Era lindo, e Angelina ficava sempre apaixonada por cada coisa, vestido ou pessoa que via. Mas logo sua atenção foi tomada quando risadas altas e esganiçadas invadiram o ambiente calmo e acolhedor do comércio. Garotas acabavam de entrar, não mantinham, respeito por quem ali já estavam. Uma delas, ao ver Angelina, correu até ela e a abraçou.
— Liny, que bom te ver, por que não avisou que estaria aqui, poderia ter se juntado a nós!
Angelina olhou a jovem dos pés à cabeça e não pôde deixar de franzir o cenho ela era estranha.
Ela era bonita mas não usava nada que a favorecesse, muita maquiagem, um penteado espalhafatoso alto e cheio de cachos e um vestido que fazia seus seios quase saltarem para fora.
Em busca de ajuda, Angelina olhou para sua dama que sussurrou o nome da jovem: ”Sophia Showard”.
Tornou a olhar a jovem à sua frente e riu de forma nasal irônica.
— Senhorita Showard, não há reconheci, está… diferente…
— Gostou? Esta é a nova moda que estou lançando, torna a beleza das mulheres mais realista.
— Claro amiga, você esta linda. — ela vinha de uma sociedade moderna, não podia julgar, não poderia dizer Sophia Showard nada mais parecia do que uma dançarina de cancan das mais mal pagas. — Mas, acredito que essa maquiagem esteja um pouco exagerada, tente diminuir um pouco no rouge.
Sophia riu alto.
— Liny, querida, quanto mais cor, mais viva. Já que tocamos no assunto, você esta precisando de uma cor, acho que o príncipe não vai querer se parecer tão pálida. — ela tocou a ponta do nariz de Angelina, o que fez a jovem querer morde-la. — veja como lady Kelliny e tão vibrante com aqueles cabelos dela, parece até uma bruxa, como ela encanta os homens, parece mais uma prosti…
Antes que Showard pudesse terminar, água foi derramada sobre sua cabeça deixando-a em um estado catastrófico
Angel segurou o riso, toda a maquiagem estava começando a escorrer por seu rosto.
— Acha mesmo que o príncipe largaria uma jovem dama educada, linda e leal a ele como a princesa Bryston para ficar com alguém como você que neste momento está parecendo uma palhaça? — uma voz calma, mas cheia de poder soou de trás da jovem Showard e então Kelliny se revelou a todos, ela havia escutado tudo desde o princípio.
— Princesa Kelliny. — cumprimentou Angelina com um aceno de cabeça um sorriso.
— Princesa Angelina. — devolveu o cumprimento. — Espero que está melhor, fiquei sabendo de seu acidente, sinto muito.
— Agradeço sua simpatia, estou bem.
Ambas trocavam algumas palavras como se não notassem uma Sophia irada e desastrosa..
— Sua vadia, veja o que fez comigo! — esbravejou.
— Sophia, que linguajar sem puder é este, vindo dos calejões mais horrendos! — Angelina a repreendeu e contia o sorriso. — Lady Kelliny te fez um favor, você não estava muito bem com toda essa… maquiagem… se você limpar um pouco todo este… borrado — apontou para toda a face da jovem. — Você parecerá jovem é bonita.
— Angeline, é para você ficar de meu lado! E não ao lado dessa… dessa…
— Calma lá Sophia! — Angelina se levantou e fez um sinal para que Noahlin a esperasse do lado de fora. — Por que eu deveria ficar ao seu lado, quando você que se diz tanto minha amiga, se envolve com meu noivo pelas minhas costas? — Cruzou os braços e riu — Mas não fique se achando Sophia, do que adianta você esquentar a cama dele uma ou duas vezes ao mês, dividi-lo com mais três outras mulheres, se no fim quem ele procura sou eu? Sabe, antes de vir aqui, hoje, ele disse que ia até minha residência, mesmo com todos os presentes que ele me dá, mesmo com todas as flores, ele ainda me escreve doces cartas e vai até mim, sem que eu precise levantar sequer um pedaço da barra da minha saia.
Angelina disse cada palavra sem escândalo, sem levantar o tom de sua voz, mas falando em bom tom e claro, para que quem quisesse ouvir não precisasse chegar perto.
As damas que entraram com Sophia, apenas abaixaram a cabeça e se afastaram da “amiga”.
E como se tudo que estava dizendo não fosse o bastante, Angelina continuou:
— Quer saber mais? Prefiro mil vezes a morte do que casar com ele, prefiro mil vezes lady Kelliny a você, por que mesmo sem ser minha amiga, apenas sendo uma mulher, como eu, ela não tentou seduzir a aquele que diz ser meu noivo, e ele tão pouco a merece, ela é uma mulher incrível, inteligente e capaz de muito mais coisas do que ele.
