Ela riu alto, virando-se brevemente para olhar Gabriel através da janela do carro, o som da risada ecoando na rua silenciosa. — Você e seu casal! — gritou ela de volta, balançando a cabeça com um sorriso divertido. — Não estraguei nada ainda, ok? Se comporte! — Ela acenou uma última vez antes de se virar e subir os degraus de casa, a bolsa balançando no ombro. Gabriel riu baixo, o som abafado pelo ronco suave do motor enquanto ligava o carro e começava a manobrar para sair. Mas, à medida que a casa de Elana desaparecia no retrovisor, o sorriso dele foi se desfazendo, dando lugar a uma expressão mais pensativa. Ele tamborilou os dedos no volante, os olhos fixos na rua à frente, mas a mente claramente em outro lugar. Elana e Ryan. O nome do advogado que odiava gravatas ficava voltando à sua cabeça, como uma música que ele não conseguia parar de ouvir. Ele não podia negar que a ideia de Elana saindo com alguém o incomodava mais do que gostaria de admitir. Ele parou em um semáforo, o
A empolgação de Giana evaporou como se alguém tivesse apagado uma luz. Ela o encarou, surpresa, o celular ainda na mão, mas agora esquecido, a tela escurecendo automaticamente. Seus olhos, que momentos antes brilhavam com a animação fútil dos sapatos, agora carregavam um misto de cautela e culpa. — O quê? — perguntou ela, a voz mais aguda, como se estivesse ganhando tempo. — Que mulher? Do que você está falando? Gabriel sustentou o olhar dela. Ele notou o leve franzir de cenho, o jeito como ela cruzou os braços, quase instintivamente, como se quisesse se proteger. — A Elana viu você na cafeteria. — disse ele, mantendo o tom calmo, mas firme. — Outro dia. Você estava com uma mulher. Quem era? Giana piscou. Ela desviou o olhar por um instante, fixando-se em algum ponto do tapete, antes de voltar a encará-lo. — Sério, Gabriel? — disse ela, o tom agora com uma ponta de sarcasmo. — Você está me interrogando por causa de algo que uma autora disse? Não acredito que você está dando tre
As palavras o atingiram com força, e Gabriel sentiu o coração acelerar. Ele queria negar, dizer que Giana estava exagerando, que Elana era apenas uma autora, uma cliente, alguém que ele estava ajudando com um livro. Ele e Elana tinham sido mais do que amigos na adolescência, mesmo que nunca tivessem cruzado a linha. Ela fora a pessoa que ele conhecera melhor do que a si mesmo, a garota por quem se apaixonara em silêncio, e essa conexão, mesmo depois de anos, ainda estava lá, viva, complicando tudo. Mas Giana não sabia disso. E Gabriel não tinha intenção de deixar que ela soubesse. Ele descruzou os braços, endireitando a postura, e fixou os olhos nos dela, a voz ganhando uma firmeza que ele não sentia completamente. — Sabe, Giana, essa sua tentativa de virar tudo para cima de mim não está funcionando. — disse ele, o tom calmo, mas carregado de uma determinação que surpreendeu até a si mesmo. — Você quer falar sobre Elana, sobre o que eu sei ou não sei dela? Tudo bem. Mas isso não mu
O som da porta do quarto batendo ressoou pela casa, mas Gabriel não se mexeu. Ele deveria sentir culpa, talvez correr atrás dela, consolar sua esposa como faria em outro momento. Mas, dessa vez, ele não sentiu nada além de uma exaustão profunda. O choro de Giana, a indignação, tudo parecia uma cortina para esconder a verdade; sobre Lara, sobre o dinheiro, sobre o que quer que estivesse acontecendo. E, no fundo, ele não se importava mais com a encenação. Sem dizer uma palavra, Gabriel pegou o celular e caminhou pelo corredor até o escritório. Ele fechou a porta atrás de si, o silêncio do ambiente contrastando com a tempestade em sua mente. Sentou-se à mesa, o laptop fechado à sua frente, e pegou o celular. Uma mensagem não enviada para Elana ainda estava lá. “gabriel@editorabuzzy.com não se esqueça dos capítulos. E Elana, se Ryan tentar algo que você não queira, me avise. Ainda sou seu guardião da felicidade.” Ele hesitou, o polegar pairando sobre o botão de enviar, mas apagou a men
