas; algumas das casas estavam com o aparelho de som ligado no volume máximo, mas não havia ninguém por perto. Todos haviam sumido daquela vila; até os animais não se podiam encontrar – uma verdadeira vila fantasma.

Isso é estranho! – imagina John. Mas ah! Deve haver uma explicação para tudo isso; sempre há uma explicação, então sai daquele lugar e volta à estrada. De repente, após passar por uma curva da estrada, a alguns metros a sua frente, vê uma pessoa caminhando, a mais ou menos duzentos metros de distância a sua frente. Ele logo a alcançará, logo chegará mais perto; diminui um pouco a velocidade do veículo, que se aproxima um pouco mais, e vê que a pessoa está visivelmente abalada. É um rapaz, bem jovem. Aparenta ter entre 17 e 20 anos, magro, de mais ou menos um metro e sessenta de altura. Tudo indica que ele já caminha há um bom tempo por essa estrada, totalmente desorientado, e John então para e fala com o rapaz, oferecendo-lhe uma carona, mas nenhuma resposta recebe dele, o qual não lhe responde e continua caminhando, como se estivesse sem rumo. John observa que o rapaz está de bermuda e descalço, com um semblante muito triste, como se algo muito ruim lhe tivesse acontecido. John para o carro mais à frente do jovem, desce e o aborda dizendo:

─ O que houve, amigo? Pergunta John, e o rapaz, com um olhar distante, o fita como se olhasse através de John, completamente fora de si. John pega em seu braço e o conduz até o carro. Ele não esboça nenhuma reação, e John o ajuda a subir no veículo e o põe sentado no banco do carona, à frente, junto com ele, fecha a porta e continua dirigindo pela estrada; oferece-lhe uma garrafa com água, e o rapaz a pega bebendo-a um pouco, então respira profundamente, dando a impressão de estar melhor.

─ Qual é o seu nome? Pergunta John ao desconhecido rapaz, que põe as mãos na cabeça, olha pela janela do carro e, fazendo um grande esforço, responde:

─ Josué! Sua voz é tão fraca e rouca que quase não dá para John ouvir o que ele diz.

─ Josué é o seu nome? Pergunta-lhe John. Fazendo um gesto com a cabeça, o rapaz confirma que sim, e John está muito curioso com a situação do jovem:

─ O que aconteceu? De onde você está vindo? Novamente o rapaz leva às mãos à cabeça e diz:

─ Eu morava em uma vila, que fica lá atrás, com minha família, minha mulher e minha filhinha!

 ─ E o que aconteceu?

─ Estava tudo muito bem antes! Mas há algumas noites umas coisas estranhas começaram a acontecer. Já estávamos deitados eu e minha esposa. Ainda era cedo da noite; talvez fossem umas 19h quando começou. Vimos primeiro uma luz muito forte do lado de fora de casa. No primeiro momento, pensei que fosse um raio; pensei até que fosse chover, mas não ouvi barulho algum de chuva e vi que aquela luz forte se aproximava da casa. Na hora não tive coragem de sair para ver lá do lado de fora, mas nós, eu e minha esposa, olhamos pelas brechas das paredes. A luz era muito forte; não dava quase para ver nada, mas de repente a luz diminuiu um pouco, então pude ver que havia umas pessoas saindo daquele objeto que emitia aquela luz forte, e o objeto havia pousado aqui na frente de casa. Dele saíram umas pessoas pequenas. Pelo menos era o que me parecia. Pareciam pessoas, porém eles eram bem menores em altura, e bem mais magros que o comum, com cabeças grandes. Ficaram olhando e rodeando a nossa casa, andando de um lado a outro; pareciam procurar algo, e estávamos muito assustados, por isso ficamos bem quietos. Estávamos com muito medo, afinal eram mais ou menos umas seis pessoas, ou seja lá o que fossem! Pelo menos para mim pareciam ser pessoas, pequenas e magras, e a linguagem que usavam era diferente, estranha; não dava para entender o que falavam. Ficavam andando de um lado para o outro. Pareciam estar planejando fazer algo, olhavam para nossa casa e falavam. Eu e minha esposa estávamos olhando pela pequena brecha na parede, pois nossa casa é de madeira, tem algumas pequenas brechas. Estávamos no escuro para eles não nos verem, mas podíamos vê-los bem, enquanto eles caminhavam do lado de fora. Até que um deles parou e olhou fixamente em nossa direção. Parecia que ele nos tinha visto. Nessa hora fechei os olhos e imaginei: Nossa! É agora que eles vão entrar aqui, mas, quando abri meus olhos de novo, já haviam ido embora; sumiram como por encanto. Não ouvimos barulho algum, nenhum som sequer nessa noite. Não dormimos, pois só pensando que eles poderiam voltar.