Com esses últimos dizeres, Angeline saiu da pastelaria. Encontrou-se com sua criada do lado de fora e caminhou pelas ruas, mas o que não esperava era que assim que a mesma saiu, foi seguida por Kelliny que se apressou para acompanhá-la.
— Lady Bryston. — chamou a jovem ruiva.
Angelina parou e se virou. Quando a jovem chegou até elas, tornaram a andar, no início estavam em silêncio até que a jovem ruiva se pronunciou.
— Obrigada. — disse tímida.
— Não precisa agradecer, sei que nunca chegamos a falar uma com a outra e provavelmente não trocamos nada mais que cumprimentos, mas não acho que você seja uma pessoa ruim.
— também não acho que você seja alguém ruim, mas suas amizades… — suspirou.
— Acho que não somos mais amigas. — riram.
— Acho que posso ser sua amiga, claro, prometo não me envolver com seu noivo, esteja você viva ou morta.
— Ele logo não será mais meu noivo… — ela suspirou e se abriu. — Kelliny, já que somos amigas, permita-me dizer. Se você gosta dele, se realmente gostar eu darei meu apoio ao relacionamento de vocês, mas você é uma mulher tão incrível, é mais capaz para assumir o ducado de sua família do que o mongoloide do seu primo, você com certeza será uma revolucionária, se não se deixar cair aos encantos daquele mequetrefe do príncipe. Eu simplesmente não o suporto.
— Pois bem, eu também não gosto dele. — ela bufa — Ele é pomposo demais, se acha demais, brilha demais, parece até um vagalume. — ela sorriu — O que é mongoloide?
Ela não sabia como explicar.
Ela não podia entender, Kelliny, segundo a história contava, era loucamente apaixonada pelo príncipe, tanto que ela flagrou o príncipe com Lilibeth, uma noite antes do acidente que matou Angelina, mas como hoje ela poderia dizer que não gostava dele?
Então ela viu, algo nos olhos da jovem, puro e verdadeiro, ali ela viu que a mais nova amiga estava sendo verdadeira.
— Eu acredito em você, não sei onde estava com a cabeça quando me deixei enganar por ele.
— Você era jovem. — elas riram novamente. — Então pretende romper o noivado?
— Sim, pretendo ir ao Norte logo, assim que partir meu pai entrará com a petição.
— Você tem sorte, tem pais amorosos, um irmão mais velho muito lindo. — suspirou.
— Kelliny, o que foi isso, você acabou de suspirar por meu irmão?
— Ahm? O que? Não, não foi isso, meu deus! — ela cobriu o rosto com as mão, mortificada. — Talvez eu goste um pouco dele…
— Talvez? — perguntou a amiga irônica.
— Tudo bem, sou apaixonada por ele desde que tinha seis anos de idade.
— Seria legal ter você como cunhada. — brincou.
— Céus, não brinque com isso, a ruiva se tornou completamente vermelha e envergonhada. — elas riram.
Isso tornou os pensamentos de Angeline mais confusos, se ela gostava de seu irmão, como passou a gostar do príncipe…
Então a ideia surgiu, poderia ter sido o acidente, talvez a morte de Angeline tenha feito com que Kelliny e Asher, nunca tenham tido quaisquer interação amorosa ou social. Kelliny por ser culpada por matá-la e Asher por se ressentir pela morte da irmã. Sim, poderia ser assim.
Enquanto andavam pelas ruas, a jovem ruiva viu algo, ergueu o guarda sol escondendo ambas embaixo do mesmo.
— O que foi? O que voc…
— Shii, é a carruagem do príncipe herdeiro. — Angelina Congelou.
— Será que ele veio atrás de mim?
— Se você fugiu dele, como diz… Ele não deixaria isso de forma tão simples.
Quando a carruagem, estava próxima delas, se ouviu a voz de alguém gritar, movida pelo susto e pela curiosidade, Angelina saiu debaixo da proteção de Kelliny, e viu uma jovem caída em frente onde logos os cavalos desenfreados do príncipe estariam, e ela mal teria tempo para se levantar.
Com isso ela agiu antes de pensar, correu até aos joelhos e se jogou até ela a puxando para longe, mas algo deu errado, seu pé torceu e seus joelhos fraquejaram e ela se viu caindo onde antes estava a jovem e morreria novamente.
Ela apenas fechou os olhos, se fosse para morrer novamente que não doesse, como dá ultima vez.
