Alice
Saí do restaurante às dezoito em ponto, como de costume. Às vezes mudavam minha escala no meio da semana, mas hoje tudo tranquilo. Ao menos do lado de fora, porque por dentro, minha cabeça era um tambor de escola de samba.
Sentei no banco da parada de ônibus com a sensação de que carregava uma mochila invisível cheia de contas, preocupações e um boleto emocional chamado “família”. O ônibus chegou, me joguei nele e tentei não pensar demais. Coisa que, pra mim, era o equivalente a tentar não respirar.
Cheguei em casa às sete e quinze. Entrei descalçando o tênis já na porta, como quem queria se livrar do dia inteiro. Fui direto pro banho, e ali, debaixo da água quente, senti um breve alívio. Quase parecia que a vida era normal por alguns minutos.
Depois vesti meu baby doll de algodão com bolinhas que parecia mais velho que eu e fui pra cozinha, preparar algo rápido. Macarrão com carne moída, a salvação dos dias longos e dos estômagos vazios.
Me sentei à mesa e comecei a comer. A co