Capítulo 02

EDWARD PORTMAN

— Para ser sincera, eu aprecio as minhas terras e a Ruby sabe se cuidar perfeitamente tal como tem se cuidado nos últimos anos — Giullia enfatizou e um resmungo nada delicado escapou da minha boca.

— Eu sei disso tão bem quanto você, mammina, é tão ruim assim sair um pouco da Itália para se aventurar nos bons ares de Nova Iorque? — tentei convencê-la uma vez mais.

— Você tem o sentido de humor tão aguçado quanto o do seu pai, arrivederci, Edward.

— Arrivederci, mammina — despedi de volta e desliguei o aparelho, guardando no bolso da calça.

Convencer ela a sair da Itália é igual a tentar dar banho em gato, só o fazemos quando necessário, e mesmo assim, sempre que preciso voltar para a minha terra natal — com um certo desagrado — tento convencer a Giullia a ir comigo, porque eu sei que o pai jamais iria se a minha mãe não fosse junto.

E aparentemente, o nosso desagrado pela bela cidade é mútuo.

E mesmo que eu adore profundamente a minha irmã mais nova e ela partilha do mesmo sentimento, Ruby começou a trabalhar em uma multinacional há pouco tempo, e conhecendo ela como conheço, ela definitivamente não disputará atenção entre mim e o seu mais novo trabalho, não, ela escolherá o trabalho, por puxar a personalidade todinha de Giullia Portman.

O que me restava então era sobreviver durante seis meses sem a companhia da minha família em Nova Iorque, a cidade do caos completo.

.

Depois de quase dez horas de viagem, mesmo viajando na primeira classe, o cansaço que tomou o meu corpo só me fazia desejar estar no meu apartamento imediatamente.

Cheguei finalmente em Nova Iorque, cidade que dizem nunca dormir.

No início, para ser honesto, achava tudo isso um tanto exagerado, porém, o barulho, o caos, as buzinas incessantes, tudo isso começou a deixar-me louco gradativamente.

Como um empreiteiro italiano acostumado com a calma e o charme das vilas da Toscana, essa cidade sempre foi um verdadeiro choque cultural para mim, mesmo eu vindo a cada seis meses.

Enquanto aguardava a chegada do meu melhor amigo, Norman Duncan, aqui no aeroporto, observei tudo ao meu redor e perguntava-me como as pessoas conseguem lidar com esse frenesi constante. Odores de fumaça de escapamento, misturados com o cheiro de comida de fast food, pairam no ar, invadindo as minhas narinas, tudo isso ainda no aeroporto.

Tudo é tão artificial, tão distante daquilo que estou acostumado.

E não demorou para a minha paciência começar a se esgotar rapidamente. Eu precisava da chegada de Norman para me ajudar a encontrar algum equilíbrio neste turbilhão de sensações.

Norman Duncan, o meu melhor amigo, é uma figura intrigante. Ele é o oposto de mim em muitos aspectos, mas é justamente essa diferença que nos torna tão próximos. O seu estilo de vida despreocupado reflete no seu modo de agir e pensar.

Ele é um homem brincalhão e sempre encontra uma forma de arrancar risadas a qualquer pessoa, mesmo nos momentos mais difíceis. A sua inteligência é afiada como uma lâmina, capaz de encontrar soluções rápidas para qualquer problema que surgir no nosso caminho. Ele tem uma mente ágil, sempre pronto para um desafio intelectual, porém, agora começo a seriamente questionar isso.

Ele é meu confidente, alguém que conheço há anos e que entende a minha aversão por grandes cidades. Entretanto, Norman faz-me esperar duas horas no aeroporto, implorando que eu não chamasse um táxi porque ele estava preso num congestionamento na Grand Central Pkwy.

E enquanto esperava, tentava distrair-me observando as pessoas ao meu redor.

Há uma mistura interessante de culturas e sotaques, mas ainda assim, e apesar de já estar acostumado, consigo sempre me surpreender com a diversidade cultural. As conversas ao meu redor são fragmentadas, cheias de jargões e gírias que mal-entendo.

Sinto falta da simplicidade das conversas no meu idioma nativo.

Talvez esteja falando essa baboseira toda porque estou cansado, exausto da longa viagem e do jet lag que me assola. As minhas pernas doem de ficar tanto tempo sentado no avião, e o meu corpo pede por uma boa noite de sono. Mas antes disso, preciso encontrar uma forma de escapar desse barulho ensurdecedor e me adaptar a essa nova realidade que sou obrigado a lidar a cada seis meses.

Finalmente, avistei Norman no meio da multidão, o seu sorriso caloroso e familiar traz um alívio instantâneo para minha alma cansada. A sua energia contagiante é exatamente o que eu precisava para me animar.