Elana sentiu o rosto esquentar, e ela desviou o olhar, fingindo ajustar a bolsa. — Não tem boy nenhum, Bella. — disse, tentando soar casual, mas a voz traiu uma ponta de frustração. — Desde aquele jantar com o Ryan, ele sumiu. Não apareceu mais, não mandou mensagem, nada. — Ela deu de ombros, tentando disfarçar o quanto a ausência dele a incomodava. — E o Gabriel… bom, eu enviei os capítulos que escrevi para ele, mas também não falou mais comigo desde o almoço. Acho que estão ocupados... sei lá. Isabella parou de arrastar a mala, os olhos arregalados com uma mistura de surpresa e indignação. — Como assim? O Ryan, aquele todo charmoso que você me contou, te deu um perdido? E o primeiro amor, barra melhor amigo, barra editor dos seus sonhos, também te deixou no vácuo? — Ela colocou as mãos na cintura, o tom subindo. — Elana, o que está acontecendo? Você está escrevendo um romance ou estrelando um drama digno de novela? Elana riu, apesar do peso no peito. — Não é drama, beleza? —
O som estridente de um copo se estilhaçando contra a parede preencheu a sala. O peito de Elana subia e descia rapidamente, o coração martelando no peito como se quisesse escapar da dor que a sufocava. Diante dela, Michael mantinha os braços erguidos, como se pudesse se defender das acusações que caíam sobre ele como uma tempestade. — Você acha que eu sou estúpida, Michael? — A voz dela saiu embargada, mas firme. — Eu vi as mensagens, eu vi as fotos. Não tem mais desculpas, não tem mais mentiras. Michael passou a mão pelos cabelos escuros, o rosto contraído em uma expressão de exasperação. — Elana, não é o que você está pensando... Ela soltou uma risada amarga. — Não? Então me explica, porque pelo que eu vi, você está com outra mulher! Faz tempo, não faz? — Seus olhos ardiam, mas ela se recusava a chorar. Não na frente dele. O silêncio que se seguiu foi a confirmação que ela precisava. Michael desviou o olhar, os ombros caídos em derrota. Ele não tinha nada a dizer. Nenhuma jus
Elana inspirou fundo, tentando recuperar o controle. Ela não podia se permitir desmoronar completamente. Já tinha chorado demais. Passou as mãos pelo rosto, secando as lágrimas, e endireitou os ombros. Precisava sair dali. Precisava ir para um lugar onde ainda houvesse um resquício de segurança, onde não se sentisse tão perdida e sozinha. Ligou o carro e saiu do estacionamento com as mãos firmes no volante, mas seu coração ainda estava em pedaços. A cidade passava por ela em flashes borrados pelas lágrimas remanescentes, e cada semáforo parecia um lembrete cruel de que sua vida estava em pausa, parada no momento exato em que descobriu a traição. Quando finalmente chegou ao prédio de Isabella, estacionou sem se preocupar se estava alinhada corretamente. Saiu do carro, pegou sua mala e atravessou o pequeno jardim que levava à entrada. Seus passos estavam pesados, e o cansaço emocional ameaçava derrubá-la a qualquer momento. Apertou a campainha e esperou, o coração batendo forte contr
Elana sorriu de forma melancólica, porém aliviada de ter alguém que realmente se importe com ela. O telefone continuava tocando incessantemente, deixando Elana irritada. — Quem é? — Isabella pergunta, ao ver a amiga soltar o aparelho pela terceira vez. — Sei lá. É restrito. Provavelmente aquele imbecil do Michael ligando para me perturbar. Isabella bufou, pegou o telefone de Elana e atendeu sem hesitar. — Olha aqui, seu cretino! A Elana não quer falar com você! Some da vida dela, seu desgraçado! Eu juro que se você continuar ligando, eu mesma vou aí te socar até você se arrepender de ter nascido! Os olhos de Isabella se arregalam, quando ela ouve a voz do outro lado da linha. Com um sorriso sem graça, ela estica o telefone para Elana. — Não é o Michael. Elana franziu a testa, pegando o telefone hesitante. — Alô? Uma voz masculina, firme e profissional, soou do outro lado. — Boa noite, senhora Elana. Meu nome é Antony Shell, sou advogado da família Kingsley. Preciso falar