Ao contrário do que muitos pensam, no seu caso, a morte não veio acompanhada da paz eterna. Acredita-se que o que aconteceu com ela foi nada mais do que um engano. Ela não deveria usar aquelas roupas pesadas, não queria ficar apertada em um espartilho, era doloroso, e os sapatos quase arrancaram seu pé fora.
Em contra do que possa parecer, ela sente falta de sua antiga vida, até mesmo de seus pais, embora tenham se visto pouco e tenha ouvido eles brigarem muito. No entanto, para questões de sobrevivência, ela teria que se adaptar. Não era fácil deixar o passado para trás, e isso repercutiu em como ela andava e se portava, o que causou muita estranheza a todos ao seu redor.
Não obstante, em algum momento, durante esses poucos dias em que ela se encontrava naquele corpo e naquele mundo, ela sentiu que de alguma forma, Angelina e ela se tornaram uma. O que restou da alma de Angelina foi unificado a ela e a aquele corpo. Ela pôde conhecê-la, obter suas lembranças e, assim, compreender a estranheza de todos diante de suas mudanças.
De fato, a queda do cavalo causou a morte prematura da jovem dama.
Era um dia de sol, fresco e quente, Angelina, a nova Angelina, andava constantemente de um lado para outro, impaciente.
Havia recebido uma carta do Grêmio, e eles obtiveram informação que o príncipe possuía não uma, mas três amantes, filhas de ricos e influentes nobres. Não era para menos que ela estivesse sentindo a cabeça tão pesada, a coroa do corno era grande.
Mas quem dera que seu par de chifres fosse o motivo de tanta preocupação, não ela se encontrava ansiosa, pois não havia recebido uma resposta do duque do Norte, se encontrava impaciente, seu pai logo levaria ao Rei a Petição para o rompimento do noivado, claro que as informações das traições do príncipe contribuíram ainda mais para a convicção de seu pai que era uma ótima ideia terminar aquele noivado. Mas antes que a bomba explodisse para todos os lados, ela devia estar longe.
— Angel, minha filha,por favor, pare de andar assim de um lado para outro, fará um buraco em nosso jardim.
Seu coração parou, Angelina ergueu os olhos e viu a sua mãe Emiliette Francine Bryston, uma mulher jovem para seus 46 anos, a mesma trajava uma armadura e possuía uma espada em mãos, seus cabelos estavam presos em um coque trançado.
A jovem correu até ela e a abraçou.
— Mamãe, que voltou.
A matriarca da família Bryston que teve que partir em missão ordenada pelo rei, logo após sua filha acordar, acariciava seus cabelos com júbilo.
— Minha filha, como poderia deixá-la sozinha? Seu pai me informou se sua decisão, devo dizer que fiquei surpresa, mas sempre te apoiarei meu bebê. — ela ergueu o rosta da filha em mãos e sorriu. — Você e seus irmãos são os nossos bens mais preciosos, sempre iremos lutar por vocês, e eu estou louca para chutar a bunda daquele infeliz do príncipe.
— Mamãe! — a jovem riu.
A dupla de mãe e filha era um colírio para os olhos, cujo ao qual mantiveram o duque longe admirando, mas ele tinha em mãos provavelmente a carta que sua filha tanto esperava receber e não tinha outra escolha a não levar a ela. Sendo assim, ele fez um ruído limpando a garganta, para anunciar sua proximidade e caminhou até as duas.
— Que bom que se encontram, sua mãe nem a mim veio ver. — ele bufou — Ao que parece nossa filha é mais importante que esses patife homem que sou, dono de casa. — brincou.
A matriarca foi até o mesmo e o beijou.
— Senti sua falta, mas nossa filha era a pessoa que eu mais precisava conversar no momento.
Ambos dirigiram seu olhar para a jovem.
— Angel, acredito que esteja na hora de você voltar a comparecer a eventos sociais. — disse sua mãe.
— Por este motivo, seu pai e eu. — a matriarca dirigiu um olhar ao marido e sorriu complice. — Aceitamos o convite de lady Sophia por você.
“Quem pombas e lady Sophia????” — pensou desesperada, a ponto de infarto.
— Sabemos que você provavelmente não se lembra de Sophia, filha do barão de Showard. Vocês eram boas amigas antes de… bem, você sabe.