Quando o dia amanheceu, saí para ver se havia alguma coisa lá fora, mas não encontrei nada, nem rastro, nenhum sinal sequer. Fui até a casa dos vizinhos, mas ninguém viu nada também; contei a eles o que vi, todavia ninguém acreditou em mim. Disseram que eu estava vendo coisas, que eu estava vendo fantasmas, mas eu sabia que estava certo. Chamei a minha esposa para confirmar-lhes, mas não adiantou de nada; até zombaram de nós. Disseram que ela estava junto comigo naquela história mentirosa e não acreditaram em nós, mas eu sabia que aquelas coisas estiveram lá e que estavam planejando fazer algo. Só não tinha ideia do que seria, o que era que eles queriam fazer. Com o passar dos dias, comecei a pensar se tudo aquilo que vi era realmente verdade; se eu havia sonhado isso realmente; cheguei até a desconfiar de mim, se eu tinha visto aquelas coisas mesmo. Conversei com minha esposa a respeito disso, e ela acabou ficando com dúvidas também. Parecia que tínhamos mesmo era sonhado, e as lembranças vinham e já um pouco distantes, começando a parecer com lembranças de sonho realmente, então procuramos esquecer tudo, não tocar mais no assunto. Com o passar dos dias, já estava quase tudo esquecido, até a noite de ontem, quando eles voltaram!

Na hora em que o rapaz começa a fazer a narração do acontecido, John não consegue suportar suas próprias lembranças e se põe a chorar feito uma criança que acabara de perder sua mãe e que não sabe como nem onde encontrá-la, então John para o carro e conversa com o jovem dando-lhe força para seguir em frente. Em seu desespero, Josué diz que irá voltar à vila onde morava, pois ainda acredita que sua família voltará para casa. John o convence de que não é uma boa ideia, pois ele passou por essa mesma vila há pouco, e não viu ninguém; uma viva alma sequer naquele lugar, e todos haviam sumido, e que ele é a única pessoa que foi encontrada das que moravam naquele lugar, mas Josué se desespera todas as vezes em que se lembra de sua esposa e filha. John o convence a entrar novamente no carro e continuar na estrada com ele indo em direção à cidade de Americana, onde poderiam encontrar ajuda, falar com a polícia local. Josué acaba sendo convencido por John; e pelo caminho conta mais do que aconteceu.

─ Na noite anterior ao acontecimento, tudo estava muito normal. Foi um dia muito agradável. Contou que passou o dia todo em sua casa com sua esposa e filha, não saiu para trabalhar, pois estava chovendo bastante, e a meteorologia havia previsto no dia anterior que haveria uma grande quantidade de chuva durante o dia todo naquela região; e realmente cedo o tempo fechou para não contradizer a previsão dos meteorologistas. Não dava mesmo para sair de casa, já que seu trabalho é na roça; e com essa quantidade de chuva não haveria muito que fazer por lá, por isso Josué pôde aproveitar e passar o dia todo brincando com seu lindo bebê, que chegara há pouco tempo à família trazendo muitas alegrias aos pais. A pequena Maria, de oito meses, chegou há pouco tempo, mas já ocupa um grande espaço no coração de todos; começou a dar seus primeiros passinhos pela casa, começando a andar, segurando-se pelas paredes e prestando atenção a tudo. Nada fica longe do alcance de suas pequeninas mãos. Ela exige muita atenção de todos, ainda mais de sua mãe, que tem de estar sempre atenta às suas travessuras. A bebê, por ser tão amada, acaba sendo uma verdadeira diversão para todos de casa. Dona Sílvia, sua mãe, tem a missão de cuidar de Maria. Para isso, tem que se desdobrar para cuidar da pequena Maria e dos afazeres domésticos. Maria cresce rápido e saudável; é o orgulho de seus pais, que a amam tanto, mas que agora só faz parte de uma lembrança triste de uma noite de dor.

─ Mas o que aconteceu com as outras pessoas que moram neste lugar? Pergunta John.

─ Como eu falei, ninguém acreditou em mim quando eu disse o que tinha acontecido dias antes. Os dias foram passando, e com o tempo até eu e a minha esposa começamos a esquecer tudo aquilo que tínhamos visto; já nem nos lembrávamos daquela noite. Eram umas 20h. Eles voltaram. De repente, luzes, muitas luzes, um grande clarão iluminou a noite. Vi pousar uma espécie de máquina voadora; digo máquina, porque em nada se parecia com um avião; enorme, redonda, cheia de luzes vermelhas, verdes, azuis e de outras cores que eu nem conheço, mas eram muitas cores e giravam pela lateral da nave. Nunca vi nada igual àquilo em toda a minha vida. Fiquei olhando como se estivesse hipnotizado. Não conseguia nem me mexer. Aquele piscar das luzes parecia exercer um tipo de domínio sobre mim; era tão bonito que eu não tinha nem vontade de sair daquele lugar. De repente, no minuto seguinte, uma porta se abre, e uma espécie de rampa desce da nave em direção ao solo. Logo em seguida eu vi descerem da nave umas pessoas, assim como nós, e saíram outros seres bem diferentes, talvez de uma espécie diferente eu nunca vi nada igual. Acho que não eram humanos; eles se aproximaram de mim. Acho que estavam querendo se comunicar comigo, mas em uma linguagem estranha, que não entendia. Esses se pareciam humanos; os outros não tinham boca; apenas um pequeno orifício no lugar da boca. Não falavam, mas tenho quase certeza de que entendiam o que o outro dizia. Dava para notar, pois o ser que era como nós falava, e o que não parecia ser humano balançava a cabeça como se estivesse concordando com o que ele dizia. Não consegui entender o que ele estava dizendo ao outro, até que veio falar comigo. E John indagou:

─ E o que ele falou a você?

