Capítulo 3
— Ele não vai tocá-la. Nunca mais — disse ele, a promessa em sua voz tão firme quanto o aço. — Eu vou destruí-lo. Se ele tentar vir atrás de você... eu mesmo o matarei. Está entendido? Aurora não respondeu, mas algo mudou em seu rosto. A tensão diminuiu um pouco, como se ela sentisse que, por um momento, pudesse ter algum tipo de controle sobre a situação. Mas o delírio ainda a consumia. — Fuga... quero ir embora... — murmurou novamente, com a voz rouca, os olhos agora se movendo freneticamente atrás das pálpebras. — Não quero ficar... em prisão... não posso... Cael, vendo o sofrimento dela, se sentiu impotente, como se nada que ele pudesse fazer fosse suficiente para curá-la. Mas ele não se afastaria. Ele não iria deixá-la. A jovem havia se tornado sua responsabilidade,sua Luna, e ele não falharia com ela. Ele levantou-se e se afastou por um momento, sentindo um peso crescente em seus ombros. Caminhou até a janela e olhou para o céu, onde a lua cheia se erguia com uma serenidade que contrastava com o caos em seu coração. A Lua, sempre a mesma, silenciosa e distante, parecia assistir a tudo, como se estivesse lembrando-o de seu dever. Ele voltou para a cama, se agachando ao lado dela, observando-a com um olhar terno e, ao mesmo tempo, feroz. Ele sabia que, embora os pesadelos de Aurora fossem poderosos, ele poderia ser a âncora para ela. Ele poderia ser a luz que a guiaria através da escuridão. — Pequena, eu estou aqui. Sempre estarei. — Ele falou suavemente, mas com uma intensidade que ela não poderia ignorar. — Você não precisa mais fugir. Você está segura agora, minha Luna. Ninguém vai mais prendê-la. Eu prometo. Ela parecia relaxar um pouco, como se as palavras dele, mesmo em seu estado confuso, a alcançassem de alguma forma. Seus lábios tremiam, como se ela quisesse falar, mas as palavras a escapavam. Cael se deitou na cama ao lado dela, sua mão encontrando a dela mais uma vez. Ele se deitou de costas, seus olhos fechados com força enquanto ele se forçava a controlar a raiva e a dor dentro de si. Ele sabia que havia muito a fazer. Mas por agora, a única coisa que ele podia fazer era permanecer ao lado dela, segurando sua mão enquanto ela lutava para se libertar de seus próprios demônios. *** O Alfa Blackthorn, imbatível em batalha, sentia-se impotente diante da jovem que tinha agora em seus braços. Mas ele não a deixaria. Ele nunca a deixaria ir. Ela era dele, e ele a protegeria com sua vida. O quarto de Cael estava iluminado apenas pela luz fraca das chamas. O cheiro de cedro e terra era reconfortante, mas nada comparado à sensação crescente que dominava o Alfa. Ele estava ali, o olhar fixo nela, sua presença imponente contrastando com o cuidado delicado com que ele a tratava. Aurora estava em um sono profundo, mas seus espasmos não cessavam. Cada movimento dela fazia seu corpo frágil se contorcer, e cada gemido que escapava de seus lábios fazia o coração de Cael bater mais rápido. Ele podia sentir a angústia dela, o medo que ainda corria nas suas veias, apesar de estar fisicamente a salvo. Cael permaneceu ali, sem mover-se, seus olhos atentos a cada suspiro, a cada respiração. A cada vez que ela se agitava, ele a acalmava, passando a mão por seu cabelo molhado de suor, afastando as mechas de seu rosto. Cada movimento seu era uma tentativa de afastar os pesadelos que a consumiam, como se o simples toque pudesse acalmar as tempestades dentro dela. Ela murmurou novamente, palavras sem sentido que ele não conseguia entender completamente, mas ele sabia. Ele sabia que os demônios internos dela ainda estavam muito vivos, e ele não a deixaria enfrentá-los sozinha. Com a suavidade que ninguém jamais imaginaria vindo dele, Cael levantou sua mão e, com a ponta dos dedos, limpou o suor de sua testa. O gesto era simples, mas repleto de algo que ele mal compreendia, uma ternura que ele nunca havia mostrado a ninguém, nem mesmo à sua própria matilha. O instinto protetor que crescia dentro dele era forte. Ele não poderia deixá-la sozinha. Não agora. Não, nunca mais. O vínculo entre eles estava se fortalecendo a cada instante, cada suspiro dela, cada toque seu. Ela se mexeu de novo, seus dedos tremendo enquanto ela tentava se agarrar ao lençol. Ela estava presa em algum pesadelo, lutando contra os horrores de seu passado. A dor dela era palpável, e isso fez a fera dentro dele rosnar, insatisfeita. O Lobo de Cael sentia, também, a necessidade de proteger a companheira. Era uma ligação tão forte que ele mal conseguia controlá-la. — Shh... está tudo bem, minha Luna — sussurrou Cael, sua voz suave, que contrastava com o usual tom imponente e autoritário. Ele segurou a mão dela, apertando-a com cuidado, como se ela fosse feita de vidro. — Você está segura agora. Eu estou aqui. Você não está mais sozinha. Aurora respirou fundo, como se as palavras dele começassem a penetrar em sua mente confusa. Seus olhos se moveram atrás das pálpebras, e um pequeno suspiro escapou de seus lábios, como se ela estivesse se agarrando àquela sensação de segurança que ele lhe oferecia. A dor que Cael sentia por ela era quase física. Seu instinto de lobo queria caçar, queria destruir tudo o que havia feito Aurora sofrer. Mas ele sabia que a violência não era a resposta. Ela precisava de algo mais agora, ela precisava dele, não como um Alfa, mas como seu companheiro. Ela precisava de sua presença, de seu conforto, de seu amor. Ele ainda não sabia o que isso significava completamente, mas estava disposto a aprender. As horas se passaram lentamente, dentro do quarto, Aurora começou a relaxar, seus espasmos diminuindo, a respiração ficando mais regular. Cael não se afastava, nem por um segundo. A cada movimento dela, ele estava lá, assegurando que nada a ferisse. Ele sabia que a ligação deles estava mais forte do que qualquer coisa que ele já tivesse experimentado. Com um suspiro profundo, ele se inclinou mais perto, seus dedos acariciando suavemente o rosto de Aurora. Ele observou seu rosto sereno, agora sem o contorno de dor que antes marcava suas expressões. Mas ele sabia que ainda havia muito por curar, muito mais do que apenas o corpo dela.