THIAGO
Já era tarde da noite.
O apartamento inteiro tava tomado por uma atmosfera pesada, abafada. A música ainda tocava em algum canto, baixa, e a televisão piscava luzes coloridas, mas ninguém tava prestando atenção em nada disso. Tinha gente espalhada pelo chão, dormindo, uns apagados de bebida, outros de cansaço mesmo.
No sofá, uma garota que eu nem lembrava o nome me chupava sem pressa, como se aquilo fosse a coisa mais comum do mundo.
Na mesa de jantar, quatro caras e uma mulher se pegavam sem vergonha, sem pudor, como se estivessem sozinhos no mundo. Eu olhava tudo meio distante, como se não fosse comigo. A bebida misturada com as drogas já me deixava meio mole, meio aéreo.
A verdade é que aquilo não me preenchia mais.
Era tudo automático, mecânico. Eu só não queria pensar. Queria desligar minha cabeça por algumas horas, esquecer dela — esquecer da Mirela.
Até que a campainha tocou.
Foi estranho. Ninguém tocava a campainha ali. Quem chegava, batia direto ou ligava antes. Iss