O que, por ironia, só enfatizou o meu desagrado.

— Juro que o meu GPS disse que não havia congestionamento nenhum, e dessa vez vamos seguir pela rodovia interestadual I-495 W — Norman prometeu assim que entrei no seu carro.

— O seu GPS também prometeu que não haveria congestionamento nenhum? — perguntei, ele olhou sorridente para mim, ignorando por completo o meu mau-humor.

— Claro que não, ouvi pela rádio — revelou e eu suspirei de cansaço, inclinando o banco para trás para me sentir mais confortável. — Eu às vezes acho que você faz um drama muito grande quando vem para cá.

Não o respondi durante alguns minutos.

— Estou apenas cansado, espero que tenhas cuidado bem do meu apartamento — virei o rosto para Duncan, que confirmou com a cabeça, sustentando um sorriso muito grande para o meu gosto.

— Só parti umas coisas ou outras, e lavei os lençóis, acredite — brincou.

— Norman, eu juro que esse trânsito de Nova Iorque vai ser o fim da minha paciência. Como podemos estar tão parados nessa rodovia? — suspirei já erguendo o celular para visualizar todas as mensagens recebidas.

— Ah, Ed, relaxa! A vida é curta demais para se estressar com o trânsito. Aproveite a vista e escute um pouco de música. Olha essa noite estrelada, cara, é de tirar o fôlego! Embora um pouco ofuscada pelas luzes, mas ainda assim, muito bonita.

— Eu adoraria aproveitar a vista se não estivesse que dormir para amanhã não chegar atrasado para a reunião sobre aquele maldito condomínio. Merith tem sido uma dor de cabeça com essa venda, não consigo entender por que me envolvi nessa confusão.

— Calma, meu amigo, vamos conseguir resolver essa situação. Você sabe que sou bom com negociações, posso dar uma olhada nos papéis e te ajudar a lidar com a Merith. E quem sabe, até encontrar um jeito de desatar esse nó. — Deu uma palmada no meu ombro para aliviar o meu estresse.

— Eu realmente espero que sim. Essa mulher tem sido tão complicada ultimamente. Ela acha que pode manipular-me só porque estamos envolvidos pessoalmente. Mas, como um empreiteiro chefe, tenho uma reputação a zelar — choraminguei ao desligar a tela do celular e voltar a guardá-lo no bolso da minha calça.

— Ei, ei, relaxa aí. Entendo a sua preocupação, mas lembre-se de que você é um dos melhores no que faz. Merith precisa reconhecer o valor do seu trabalho e separar o profissional do pessoal. — Deu uma pausa. — Mas eu te disse que não era legal se envolver com uma mulher casada.

Lembro-me claramente do dia em que conheci Merith Garth. Eu estava num restaurante elegante, onde havíamos marcado uma reunião de negócios. Ela estava lá com o seu marido, participando de um evento semelhante ao meu. Observar aquela mulher incrível ao lado dele, despertou a minha curiosidade imediatamente.

O seu marido retirou-se por um momento, deixando-a sozinha na mesa. Foi quando os meus colegas a apresentaram a mim. Os olhos castanhos dela se encontraram com os meus e, naquele instante, eu perdi-me na sua beleza magnética.

Merith irradiava confiança e charme. A sua pele negra reluzia sob as luzes suaves do restaurante, e o sorriso que se formava nos seus lábios era cativante. Fiquei fascinado pelos seus gestos graciosos e pela maneira como ela expressava os seus pensamentos eloquentemente.

Cada detalhe no seu rosto parecia ser cuidadosamente esculpido, realçando a sua expressão sedutora. Os seus olhos eram hipnotizantes, como duas esferas profundas que me convidavam a explorar o seu mundo. O seu cabelo até o busto, com os dreads tão bem cuidados, completava a sua imagem única e impactante.

Enquanto conversávamos, percebi que havia uma conexão especial entre nós. Os nossos diálogos fluíam naturalmente, e a energia que compartilhávamos era intensa. Merith era uma mulher casada, mas algo na sua presença despertou em mim uma atração irresistível, algo que eu não conseguia ignorar.

No seu olhar, podia sentir uma faísca de curiosidade e um brilho de interesse mútuo.

O mundo ao nosso redor parecia desaparecer, e a conversa superficial das mesas vizinhas se tornava um mero murmúrio distante. Apenas Merith e eu, compartilhando um momento de conexão inexplicável.

E enquanto o meu raciocínio lutava contra essa atração proibida, eu não podia negar a emoção que sentia ao estar perto dela. Era como se o destino estivesse a brincar comigo, colocando-a no meu caminho para testar a minha força e determinação.

Naquele momento, eu sabia que não seria fácil resistir à tentação que Merith representava. O seu encanto e magnetismo eram irresistíveis, mas eu precisava lembrar-me dos meus princípios e das responsabilidades que carregava.

