As palavras o atingiram com força, e Gabriel sentiu o coração acelerar. Ele queria negar, dizer que Giana estava exagerando, que Elana era apenas uma autora, uma cliente, alguém que ele estava ajudando com um livro. Ele e Elana tinham sido mais do que amigos na adolescência, mesmo que nunca tivessem cruzado a linha. Ela fora a pessoa que ele conhecera melhor do que a si mesmo, a garota por quem se apaixonara em silêncio, e essa conexão, mesmo depois de anos, ainda estava lá, viva, complicando tudo. Mas Giana não sabia disso. E Gabriel não tinha intenção de deixar que ela soubesse. Ele descruzou os braços, endireitando a postura, e fixou os olhos nos dela, a voz ganhando uma firmeza que ele não sentia completamente. — Sabe, Giana, essa sua tentativa de virar tudo para cima de mim não está funcionando. — disse ele, o tom calmo, mas carregado de uma determinação que surpreendeu até a si mesmo. — Você quer falar sobre Elana, sobre o que eu sei ou não sei dela? Tudo bem. Mas isso não mu
O som da porta do quarto batendo ressoou pela casa, mas Gabriel não se mexeu. Ele deveria sentir culpa, talvez correr atrás dela, consolar sua esposa como faria em outro momento. Mas, dessa vez, ele não sentiu nada além de uma exaustão profunda. O choro de Giana, a indignação, tudo parecia uma cortina para esconder a verdade; sobre Lara, sobre o dinheiro, sobre o que quer que estivesse acontecendo. E, no fundo, ele não se importava mais com a encenação. Sem dizer uma palavra, Gabriel pegou o celular e caminhou pelo corredor até o escritório. Ele fechou a porta atrás de si, o silêncio do ambiente contrastando com a tempestade em sua mente. Sentou-se à mesa, o laptop fechado à sua frente, e pegou o celular. Uma mensagem não enviada para Elana ainda estava lá. “gabriel@editorabuzzy.com não se esqueça dos capítulos. E Elana, se Ryan tentar algo que você não queira, me avise. Ainda sou seu guardião da felicidade.” Ele hesitou, o polegar pairando sobre o botão de enviar, mas apagou a men
Elana sentiu o rosto esquentar, e ela desviou o olhar, fingindo ajustar a bolsa. — Não tem boy nenhum, Bella. — disse, tentando soar casual, mas a voz traiu uma ponta de frustração. — Desde aquele jantar com o Ryan, ele sumiu. Não apareceu mais, não mandou mensagem, nada. — Ela deu de ombros, tentando disfarçar o quanto a ausência dele a incomodava. — E o Gabriel… bom, eu enviei os capítulos que escrevi para ele, mas também não falou mais comigo desde o almoço. Acho que estão ocupados... sei lá. Isabella parou de arrastar a mala, os olhos arregalados com uma mistura de surpresa e indignação. — Como assim? O Ryan, aquele todo charmoso que você me contou, te deu um perdido? E o primeiro amor, barra melhor amigo, barra editor dos seus sonhos, também te deixou no vácuo? — Ela colocou as mãos na cintura, o tom subindo. — Elana, o que está acontecendo? Você está escrevendo um romance ou estrelando um drama digno de novela? Elana riu, apesar do peso no peito. — Não é drama, beleza? —
O som estridente de um copo se estilhaçando contra a parede preencheu a sala. O peito de Elana subia e descia rapidamente, o coração martelando no peito como se quisesse escapar da dor que a sufocava. Diante dela, Michael mantinha os braços erguidos, como se pudesse se defender das acusações que caíam sobre ele como uma tempestade. — Você acha que eu sou estúpida, Michael? — A voz dela saiu embargada, mas firme. — Eu vi as mensagens, eu vi as fotos. Não tem mais desculpas, não tem mais mentiras. Michael passou a mão pelos cabelos escuros, o rosto contraído em uma expressão de exasperação. — Elana, não é o que você está pensando... Ela soltou uma risada amarga. — Não? Então me explica, porque pelo que eu vi, você está com outra mulher! Faz tempo, não faz? — Seus olhos ardiam, mas ela se recusava a chorar. Não na frente dele. O silêncio que se seguiu foi a confirmação que ela precisava. Michael desviou o olhar, os ombros caídos em derrota. Ele não tinha nada a dizer. Nenhuma jus