Mas a dor não veio, o que ela sentiu foi sendo erguida e jogada no ar, antes que pudesse gritar, sua boca foi tampada, ela abriu os olhos e se viu sendo carregada para longe da multidão que se acumulava em torno da jovem que foi salva por ela.
Ela se contorceu, chutou e tentou gritar, mas só parou quando uma voz forte e grossa soou perto de seu ouvido em um tom baixo.
— Se não quer que seu noivo a ache, fique quieta, entendeu?
Um calafrio passou por sua espinha e todo seu corpo se arrepiou ao ouvir aquela voz, seu coração antes desenfreado pelo medo agora tinha um outro motivo para estar disparado.
Ela acenou em concordância com a cabeça e ele a soltou, quando ela se virou para vê-lo, notou que Kelliny estava na mesma situação que ela, ao olhar para a pessoa que segurava sua nova amiga o reconheceu instantaneamente.
— Asher?! Mas o que…? Você não devia estar no Norte?! — disse em um tom ríspido e baixo.
— Eu deveria, mas o que fazer quando o dono do Norte está aqui e ainda por cima atrás da minha irmã? — ele disse olhando para o seu raptor/salvador.
Ela se virou e ele abaixou o capuz, a garganta secou e suas pernas fraquejaram, aqueles olhos azuis como seu a encaravam como se quisesse devorá-la por inteiro.
— Princesa, que bom vê-la, que pena que seja apenas nessas circunstâncias.
— N-Nós só deveríamos nos encontrar à noite.
— Bem, eu poderia ter continuado a segui-la em segredo, mas você tinha que se pôr em perigo e quase perder sua vida! — esse soou tão ríspido quanto ela — Você é suicida por acaso?
“Quase isso.” — ela concordou mentalmente.
Eles estavam se encarando.Ela não entendia, como ele poderia ser tão lindo e tão sério ao mesmo tempo.— Acredito que temos assuntos a tratar, acho que você não deseja discutir isso em um beco. Venha comigo. — ele estendeu a mão para ela.— Estou com minha criada, preciso que…— Eu digo a ela. — Kelliny se pronunciou — Se o Grã-duque veio até você para conversar, não acho que você deva desviar do proposto.— Não posso deixá-la sozinha, você me disse que sua criada a espera perto da floricultura.— Não é muito longe, consigo ir sozinha, ninguém vai apontar o dedo para mim e dizer nada, sou Kelliny Francis Kulrich, a filha de um duque, quem ousaria me difamar? — um leve sorriso de canto de lábios surgiu na dama.Angelina sabia que a nova amiga, era realmente uma pessoa que reles mortais não ousariam difamar, mas ela era uma mulher, em qualquer sociedade e época, sempre foi perigoso, não que exista algo como sexo frágil, mas existem pessoas ruins no mundo, que olham o gênero antes de at
— Lorde Graham, acredito que tenha sido surpreendido por minha carta.— Bem, imagine como eu me senti ao ver que uma jovem de vinte e poucos estava me pondo contra a parede quando uma resposta e que não se tratava de um compromisso. — ele se encontrou no sofá, cruzou os braços a olhou — Imagine minha surpresa quando essa mesma jovem ao fim de sua carta me disse que seríamos atacados, não só me deu o local como estava certa. — ele semicerrou os olhos.Ela engoliu em seco.— Veja... eu... bem…— Você não é uma traidora, isso tenho certeza, também sei que não comprou informações ou algo do tipo do outro lado, você é calada, reclusa, comparece a pouco eventos sociais e estuda muito para ser adequada para o cargo de princesa he
Uma ideia lhe veio a mente, e de todas as formas o não ela já tinha, e ele já teria uma justificativa na ponta da maldita língua.— Então case comigo!— Você está noiva.— Isso não nos impediria, pelo contrário ajudaria a romper o noivado.Eles ficaram em silêncio. Não ousando dizer uma palavra se quer, com medo de que o que quer que fosse dito, os levassem para um caminho sem volta. Pela primeira vez desde que esse assunto começou o Calix não tinha uma resposta, ele não sabia o que dizer.— Você não sabe o que está dizendo. — ele disse por fim.— Pelos céus! — ela exclamou e se levantou revoltada — você está sendo misógino!
