Nico Narrando
Quando vi o olhar do Alexander cravar na Martina daquele jeito, eu entendi na hora: tinha coisa errada. Conheço meu irmão desde sempre. Aquele não era um olhar de cansaço nem de irritação comum. Era desconfiança pura.
— Com licença, doutora — falei, educado, mas firme. — Qualquer coisa eu chamo a senhora.
Ela assentiu, pegou o tablet e saiu da sala com o salto ecoando no chão. Assim que a porta se fechou, fui até ela e girei a chave. Não por paranoia. Por instinto.
Voltei pra perto da mesa dele.
— Fala comigo, Alex. O que tá acontecendo?
Ele respirou fundo, passou a mão no rosto e apoiou os braços na cadeira de rodas.
— Eu tô desconfiando da Martina.
Franzi a testa.
— Desconfiando como? Isso não é pouca coisa.
— Não é a primeira vez — ele respondeu, sério. — Já reparei em alguns comportamentos estranhos. Pequenos detalhes que não batem.
— Que tipo de comportamento? — perguntei, cruzando os braços.
Ele fez uma pausa, como se estivesse organizando os pensamentos, e então