Cheguei em casa já depois das sete, o nó da gravata afrouxado e a paciência desgastada. O trânsito, as reuniões, a enxurrada de decisões corporativas… tudo parecia mais cansativo que o normal, como se meu corpo tivesse começado a sentir o peso da vida acontecendo dentro daquela mansão.
Joguei as chaves sobre o aparador da entrada. O som ecoou alto demais naquela casa grande demais.
Minha avó estava na sala, sentada em sua poltrona favorita, enrolada em uma manta leve apesar do clima morno. Ela ergueu os olhos assim que me viu.
— Está com uma cara péssima, querido — comentou, observando-me como quem analisa um quebra-cabeça.
— Tive um dia cheio — respondi, tirando o paletó e jogando-o no braço do sofá.
— Todos os seus dias são cheios. — Ela rebateu, revirando os olhos. — Mas hoje você parece ainda mais… carregado.
— Só estou com muita coisa na cabeça.
— Vai jantar conosco? Mandei fazer tiramisù que eu sei que você adora.
— Desculpa, vó, mas não vou poder ficar para o jantar — avisei, s