Prólogo II

Aria Duarte

2 Anos antes...

Nada se compara a sensação de liberdade no livre galope, o encontro do vento com a pele, os fios de cabelos deixando as madeixas soltas, tornando-se desamparadas entregues ao vento a cada salto,  a mistura do ar limpido junto as batidas amparadas de um coração.

A cada saltar dentro do peito que se acelera e ao mesmo tempo acha a calma, o encontro de ir para cima epara baixo como quem encontrar o chão.

O gosto de ser livre, ser quem sou a cada respirar,  entrego-me a cada salto, o galope fumegante, a liberdade sentida que me faz fechar os olhos é como se eu e o meu cavalo fôssemos apenas um, um único ser, somente um coração, com quem compartilho cada emoção a flor da pele em cada passo, a cada salto. 

— Ária! — O que faz de cada encontro ser único, pois infelizmente que algumas vezes é interrompido, mas afinal tudo que é bom, dura pouco. — Ária? Preciso falar com você! — A voz feminina mediana me chama desta vez a mostrar algo na mão. 

— Ei Ária! — As chamadas constantes, me fazem diminuir a corrida, até parar, diminuindo o galope, afrouxo as rédeas que controlam Sansão, e de pouco a pouco, a ventania se acalma, pausando por alguns instantes em busca de onde vem a voz calma e doce de Carol apenas olho para trás, até ver Carol do outro lado, atrás do cercado apoiada a madeira, me olhando seriamente de lá. 

— O Que foi? — Pergunto calvagando em sua direção, indo para ela agora, que com um semblante serio a minha espera, observa-me. 

—  Se te fizer vontade você não faz mais nada, quando chega aqui — Uma afirmação que não preciso confirmar, todos sabem disso. Sorrio devagar a constatar o que diz, o que não é mentira. 

— Não é porque a competição acabou que eu vou parar de treinar, não se faz campeã da noite pra o dia. — Digo num impeto de riso, contendo também orgulho, por ter ganho em primeiro lugar nos ultimos anos, olho para Caroline de pé, vindo em minha direção,  me olhando, enquanto noto seu semblante um pouco pesado, apesar do riso disfarçante, o que me faz inspirar fundo, sorrio fraco.

Vendo a mulher negra, cabelos cacheados, soltos até a altura dos quadris me olhando, usando um vestido rosa fraco de alcinhas sem dizer nada, vindo em minha direção, franzo um pouco cenho, avanço montada sobre Sansão, possibilitando estar mais perto.

Estranho ao vê-la aqui hoje. — Posso saber o que fazer aqui em pleno sábado? — Indago, vendo a minha melhor amiga, revirar os olhos e inspirar fundo ao pensar no que irá me dizer, caminhando até mim. 

— Yan me ligou, já ligou para você milhares de vezes e advinha? — Diz séria estendendo a mão, mostrando-me o aparelho celular. 

Lamento fraco, olho para o aparelho. — Já disse pra ele não te incomodar, hoje é sábado, sua folga da faculdade. — Digo descendo do meu cavalo, evitando pegar o aparelho, porque não quero falar com ele, vim para relaxar, esfriar a cabeça em meio a essa pressão de provas.

Desço num salto para o chão, sem dificuldades, deixando as rédeas de Sansão de lado, aliso vagamente seu pêlo, pensando em qual motivo Yan ligou tanto, haviamos marcado algo? Hoje não é dia dele ficar com meu pai? Não me recordo de ter marcado compromisso hoje, apenas me lembro que o meu namorado hoje vai passar o dia com o meu pai. — Ele não está com o meu pai? 

Aliso o pêlo escuro do belo manga-larga, enquanto espero a resposta da minha melhor amiga. Até ver que demora a responder, a olho novamente, em busca de uma resposta. — Ária, não acha que deveria ao menos passar para ver eles hoje? Sabe que aquela mulherzinha vai estar lá, e mesmo que ele...— Nego, sem escutar o que diz. 

— Você sabe que eu jamais perderia meu tempo com isso, Yan jamais faria algo deste tipo, sem contar que a dias que foco nos estudos e não tenho dado atenção a Sansão suficiente,  além disso estive com o Yan ontem. — Lhe vendo deixar de mim olhar, analisa o seu celular a olhar em seguida paro de falar com o toque que se inicia.

— É ele! — Caroline avisa colocando o aparelho para que eu veja a tela, o nome Tenente Yan a aparecer na tela, apenas torço devagar os meus lábios, enquanto vislumbro o aparelho em sua mão, Carol ainda me observa, até que pego o celular da sua mão, atendendo em seguida, lhe vendo a me olhar seria.