Showard, ela já tinha visto este nome em algum lugar, e como um tiro, se lembrou Sophie Showard, uma das amantes do príncipe e pelo visto uma das melhores amigas da antiga Angelina.
Uma ideia maquiavélica surgiu em sua mente, ela não pode deixar de sorrir.
— Claro, será bom que eu tenha conexões, talvez…. eu consiga ter minhas lembranças de volta.
— Minha filha, sempre vamos estar aqui para você, lembre-se de nós ou não. — sua mãe sorriu para ela.
— Ah, sim. — seu pai se pronunciou. — Recebemos uma resposta do grã-duque. — ele estendeu o envelope para sua filha. — Está endereçada a você.
O coração da moça pulou algumas batidas antes que ela pegasse a carta em suas mãos. Seus dedos passaram por cima do envelope, sentindo a textura do nobre papel, e por cima do selo, onde continha um lobo e duas espadas cruzadas. Seu coração temia uma resposta negativa e sua mente ansiava por uma positiva.
Enquanto tomava coragem para abrir e ler, seus pais se retiraram silenciosamente para que ela não se sentisse pressionada e tivesse seu momento privado.
Sem mais pensar e esperar, Angelina rompeu o lacre do selo e desdobrou a carta.
“Jovem lady Angelina,Confesso que a princípio sua carta me surpreendeu. Vir ao Norte não é algo que uma dama como você faria se o motivo não fosse fugir de algo ou alguém.
Espero que possamos nos encontrar, esta noite, no Talula Table, desejo saber como conseguiu tal informação.Ali te darei minha resposta.Respeitosamente,Calix Iseid Graham.”Um homem de poucas palavras, ela admitiu, mas de tudo que foi dito, nenhuma das partes era a resposta que esperava, ela teria que ir até a taverna do grêmio para se encontrar com ele, essa a parte mais estranha, de tantos lugares, porque ali? E por que ele havia saído dos seus territórios para ir até a capital? E o que ela diria a ele? Deveria mentir? Eram apenas essas perguntas, que lhe atormentavam sua cabeça. — suspiro — Ela teria que agir e logo.
Havia tanto o que fazer, era tanta confusão, que ela começou a se arrepender de não ter tido uma morte normal.
— Mas que… — ela conteve a vontade de xingar.
Enquanto se remoía em suspiros, remorsos e pensava em uma saída da confusão que havia se metido, batidas soaram em sua porta, após a autorização sua criada pessoa, Noahlin, entrou e fez uma breve reverência.
Ela trazia em suas mãos um buquê de rosas vermelhas.
— Minha dama, sua alteza enviou este presente para vossa senhoria.
— Jogue-o fora.
— Acredito que lhe interessaria saber que informou que fará uma visita ainda hoje para saber como está.
Angelina olhou para o buquê, foi até ele e pegou um bilhete que ali estava. No mesmo, em uma caligrafia bonita e fina continha os seguintes dizeres:
“Amada Angel, — ela quase vomitou.Sinto-me triste por não ter recebido meus presentes da última vez. Mas entendo seus motivos, não fui um noivo a sua altura e fui tão pouco condescendente que não a visitei quando estava em mal momento. Mesmo sendo tarde, gostaria de corrigir meu erro.
Estarei indo a sua residência hoje às 15 horas, para que possamos tomar chá e nos tornar mais próximos.
Carinhosamente,
Karl Ulrich Emont, seu noivo.”
— Rápido! — ela disse se levantando e indo até o guarda roupa. — precisamos estar fora de casa o mais depressa possível!
A criada largou o buquê no chão e correu até sua dama para ajudá-la a escolher um vestido e se vestir.
— Para onde vamos minha dama?
— Para qualquer lugar onde aquele salafrário não me encontre. — ela disse, começando a se despir. — Chame uma criada e diga para avisar aos meus pais que estou de saída e para que preparem uma carruagem.
E foi em questão de dez minutos, ela já estava indo para fora de sua residência e como se fosse o destino, as carruagens da família Bryston e da família real não se encontraram no caminho, pois pouco depois que partiram o príncipe chegou, trazendo consigo diversos presentes.
Claro, Angelina não podia adivinhar que por pouco conseguiu escapar de um confronto, mas sabia que não poderia evitá-lo para sempre, uma hora teriam que estar frente a frente.
A carruagem entrou nas ruas movimentadas, próximo ao centro comercial, e ali a dama e a criada desceram.
