Anton Griffin
Elo é sentir seu coração perfurado por adagas invisíveis só por ver lágrimas no rosto de sua amada. Foi o que senti ao ver como ela estava perdida. Foi um esforço tremendo não revelar quem sou. Mas me segurei. E prometi a mim mesmo estrangular qualquer um que a fizer chorar. Se aquele casal de antas descobrirem a minha situação justo quando encontrei a minha Luna pode usá-la, até mesmo feri-la. Isso não posso permitir.
Me lembrei do esconderijo que Oliver insistiu em termos para caso de ataques, quando ela estava preocupada para onde me levar. Pedi que me levasse só para ter o prazer de sentir seu pelo macio contra mim, sem contar o bônus de que surgiria nua logo depois. Pena que ela acabou com essa ilusão me fazendo virar.
Terei que ter mais cuidado. Meu disfarce quase foi descoberto quando a chamei de minha Luna. Demorou para convencer que não ofereço perigo e a colocar dentro do abrigo.
Nesse momento, noto uma mulher completamente deslumbrada, olhando tudo.
— Uau! Isso é incrível! Jamais imaginei que teria algo assim na floresta.
Devo agradecer a Oliver por insistir com esse abrigo mesmo depois que eu disse que era algo inútil. Devo uma a ele.
Há uma cama de solteiro, um baú de madeira com algumas roupas e objetos para primeiros socorros e ataque, inclusive armas. Isso ela não precisa ver.
— É só um canto. Aqui perto tem uma cachoeira, poucos metros. Podemos tomar banho lá, nos trocar e conversar. O que acha?
Ela assente.
— Tem essa camisa e esse moletom. — Levanto da caixa. — Ele é grande, mas tem como apertar a cintura com a fita. Também é provisório, só até voltar para os seus vestidos caros.
Ela faz uma careta.
— Se pensa que tenho dinheiro e pretende me sequestrar, é melhor lembrar que posso rasgar sua garganta. — Ela pega a roupa da minha mão. — Além disso, ninguém pagaria resgate por mim e minha conta está meio que zerada.
— Garanto que não preciso do seu dinheiro. Agora vamos logo tomar banho logo e esclarecer tudo. — Empurro ela gentilmente em direção a escada de saída.
O caminho até a cachoeira é menos de cinco minutos andando.
Chegando lá, começo a tirar a roupa, e ela desvia o olhar.
Rio e pulo na água nu. O choque da água gelada no meu corpo quente é revigorante.
— Não vem? A água está uma delícia.
— Pode se virar, por favor?
Só obedeço. Insistir em ver ela nua só vai piorar as coisas no momento em que somos apenas desconhecidos.
Escuto o barulho da água e volto a me virar, a tempo de ver ela nadando para o lado oposto ao meu.
— Espere só, minha Luna. A terei nua nos meus braços bem aqui. Só espere — prometo em um murmuro.
Não ficamos muito tempo ali. A água é gelada demais sem ela perto de mim. Sai da água primeiro. E fingi não ver seus olhares discretos em direção ao meu corpo nu. Me vesti bem devagar, com um sorrisinho presunçoso. Quando ela nadou em minha direção, me viro para que se vista.
Voltamos para o abrigo em silêncio.
Me sento na cama e bato ao lado para que ela se sente comigo.
— Agora podemos conversar.
— Por que não teve medo quando me transformei?
— Falei para você que um amigo me deixa usar esse lugar. Esse meu amigo é como você. — Ela me olha surpresa. Eu precisava de uma forma de não me mostrar tão leigo, seria suspeito. — Ele me contou algumas coisas sobre sua “espécie” — faço aspas.
— Então sabe o que aconteceu hoje?
— Confesso que não entendi nada.
Ela suspira.
— Nossa “espécie” — ela também faz aspas — tem algumas ... digamos ... tradições bem rígidas. Em determinada época, as mulheres precisam caçar seus companheiros. — Faço uma careta, só para ver sua reação. — Nada tão drástico como deve estar pensando. De alguma forma sabemos que são nossos parceiros. Um cheiro irresistível nos leva diretamente a eles. Não é bem uma caçada mesmo.
— Entendo. — A encaro. — E o seu parceiro.
— É você. — Ela dá uma risada nervosa. — Eu tinha que estar com o meu parceiro a meia noite.
— Mas escolheu me salvar.
Ela assente.
— E quanto ao seu parceiro de verdade. Você o sentiu?
Ela nega com a cabeça.
— Eles não sabem, mas eu já tinha desistido. Não senti cheiro nenhum. — Seu tom é de decepção, decepção consigo mesma. — O estranho é que quando te mordi, senti o elo se formar. Isso não deveria acontecer com um humano.
Será que foi por causa do feitiço que ela não me sentiu?
— É que eu sou especial. Irresistível.
— E modesto. — Ela ri. É lindo o som.
— Se me aceitar, posso ser o seu companheiro. Posso cuidar de você, te amar, te mimar como nunca foi...
Ela nega com a cabeça e se levanta, me interrompendo.
— Desculpa. Não posso fazer isso com você.
— Ou só não quer um mendigo como parceiro?
— Não, não é nada disso. E você pode muito bem ser mais que um mendigo.
Será que ela desconfiou?
— Como assim?
— Se olha no espelho. Poderia ser um modelo de tão lindo que é. Possivelmente pessoas pagariam só para te admirar.
Começo a rir com a imagem que se forma em minha mente. Eu em uma redoma de vidro, sendo admirado por pessoas que jogam dinheiro dentro do vidro.
— O que foi?