O ar da manhã estava pesado, úmido. O cheirinho da chuva já dominava o ar carregado de algo que eu não conseguia nomear.Desde a noite anterior, senti algo diferente crescendo dentro de mim. O toque de Damian, o sabor de seus lábios, o calor de seu corpo. Tudo aquilo ainda reverberava pelo meu corpo com a mesma intensidade. Porém, aquela sensação não me deixava aproveitar as doces lembranças.Um nó apertado em meu peito, um frio rastejando por minha pele, uma inquietação profunda que não me deixava respirar direito. Todas aquelas sensações me faziam lembrar da rejeição de Damian.Toquei meus lábios com as pontas dos dedos. Peguei o vestido que havia usado, o levando até meu rosto e inalando aquele perfume amadeirado, ainda impregnado nele. Meus olhos então se voltaram para a marca avermelhada em meu pulso, o lembrete físico de sua dominância sobre mim que queimava na minha carne.Não conseguia compreender, como ele conseguiu me jogar para longe, como se eu não significasse nada. Pensa
O vazio dentro de mim era insuportável.A noite se arrastava, e eu me sentia perdida entre os lençóis frios da cama. Não era somente a ausência de Damian ao meu lado que me corroía. Era algo muito mais profundo, algo que eu não sabia nomear. Um buraco se abriu em meu peito, uma dor surda que não deveria estar ali.Eu deveria desistir. Deixá-lo, parar de lutar por alguém que claramente escolheu outra. Mas toda vez que essa ideia tomava forma, algo dentro de mim rugia em revolta. Uma raiva latente, selvagem, como um instinto primitivo que se recusava a ceder. Como se cada célula do meu corpo soubesse que ele era meu. Somente Meu.Me virei na cama, inquieta. O cheiro de Damian ainda estava ali, suave nos lençóis, na madeira da cabeceira, em mim. Fechei os olhos e inspirei profundamente, como se aquele aroma pudesse me trazer algum tipo de conforto, mas tudo que consegui foi uma sensação de desespero ainda maior. Meu peito queimava. Meu corpo doía por algo que eu não conseguia entender.M
Eu não podia mais adiar aquilo.A dor da incerteza estava me rasgando por dentro, consumindo cada pedaço do que ainda restava de esperança dentro de mim. Se Damian queria continuar fugindo, eu o faria me encarar. Nem que fosse à força.Marchando pelo corredor, minhas mãos estavam cerradas ao lado do corpo, o coração batendo tão forte que parecia querer escapar da minha garganta. Eu sabia onde ele estaria. Sempre que queria se esconder, ele se trancava no maldito escritório, como se pudesse se proteger do mundo lá dentro. Mas hoje, ele não se protegeria de mim.Empurrei a porta sem hesitação. O barulho do impacto contra a parede ecoou pelo cômodo, arrancando Damian de seus pensamentos. Ele ergueu os olhos, o copo de uísque já a meio caminho da boca. Seu olhar se estreitou imediatamente.— Lin — ele rosnou. — O que diabos está fazendo?Entrei e fechei a porta atrás de mim. Damian cobriu os olhos com a mão, respirando profundamente enquanto apoiava o copo de uísque sobre a mesa.— Acabe
DamianA chuva castigava a mansão Blackthorn, tamborilando contra as janelas e inundando o ar com um cheiro de terra molhada. Eu estava sentado no escuro do meu escritório, segurando um copo de uísque intocado. Meus dedos apertavam o vidro com tanta força que poderiam quebrá-lo. Mas nem mesmo a bebida que estava me ajudando a acalmar os nervos naquela noite. Algo me atormentava… Ela me atormentava.Lin.Minha antes dedicada esposa passou a me ignorar completamente depois da discussão brutal que tivemos, após me desafiar a escolher entre ela e meus demônios. Ela parou de me encurralar em armadilhas, parou de me esperar chegar em casa tarde da noite. Sua maldita indiferença me consumia ao ponto de me trancar no escritório por horas, apenas pensando nela.Por alguma razão, passei a ficar mais tempo em casa e todas às vezes que a via perambulando pelos corredores ou no jardim com aqueles vestidos leves, com a pele iluminada pelo brilho suave, meu corpo reagia, meu lobo enlouquecendo dentr