— Oi Yan — Vejo Carol me olhar, adoraria que ela continuasse a ser a minha fiel amiga de antes e não se transformasse em qualquer tipo de cupido, disposto a abandonar a cidade para vir atrás de mim. 

— Amor —  A voz firme vem do outro, enquanto troco um olhar Caroline que me olha curiosa, o tom penetrante invadido o meu ouvido. — Oi Yan, tudo bem? Estou no haras, vim... — Indago vendo Carol ir para longe, dando a privacidade que ela diz que um casal tem que ter.

Mas ele nem se quer escuta. — Você pode vir para cá agora?—  A sua voz descontrolada num tom um pouco mais dominante, não é um pedido como costuma acontecer, isso me preocupa.

— O que houve? Por que? — Pergunto preocupada, ele está com o meu pai. 

— COF ... COF— Tosse vem em resposta.

— Senhor, teremos que levá-lo ao hospital… — Uma voz feminina junto a tosse do meu pai ao fundo se misturam.

— Não vou, não quero ir a lugar algum... COF... senhor Duarte é o melhor para o senhor, estou ao telefone com a Ária…— As vozes do meu pai, com tosse juntando-se a Yan se misturam por fim.

— Ária? — A voz do meu pai se torna, enquanto fico mais tensa, ao desconfiar de mais uma crise.

— Pai, o que houve? Esta tendo mais uma crise daquelas? — Pergunto enquanto ele tosse mais.

— Ária, desculpe, mas, o seu pai não está bem. —  Yan diz seriamente.

— Estou indo pra ai. — Digo sem pensar duas vezes. 

— Você vai demorar para chegar e ele está tossindo muito, colocou bastante sangue pra fora. — Yan falar de repente, me fazendo entender a emergência, daqui para casa é muito tempo de estrada. 

— Não! — Ouço o meu pai gritar ao fundo, deixando-me ainda mais preocupada, ele odeia hospital, médicos.

— Vou com o doutor Roberto, ele conhece melhor que todos o problema do meu pai, vou chama-lo... — Tento negociar diante ao despero de quem é vítima de tuberculose, além de lidar com a doença ainda tem o preconceito das pessoas. 

— Ele já esta aqui, seu pai acabou de colocar bastante sangue para fora, não há melhor a ser feito, a não ser levá-lo para o hospital, eu preciso da sua autorização para levá-lo, caso contrário... — Meu noivo diz, ignorando vozes ao fundo. 

— Esta bem, eu autorizo, se é para o bem dele, tudo bem, estou indo o mais rápido que eu puder, Yan por favor cuide do meu pai, fique com ele até eu chegar, por favor. — Não peço, suplico, por saber e conhecer de perto o preconceito que as pessoas tem, mas a verdade é ninguém tem culpa de ficar doente deste jeito. — Claro, meu amor, claro, ele vai ficar bem. — Fecho os olhos sentindo as lágrimas descerem. 

— Sim, eu sei que vai! — Tento ser confiante.  Desnorteada saio do haras, apressada, a tarde ensolarada indo embora pouco a pouco até que chego a cidade, a noite chega nublada, com ameaças de chuva, para mim não haveria impedimentos algum, ao saber que o meu pai está internado, mas nenhuma medicação fazia efeito, seu corpo resistia a qualquer medicação, permitindo o sangramento continuo e até mesmo aumentar, tudo me deixando mais nervosa, a velocidade já não era mais um problema para mim, quanto mais rápido eu pudesse chegar, tornando esse único objetivo, com medo sem pudor que avancei pelas ruas, até o meu carro se chocar em outro veículo. 

O carro b**e em outro veículo, cinza luxuoso destes que são os queridinhos dos ricos no momento, revoltada por o carro está atrapalhando a minha passagem, insistir consecutiva vezes pisando mais firme na embreagem, a intenção era avançar, mesmo que isso fosse passar por cima da ruma de ferragem a minha frente.

Não me importava com o maldito carro, se seria uma Ferrari de algum rico, acelero por duas vezes empurrando o carro para trás, até escutar o ronco do motor e os faróis serem acessos contra mim, cegando-me e como resposta fiz o mesmo, acendi os faróis, como a pessoa do outro lado fizeram, buzino apressadamente em alerta para que o idiota do outro lado tire o seu montante de ferro novo amassado da minha frente, até que a porta cinza é aberta.

E como do outro carro, também o fiz, enfiei a mão na porta do meu carro abrindo-o, saindo em seguida, não me importava quem fosse, saindo do meu caminho era o melhor a ser feito, andei em direção ao homem de blusa branca, mangas arregaçadas, cabelos negros bagunçados, calça social, vendo os seus fios de cabelos molhados, o que me fez notar que chovia.

