O Grito Mudo de Gabriel
As luzes da noite parisiense invadiam o apartamento de Ronaldo e Raquel em Versalhes, mas Gabriel não as via. Seus olhos fechados denunciavam um sono agitado, repleto de sombras.
Desde que havia sido arrancado dos braços de Lara e transportado para a França, seu corpo e sua mente haviam se tornado reféns de uma rotina fria e impiedosa.
Naquela manhã cinzenta, um grito abafado ecoou pelos corredores. Gabriel, de oito anos, levantou-se num sobressalto, o rosto sujo de lágrimas. Foi até a cozinha, onde Raquel tomava café com Ronaldo, de costas para ele.
— Mamãe..Sussurrou Gabriel, a voz embargada.
—Mamãe está tentando me ligar de novo, mas você não deixa.
Raquel ergueu a sobrancelha, impaciente.
— Pare com essa chatice, Gabriel. Já falei que sua mãe só faz drama. Ela não entende a sua seletividade alimentar e fica preocupada à toa.
Ronaldo falou sem olhar para o filho:
— Você precisa comer direito. Aqui temos nutricionista e chef. Você vai se acostumar.