─ Isso foi muito terrível para mim. Eu estava paralisado; não conseguia me mexer; nem um músculo.

 ─ Mas você estava com tanto medo assim que não conseguiu ajudar sua mulher?

 ─ Não, amigo! Eu bem que tentei, mas não dava; eu estava numa espécie de hipnose em que eles me deixaram. Isso não me permitia mexer; só meus olhos me permitiam ver o que eles queriam.

 ─ O que eles queriam de vocês? Eles falaram a vocês?

─ As mulheres! A minha mulher e minha filha. Eles as levaram, e eu nada pude fazer, disse Josué.

─ Mas e você? Como conseguiu escapar deles? Ou eles só queriam as mulheres mesmo?

─ Eles iriam me levar, mas, na hora em que estava me levando para a nave, o meu sogro apareceu na porta me chamando. Ele havia chegado naquele dia para nos visitar; estava dormindo; acordou, viu aquele clarão, saiu do quarto para saber o que estava acontecendo lá fora; ouviu os gritos de minha esposa e pegou a espingarda que estava carregada. Ele apareceu na porta, viu o que estava acontecendo lá fora conosco e atirou naqueles seres. Nessa hora eles se distraíram com meu sogro e me soltaram, então eu fugi para o mato.

─ Mas seu sogro não ficou hipnotizado como você?

─ Não sei como, senhor, mas ele não ficou. Coitado dele! Acho que eles o mataram. Eu o ouvi gritar pouco antes de eu entrar na mata, um grito tão horrível que ficou gravado em minha mente até hoje.

─ Por que será que seu sogro não ficou hipnotizado como você? Talvez por isso eles o tenham matado, por eles não obterem domínio sobre ele! Tem que haver uma razão para tudo isso. Seu sogro não ficou como você ficou! No que ele poderia ser diferente de você? Ele tem alguma característica que o faça diferente de você?

─ Não sei dizer! Acho que não tem! A não ser pelo fato de que ele é um pouco cego!

 ─ Cego! Você disse cego?

─ Sim! Ele é um pouco cego, e um pouco surdo também. Temos que falar bem alto com ele, que ficou assim há alguns anos. Trabalhava como soldador em uma empresa na capital. Era um lugar muito barulhento. Eles davam a ele todos os equipamentos de segurança, um tipo de aparelho para pôr no ouvido e a máscara de solda, mas ele não gostava de usar, aí, certo dia, ele acordou e não conseguia ouvir nada. Fez um tratamento; voltou a ouvir, mas bem pouco. Com o passar dos anos, foi perdendo a audição e a visão também, então ficou assim! Disse Josué.

 ─ Pode ser por isso. Essa deve ser a causa. Ele não pode ver as luzes que você viu, por isso não ficou hipnotizado. Só quem olha para a luz fica paralisado, e o domínio deles deve ser exercido por meio da visão da luz que é emitida da nave!, exclama John.

─ É verdade! Deve ser por isso! Coitado do meu sogro! Ele não soube nem por que morreu!

 ─ Verdade! Mas foi por causa de ele ter aparecido que você escapou! Senão você estaria preso lá com os outros; pelo menos não vamos deixar que a morte de seu sogro tenha sido em vão! Agora temos de fazer que esse ato dele tenha valido a pena. Temos que avisar as autoridades para que algo seja feito!, disse John.

─ Verdade! Quero resgatar minha família de qualquer jeito! Nesse momento, John vê que aquele rapaz que até então lhe parecia ser tão frágil e assustado acabara de se transformar em um grande aliado que no futuro próximo lhe poderia ajudar bastante quanto aos mistérios que ele tem a desvendar. Agora os dois têm algo em comum: buscam encontrar suas paixões, pessoas que tiveram e têm muita importância em suas vidas!

─ Vamos embora! Temos um longo caminho ainda a percorrer! E os dois recém-amigos embarcam no carro e saem pela estrada que os levará à cidade de Americana, onde John Kenny espera encontrar sua amada Elizabeth. Mesmo com todos os acontecimentos, ele não consegue esquecer aquele rosto lindo, aquela imagem que não sai de sua mente.

─ Mas e você? Mora aqui por perto? Eu nunca o vi por aqui!, indagou Josué.

─ Não! Moro muito longe daqui, em uma cidade bem distante!

─ Mas que mal lhe pergunte: o que o senhor faz por aqui, tão longe de sua casa?

─ Eu sou um negociante, um comprador. Gosto de comprar terras, propriedades; sempre que encontro um negócio que considero ser bom, compro. Tenho isso como uma forma de me manter ocupado, e é um bom negócio.

─ Mas o senhor veio aqui só para comprar uma casa aqui no povoado?

John responde:

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