Era a primeira vez que Alice, como Angelina,pisava na cidade, tirando a noite em que foi se encontrar com grêmio, quando mal podia observar ao seu redor, agora, podia ver com precisão todo o local, iluminado pela luz do sol.
A cidade era esplendorosa, tudo era colorido, se podia ouvir vozes de vendedores de ruas vendendo suas mercadorias, crianças correndo, mulheres rindo.
Era tão diferente da atualidade, ali tudo era livre. Ela respirou fundo, inalando o ar puro, e imediatamente se sentiu melhor.
— Onde deseja ir dama?
— Sempre… quer dizer, vamos a uma pâtisserie.
— Claro, gostaria que a levasse a que era sua favorita?
— Sim, por favor! — ela disse e tomou as mãos da criada nas suas.
Angelina parecia uma criança que acabara de descobrir algo novo, não que não fosse, a vida no século XIX era, obviamente, diferente do século XXI.
Elas estavam sentadas em uma pequena mesa em um interior verde e branco da pastelaria, enquanto se deliciava com uma deliciosa torta de framboesas, simplesmente deliciosa e olhava as ruas movimentadas.
Era lindo, e Angelina ficava sempre apaixonada por cada coisa, vestido ou pessoa que via. Mas logo sua atenção foi tomada quando risadas altas e esganiçadas invadiram o ambiente calmo e acolhedor do comércio. Garotas acabavam de entrar, não mantinham, respeito por quem ali já estavam. Uma delas, ao ver Angelina, correu até ela e a abraçou.— Liny, que bom te ver, por que não avisou que estaria aqui, poderia ter se juntado a nós!Angelina olhou a jovem dos pés à cabeça e não pôde deixar de franzir o cenho ela era estranha.Ela era bonita mas não usava nada que a favorecesse, muita maquiagem, um penteado espalhafatoso alto e cheio de cachos e um vestido que fazia seus seios quase saltarem para fora.Em busca de ajuda, Angelina olhou para sua dama que sussurrou o nome da jovem: ”Sophia Showard”.Tornou a olhar a jovem à sua frente e riu de forma nasal irônica.— Senhorita Showard, não há reconheci, está… diferente…— Gostou? Esta é a nova moda que estou lançando, torna a beleza das mulhe
Eles estavam se encarando.Ela não entendia, como ele poderia ser tão lindo e tão sério ao mesmo tempo.— Acredito que temos assuntos a tratar, acho que você não deseja discutir isso em um beco. Venha comigo. — ele estendeu a mão para ela.— Estou com minha criada, preciso que…— Eu digo a ela. — Kelliny se pronunciou — Se o Grã-duque veio até você para conversar, não acho que você deva desviar do proposto.— Não posso deixá-la sozinha, você me disse que sua criada a espera perto da floricultura.— Não é muito longe, consigo ir sozinha, ninguém vai apontar o dedo para mim e dizer nada, sou Kelliny Francis Kulrich, a filha de um duque, quem ousaria me difamar? — um leve sorriso de canto de lábios surgiu na dama.Angelina sabia que a nova amiga, era realmente uma pessoa que reles mortais não ousariam difamar, mas ela era uma mulher, em qualquer sociedade e época, sempre foi perigoso, não que exista algo como sexo frágil, mas existem pessoas ruins no mundo, que olham o gênero antes de at
— Lorde Graham, acredito que tenha sido surpreendido por minha carta.— Bem, imagine como eu me senti ao ver que uma jovem de vinte e poucos estava me pondo contra a parede quando uma resposta e que não se tratava de um compromisso. — ele se encontrou no sofá, cruzou os braços a olhou — Imagine minha surpresa quando essa mesma jovem ao fim de sua carta me disse que seríamos atacados, não só me deu o local como estava certa. — ele semicerrou os olhos.Ela engoliu em seco.— Veja... eu... bem…— Você não é uma traidora, isso tenho certeza, também sei que não comprou informações ou algo do tipo do outro lado, você é calada, reclusa, comparece a pouco eventos sociais e estuda muito para ser adequada para o cargo de princesa he
Uma ideia lhe veio a mente, e de todas as formas o não ela já tinha, e ele já teria uma justificativa na ponta da maldita língua.— Então case comigo!— Você está noiva.— Isso não nos impediria, pelo contrário ajudaria a romper o noivado.Eles ficaram em silêncio. Não ousando dizer uma palavra se quer, com medo de que o que quer que fosse dito, os levassem para um caminho sem volta. Pela primeira vez desde que esse assunto começou o Calix não tinha uma resposta, ele não sabia o que dizer.— Você não sabe o que está dizendo. — ele disse por fim.— Pelos céus! — ela exclamou e se levantou revoltada — você está sendo misógino!
