(Visão de Rafael)
O dia foi uma maratona de reuniões em salas de vidro com ar-condicionado gelado e cafés amargos.
Cada minuto longe da empresa era um minuto longe dela e a dor de cabeça começou como um aperto nas têmporas e foi crescendo, alimentada pela frustração de saber que ela estava lá, naquela sala com a porta de vidro, e eu não podia nem passar pelo corredor para sentar o cheiro dela.
A única coisa que me manteve são foi saber que a noite terminaria com ela. O jantar com o Sr. Tavares, enfadonho como poderia ser, era a desculpa perfeita.
Em casa, o banho foi rápido, quase um ritual para lavar o cansaço do dia. Escolhi um terno cinza e uma camisa azul escura. Não era só para o cliente. Era para ela.
Para seus olhos passarem por mim na mesa e saberem que aquilo era para ela.
O restaurante era daqueles caros e discretos, luz baixa, toalhas brancas.
Cheguei antes e fiquei na mesa reservada, mexendo no celular sem ver nada, com o coração batendo num ritmo acelerado e absurdo.
C