Estendi minha mão, buscando o calor do corpo de Damian, mas o lençol ao meu lado já estava frio.Meus olhos se abriram lentamente, ajustando-se à luz suave que entrava pelas cortinas semiabertas. Meu corpo ainda estava relaxado e levemente dolorido, uma deliciosa lembrança da noite passada que trazia arrepios por toda a minha pele, como uma carícia suave.Sentei na cama, olhando ao redor, esperando encontrá-lo ainda no quarto, mas Damian não estava lá. Tudo o que restava era o cheiro amadeirado de sua pele, impregnado nos lençóis, misturado ao meu. Toquei o espaço vazio, sentindo a frieza do tecido. Franzi a sobrancelha, não querendo acreditar na hipótese absurda que se formava na minha mente. Damian havia me deixado antes de o sol nascer.A raiva borbulhou dentro de mim, misturada a uma dor sufocante que eu não queria admitir. Rugi com frustração, arremessando o travesseiro, onde ele deveria ter dormido, no chão. A vergonha cresceu dentro de mim. Me entreguei a ele, não só o meu corp
DamianA cada dia que passava, Lin parecia mais determinada a me testar. Desde o modo como ela atravessava os corredores de casa, como me olhava por baixo dos longos cílios, nos pequenos sorrisos que surgiam quando nossos olhares se cruzavam. Mas o pior de tudo era o seu cheiro, como ele havia se tornado intenso, penetrante… como se estivesse me chamando. Aquilo estava me deixando louco. Meu desejo por aquela mulher havia aumentado, assim como minha curiosidade sobre ela.Desde aquela noite, meus sentidos pareciam procurar por ela, atentos a qualquer som ou cheiro. Meu desejo por ela parecia não ter fim, seu sabor doce estava gravado a fogo na minha mente, mas sempre que eu olhava para Lin, eu via a Ayla. Os tímidos olhos verdes que me perseguiam desde que ela tinha onze anos e eu fui apresentado como seu futuro companheiro, via os traços familiares, o olhar que me desafiava em jogos infantis. E aquilo me destruía por dentro.Me afastar seria impossível. Lin jamais permitira tal cois
O sol atravessava as cortinas, projetando sombras suaves pelo quarto. Eu estava deitada, encarando o teto, sentindo o calor do corpo de Damian ainda preso aos lençóis. Mesmo sem ter prometido nada, Damian não desapareceu como da última vez. Porém, sua frieza foi tão ruim quanto se o tivesse feito.Nenhuma palavra, nenhum olhar, nenhuma despedida. Ele vestiu suas roupas e saiu do quarto, sem olhar nenhuma vez na minha direção. Me agarrei ao seu travesseiro, ainda quente do contato de sua pele, seu perfume amadeirado preso ao tecido.Rolei na cama, puxando os lençóis contra meu peito, tentando afastar a onda de frustração e decepção que me dominava. Depois daquela noite insana que vivemos, Damian nunca mais fugiu. Nossas noites eram carregadas de desejo e intensidade, mas assim que o sol entrava pela janela, ele se levantava e saia do quarto, como se nada tivesse acontecido. Seu comportamento habitual também não havia mudado.Saindo cedo e voltando tarde da noite todos os dias, a difere
DamianEu já estava no meu limite quando cheguei ao escritório, rosnando para qualquer um que cruzasse meu caminho. Nunca desejei tanto que Elias estivesse ao meu lado, assim poderia deixar tudo com ele e ter um merecido descanso de todo aquele maldito drama que minha vida havia se tornado.Enquanto andava pelos corredores, notei os olhares cautelosos e assustados, mas só compreendi o que estava acontecendo quando me aproximei da minha sala. O cheiro adocicado me atingiu, fazendo o meu lobo rugir de raiva.Cassandra estava sentada no sofá branco, com suas roupas provocantes e maquiagem pesada.Seu cheiro sempre foi tão repulsivo? Meu desejo ela agarrar seu braço e colocá-la para fora, mas me contive. Lancei um olhar irritado e fui para minha mesa, sem lhe dar nada da minha atenção.— Você parece, Damian. — A voz dela cortou o silêncio do meu escritório, arrastada e cheia de intenções escondidas. — Não respondeu minhas mensagens. Aconteceu alguma coisa enquanto estive fora?Mantive meu