— Dá pra tirar esse montante de lata velha do meu caminho. — O homem mal desceu, vociferando para mim, caminhando em minha direção.  Quando penso que chegará até mim, com o engrossar da chuva, me dá as costas para voltar para o carro, costas largas, ombros largos, mechas loiras, pela roupa um verdadeiro playboy estava a minha frente, agora voltando ao volante. 

— Tire você! Essa porcaria da minha frente!— Digo mais alto, quem ele acha que é para mim dá ordens, quando ele também bateu em meu carro? Girando nos calcanhares vira-se de imediato, revelando um par de olhos azuis, submerssos em perspicásia e dominância.

Sem piscar o encarei em aviso, as gotas de chuva a engrossar caindo sem parar, molhando-me, encharcando-me de maneira abrupta. —  Quem você pensa que é para falar comigo? Para ousar gritar deste jeito? —  Diz petulante, como se me assustasse, expiro profundo sem paciência, pelos seus trapos disfarçados de roupas importadas não valia a pena responder. Meu pai valia mais do que qualquer infeliz na face da terra. — Idiota!

O xingo dando as costas em resposta, ouço a sua gargalhada, o que me faz desconfiar que seja mais um bêbado, lhe vendo próximo ao seu carro, deslizar a mão pelos cabelos sem importasse com a chuva, para me dá certeza a cambalear. — Você, aliás, que teve a coragem de te entregar esse monte de lata velha! - Diz exibindo sua embriaguez, o que me faz notar que não vale a pena responder.

Entro no carro rapidamente, ligo o motor a lhe olhar, não irei perder o meu tempo com isto, ao acelerar não lhe vejo ir embora do lugar, persistindo de pé no mesmo lugar, talvez a gabar-se do carro luxuoso amassado, enquanto ele se manteve de pé ao lado do seu brinquedo apenas executo a missão de retroceder. 

As estradas de Paraíso do valle são estreitas, cidade pequena, mesmo tentando não há como passar, a estrada de mão única, a pressa é a minha certeza, já me atrsei demais, ao manter firmeza na minha ação, o homem a me olhar recuou de repente, deixando o carro de lado pulando para longe, ao desviar do seu veículo, ralhando no seu, certamente arranhando a lataria nova. — Louca! 

O ouço gritar, apenas sigo o meu destino em direção ao hospital, avanço mesmo com o capô do carro amassado e embora não seja uma Ferrari, eu jamais trocaria o meu potente motor ano 92 por qualquer outro.

Instantes depois chego ao hospital, desço apressadamente deixando o carro aberto, indo em direção à porta de entrada de emergência, um sábado a noite com poucas pessoas a transitar no ambiente, caminho até a recepção vendo uma recepcionista alta, cabelos castanhos, blusa listrada em preto e branco.

— Olá, boa noite!— Filtrou-me com olhos castanhos esverdeados, fazendo um bico ainda indecisa se me olhava ou para a tela do computador. Nos encaramos por curto segundos. — O meu pai, o meu pai está internado aqui. — Informo apoiada ao balcão frio de madeira.

— Boa noite…— Olhou -me com olhos vazios ainda a fazer um charme com seus lábios unidos.

— Nome, por favor. — Ao dizer e ser informada do quarto, caminho pelo corredor branco com pedras amareladas com desenhos de flores azuis finas, chego ao quarto trinta e dois, logo vendo Yan de pé, os seus olhos negros veem na minha direção como se soubesse ou fosse anunciada a minha chegada. — Como ele está? 

Os meus olhos logo estavam sobre o meu pai deitado na cama, o seu olhar terno, calmo, carinhoso veio ao encontro do meu assim que escutou a minha voz. — Amor, ele... — Yan diz, enquanto meu pai estende para mim uma das mãos, amarela, pálida, sem cor. 

Apresso-me para perto da cama. — Ária, filha — A voz sai frágil, tão fraca, vendo o lençol branco sujo de sangue, assusto-me, enquanto a minha mão envolveu a mão grande, firme que sempre me acolheu. — Pai!— Uma de tosse inicia -se, acariciei suas costas, enquanto Ian me alisando os ombros. - Gilda... Gilda… a sua mãe está viva... COF… COF... a Gilda Vieira Senna… COF...

- Pai, pai por favor não faça esforço, água, chama o doutor, Ian, socorro! - Berrei por fim, meu pai tossiu escarrando uma poça de sangue maior, o que era um escarro enquanto ele tentava dizer, explodiu em vômito vermelho, ele não dizia coisa com coisa, a minha mãe, ela já estava morta, eu acreditava nisso.- Senhor Duarte não se esforce. - Meu namorado falou, mas a sua mão ir perdendo força, a sua pele empalidecendo, a voz e a tosse falhando. - Filha me perdoe, eu só queria... queria...

Capítulos gratis disponibles en la App >

Capítulos relacionados

Último capítulo