“A vida é feita de escolhas e eu acredito que em algum momento eu devo ter escolhido o que estou passando hoje, pois não era possível que alguém poderia não passar para a paz eterna e ter que aturar uma vida conturbada. Senhor, se em algum momento eu reclamei da minha, me perdoe, mas não foi isso que pedi não.” Angelina pensou com um suspiro.Ela esperou.Após a conversa com o grã-duque, ela realmente esperou, mas ele não veio, ela não o viu ou sentiu sua sombra, e isso tinha dois dias, ela estava ansiosa.Enquanto isso, Asher estava de volta, quando seus pais o questionaram sobre o motivo, ele apenas informou que estava ali a mando do senhor Norte, O salafrário, como sua irmã se referia a ele agora, servia ao templo, mas continuava a obedecer ao duque, o motivo era simples, todos aquele mandados ao Norte, mesmo sob o tí
— Minha noiva eu… — Guarde uma coisa nessa sua cabeça. — ela o olhava com ódio — Não sou e nunca serei sua, Alteza! — Angelina, por favor, não faça isso conosco. — ele se adiantou e a segurou em seus braços a abraçando, ela se contorceu tentando sair — Eu te amo, você sabe disso, melhor que ninguém jamais será capaz de ocupar seu lugar em meu coração. — ela parou e ele viu que ela estava mais alma. “Palavras doces.” — seu pai dissera uma vez. — “Isso será capaz de acalmar até as mais bravas e valentes mulheres.” Ela tentou se afastar um pouco e ele permitiu, mas não permitindo que ela fosse muito longe de seu alcance. Ela ergueu a cabeça e ele pode ver, pela primeira vez que os olhos antes opacos, sem vida e resignados, aqueles olhos que o fizeram implorar ao pai quando pequeno que o noiva-se com a jovem, ardiam, cardiam com intenso fogo, como se
“Sempre desconfiei que Asher fosse adotado, dentre todos os membros da família Bryston que eu pude conhecer, ele e Luke eram tão diferentes, mas a verdade era inevitável, a adotada talvez fosse eu, quer dizer, Angelina” Alice, como Angelina questionava seriamente o seu “irmão”, ele era grande mas não muito inteligente ou talvez ele fosse muito inteligente mas gostasse de fazer cena, ela ainda tentava descobrir. Enquanto a carruagem se distanciava da residência da família da jovem e entrava em outro terreno ela suspirou, ainda tentando digerir todos os acontecimentos, não sabia como havia chegado a tal situação. A não morte dela no acidente causou um efeito borboleta, a história havia desandado. — Senhorita, soube que sua alteza tem estado trancado em seu quarto e não recebe visitas, se recusa a comparecer a qualquer evento que seja. Ela já sabia disso, essa poderia ser dita como a vantagem de ter ao seu lado um grêmio de informações, já h
O silêncio do quarto era sufocante.Karl estava deitado na poltrona, ainda com o rosto contraído de dor, apesar das compressas e poções aplicadas desde que fora levado de volta ao palácio. Nenhuma curandeira ousava tocar muito nas “joias reais” desde o incidente. Aparentemente, o orgulho era o órgão mais afetado.Ele apertou os olhos, lembrando da última imagem que teve dela — da noiva que antes mal ousava encará-lo, e que agora o chutara com a força de um touro enraivecido.Angelina.Não, ele pensou, ela não era mais a Angelina que ele conhecia. Aquela jovem submissa, de olhos baixos e fala doce. Agora ela falava com sarcasmo, ria de suas flores, desafiava sua autoridade... e o chutava. Literalmente.A porta se abriu, e o rei entrou sem bater. Como sempre.Karl, ainda na poltrona, endireitou-se por reflexo. Mesmo ferido, mesmo humilhado, jamais ousaria demonstrar fraqueza diante dele.Era o rei.Karl se ajeitou na poltrona, apertando os dentes para não demonstrar o desconforto físico
O sol da tarde atravessava os vitrais do salão leste, pintando o chão com cores suaves, como se o mundo lá fora não estivesse em colapso.O salão leste era um mundo à parte.Lá dentro, tudo reluzia — as janelas, os vestidos, os sorrisos. A luz do fim de tarde entrava pelos vitrais coloridos, manchando o mármore com tons suaves de rosa e dourado. As risadas eram contidas, melodiosas, como se cada palavra tivesse passado por um filtro de açúcar antes de ser dita.Ela só havia comparecido ao chá por obrigação.Na ponta da longa mesa ornamentada, a princesa servia chá com delicadeza estudada, cercada por damas jovens e ansiosas para dizer a coisa certa na hora certa.Kelliny Francis Kulrich ocupava um lugar discreto, mas visível. Como sempre.Ela era uma presença constante em eventos como aquele — nobre o bastante para estar à mesa, mas não tão importante para ser o centro dela. E isso era confortável. Preferia as sombras sutis aos holofotes falsos.Com os dedos delicados, girava a colher