A água quente ainda escorria pelo fundo da pia quando Melody ouviu o chamado de Ida vindo do corredor. A voz não veio seca, como de costume — veio mais baixa, quase gentil.
— Vem comigo um instante. Tenho algo pra te mostrar.
Melody enxugou as mãos no avental e a seguiu sem fazer perguntas. No fim do corredor, Ida abriu a porta do antigo quarto de despejo. O ar ali dentro era mais frio, denso, com cheiro de madeira, pano guardado e lembrança velha demais pra ser varrida. O chão estalava levemente sob os pés, e as sombras se alongavam nos cantos como se não quisessem ser perturbadas.
— O aniversário de Rose é amanhã — disse Ida, caminhando direto até um baú largo de couro envelhecido. — Um aninho. Nada de festa, mas Duncan achou que seria bom fazer um jantar. Só nós três. E... pediu que você escolhesse uns vestidos.
Ela falava como quem menciona o clima, mas Melody sentiu o peso nas entrelinhas.
— Vestidos? Por quê?
— Porque você não vai sentar à mesa vestida como quem ainda tá fugindo