Elana inspirou fundo, tentando recuperar o controle. Ela não podia se permitir desmoronar completamente. Já tinha chorado demais. Passou as mãos pelo rosto, secando as lágrimas, e endireitou os ombros. Precisava sair dali. Precisava ir para um lugar onde ainda houvesse um resquício de segurança, onde não se sentisse tão perdida e sozinha. Ligou o carro e saiu do estacionamento com as mãos firmes no volante, mas seu coração ainda estava em pedaços. A cidade passava por ela em flashes borrados pelas lágrimas remanescentes, e cada semáforo parecia um lembrete cruel de que sua vida estava em pausa, parada no momento exato em que descobriu a traição. Quando finalmente chegou ao prédio de Isabella, estacionou sem se preocupar se estava alinhada corretamente. Saiu do carro, pegou sua mala e atravessou o pequeno jardim que levava à entrada. Seus passos estavam pesados, e o cansaço emocional ameaçava derrubá-la a qualquer momento. Apertou a campainha e esperou, o coração batendo forte contr
Elana sorriu de forma melancólica, porém aliviada de ter alguém que realmente se importe com ela. O telefone continuava tocando incessantemente, deixando Elana irritada. — Quem é? — Isabella pergunta, ao ver a amiga soltar o aparelho pela terceira vez. — Sei lá. É restrito. Provavelmente aquele imbecil do Michael ligando para me perturbar. Isabella bufou, pegou o telefone de Elana e atendeu sem hesitar. — Olha aqui, seu cretino! A Elana não quer falar com você! Some da vida dela, seu desgraçado! Eu juro que se você continuar ligando, eu mesma vou aí te socar até você se arrepender de ter nascido! Os olhos de Isabella se arregalam, quando ela ouve a voz do outro lado da linha. Com um sorriso sem graça, ela estica o telefone para Elana. — Não é o Michael. Elana franziu a testa, pegando o telefone hesitante. — Alô? Uma voz masculina, firme e profissional, soou do outro lado. — Boa noite, senhora Elana. Meu nome é Antony Shell, sou advogado da família Kingsley. Preciso falar
Com a escritura e as chaves em mãos, Elana cruzou o pequeno jardim da frente, onde a grama crescia de forma desigual. Pequenas flores ainda tentavam sobreviver em meio às folhas secas que se acumulavam nos canteiros. Seu olhar vagou pelo espaço, reconhecendo cada detalhe e ao mesmo tempo sentindo que aquele lugar não lhe pertencia mais. Parando diante da porta, passou os dedos pela madeira áspera antes de inserir a chave na fechadura. A maçaneta girou com um leve estalo, e a porta se abriu com um rangido baixo. O cheiro do interior da casa a atingiu imediatamente: um misto de poeira, madeira envelhecida e um perfume distante que lhe era estranhamente familiar. O coração de Elana deu um salto no peito. Ela entrou hesitante, os passos ecoando no piso de madeira. A sala ainda tinha os mesmos móveis, embora cobertos por lençóis brancos que acumulavam poeira. O sofá, onde sua mãe costumava sentar-se com uma xícara de chá, estava no mesmo lugar. A estante de livros ainda exibia os mesmos
Agora, anos depois, ela segurava aquela mesma carta em suas mãos. As palavras, ainda tão vívidas, traziam de volta um passado que ela tentou esquecer. Com a respiração entrecortada, ela deslizou os dedos pelo papel amarelado, sentindo as lágrimas arderem em seus olhos. [...]Elana ainda segurava as cartas nas mãos quando algo lhe chamou a atenção. No fundo da pequena caixa metálica, havia um amarrado de cartas diferente dos outros. O papel amarelado pelo tempo estava preso por uma fita vermelha desbotada, e o nome "Gabriel" fora escrito à mão na parte superior da primeira folha. Seu coração acelerou. Gabriel. Seu melhor amigo de infância e adolescência. A única pessoa que a fizera sentir que não estava completamente sozinha naquele mundo. Seus dedos deslizaram pela fita antes de desfazê-la com cuidado. Dentro daquele maço de cartas, escondiam-se palavras que ela nunca teve coragem de dizer em voz alta. Com um suspiro trêmulo, Elana puxou uma das cartas e começou a ler. “Meu querid