“A vida é feita de escolhas e eu acredito que em algum momento eu devo ter escolhido o que estou passando hoje, pois não era possível que alguém poderia não passar para a paz eterna e ter que aturar uma vida conturbada. Senhor, se em algum momento eu reclamei da minha, me perdoe, mas não foi isso que pedi não.” Angelina pensou com um suspiro.Ela esperou.Após a conversa com o grã-duque, ela realmente esperou, mas ele não veio, ela não o viu ou sentiu sua sombra, e isso tinha dois dias, ela estava ansiosa.Enquanto isso, Asher estava de volta, quando seus pais o questionaram sobre o motivo, ele apenas informou que estava ali a mando do senhor Norte, O salafrário, como sua irmã se referia a ele agora, servia ao templo, mas continuava a obedecer ao duque, o motivo era simples, todos aquele mandados ao Norte, mesmo sob o tí
— Minha noiva eu… — Guarde uma coisa nessa sua cabeça. — ela o olhava com ódio — Não sou e nunca serei sua, Alteza! — Angelina, por favor, não faça isso conosco. — ele se adiantou e a segurou em seus braços a abraçando, ela se contorceu tentando sair — Eu te amo, você sabe disso, melhor que ninguém jamais será capaz de ocupar seu lugar em meu coração. — ela parou e ele viu que ela estava mais alma. “Palavras doces.” — seu pai dissera uma vez. — “Isso será capaz de acalmar até as mais bravas e valentes mulheres.” Ela tentou se afastar um pouco e ele permitiu, mas não permitindo que ela fosse muito longe de seu alcance. Ela ergueu a cabeça e ele pode ver, pela primeira vez que os olhos antes opacos, sem vida e resignados, aqueles olhos que o fizeram implorar ao pai quando pequeno que o noiva-se com a jovem, ardiam, cardiam com intenso fogo, como se
“Sempre desconfiei que Asher fosse adotado, dentre todos os membros da família Bryston que eu pude conhecer, ele e Luke eram tão diferentes, mas a verdade era inevitável, a adotada talvez fosse eu, quer dizer, Angelina” Alice, como Angelina questionava seriamente o seu “irmão”, ele era grande mas não muito inteligente ou talvez ele fosse muito inteligente mas gostasse de fazer cena, ela ainda tentava descobrir. Enquanto a carruagem se distanciava da residência da família da jovem e entrava em outro terreno ela suspirou, ainda tentando digerir todos os acontecimentos, não sabia como havia chegado a tal situação. A não morte dela no acidente causou um efeito borboleta, a história havia desandado. — Senhorita, soube que sua alteza tem estado trancado em seu quarto e não recebe visitas, se recusa a comparecer a qualquer evento que seja. Ela já sabia disso, essa poderia ser dita como a vantagem de ter ao seu lado um grêmio de informações, já h
O silêncio do quarto era sufocante.Karl estava deitado na poltrona, ainda com o rosto contraído de dor, apesar das compressas e poções aplicadas desde que fora levado de volta ao palácio. Nenhuma curandeira ousava tocar muito nas “joias reais” desde o incidente. Aparentemente, o orgulho era o órgão mais afetado.Ele apertou os olhos, lembrando da última imagem que teve dela — da noiva que antes mal ousava encará-lo, e que agora o chutara com a força de um touro enraivecido.Angelina.Não, ele pensou, ela não era mais a Angelina que ele conhecia. Aquela jovem submissa, de olhos baixos e fala doce. Agora ela falava com sarcasmo, ria de suas flores, desafiava sua autoridade... e o chutava. Literalmente.A porta se abriu, e o rei entrou sem bater. Como sempre.Karl, ainda na poltrona, endireitou-se por reflexo. Mesmo ferido, mesmo humilhado, jamais ousaria demonstrar fraqueza diante dele.Era o rei.Karl se ajeitou na poltrona, apertando os dentes para não demonstrar o desconforto físico