Ainda assim, naquele instante, o meu coração começou a dançar a um ritmo desconhecido, uma dança que desafiava a lógica e as convenções. Merith despertou algo em mim, algo que eu não estava preparado para enfrentar, mas que, de alguma forma, eu sabia que não poderia ignorar.

Desde então, sempre que venho a Nova Iorque, ela faz questão de me deixar mais "relaxado" e "disposto" para encarar o tempo que fico na metrópole.

— Você sempre consegue encontrar um jeito de me acalmar, não é, Norman? — respondi de forma irônica. — Talvez você esteja certo. Talvez esteja a deixar as emoções tomar conta dos negócios. Preciso ser profissional e lidar com essa situação de forma assertiva.

— É isso aí, Ed! Você tem as habilidades necessárias para enfrentar qualquer desafio. Agora, iremos virar nessa esquina e acelerar um pouco, antes que resmungues mais um pouco.

— Concordo. Hora de colocar o pé no acelerador e resolver essa questão do condomínio. Merith pode ter os seus joguinhos, mas não vai derrubar-me. Estou determinado a lidar com ela e finalizar essa venda de uma vez por todas, e de quebra, finalizar também essa relação.

— Assim que se fala, meu amigo! Mostraremos-lhe do que somos capazes. E, no fim das contas, tenho certeza de que encontraremos uma solução que beneficie a todos. Estamos nessa juntos, lado a lado, como sempre. Agora, ligue o rádio, vamos animar essa viagem e chegar a essa reunião com a cabeça erguida.

E depois de uma hora, Norman estacionou à frente do meu prédio.

— Boa noite e esteja disposto para amanhã — falou enquanto me ajudava a tirar as malas do carro junto com o porteiro do prédio.

— Desde que não te atrases. — Fechei o porta-malas e ele entrou no veículo.

— Não prometo nada — disse e arrancou com o seu Porsche 911 preto.

— Seja bem-vindo de volta, Sr. Portman — o porteiro cumprimentou enquanto me direcionava ao elevador. — Como foi a viagem?

— Exaustiva, como sempre — respondi enquanto olhava a tela do celular, lendo algumas mensagens dos meus pais me perguntando como foi a viagem e se eu já havia contado a minha irmã que estava de volta a Nova Iorque.

Definitivamente ele sairia da sua casa para ter comigo, algo que sinceramente não me apetece, por hora.

Ao chegar na minha penthouse, sinto um misto de alívio e cansaço. As luzes suaves iluminam o ambiente, criando uma atmosfera aconchegante.

Dou uma gorjeta ao porteiro e arrasto as minhas malas até o meu quarto, porém, o meu coração dispara quando percebo a presença de alguém na minha cama. É Merith, com uma lingerie preta que realça as suas curvas, um contraste sensual com a pele negra e os enormes olhos castanhos.

O seu cabelo, com os lindos dreadlocks, parece uma obra de arte emoldurando o seu rosto. O seu nariz fino e boca bonita fazem-me lembrar dos momentos apaixonados que vivemos. Mas, nesse momento, tudo que sinto é surpresa e raiva.

— Surpreso em me ver aqui, Edward? Eu sabia que você não resistiria a uma visita inesperada. — disse ela com um sorriso sedutor.

— Merith, o que diabos você está fazendo na minha cama? Eu não esperava encontrar você aqui! — respondi com a voz carregada de frustração.

— Ah, meu querido, eu senti a sua falta e pensei que poderíamos aproveitar um momento juntos. Afinal, não é isso que costumávamos fazer? — ela levantou-se da cama com um ar de provocação.

— Merith, nós precisamos conversar. Tenho sido claro sobre o meu envolvimento com você. Esse tipo de visita não é apropriado, especialmente considerando que estamos a lidar com negócios. — Passo a mão pelos cabelos num gesto desesperado.

Definitivamente essa mulher vai enlouquecer-me.

— Negócios e prazer sempre se misturaram em nossa relação, Edward. Você sabe disso. Achei que você pudesse abrir exceções, pelo menos em momentos como este. — diz caminhando na minha direção, com uma expressão desafiadora.

— Merith, eu entendo que a linha entre o pessoal e o profissional possa parecer tênue às vezes. Mas é essencial manter a ética e a clareza nas nossas transações. Não posso deixar que os nossos assuntos pessoais interfiram nos negócios, se é que já não esteja acontecendo isso. — franzi a testa.

— Vejo que você realmente mudou, Edward. Vou dar-te um crédito — respondeu cruzando os braços. — Antes que eu vá, por que não bebemos um pouco? Você acabou de chegar.

Merith, ainda na penthouse, cruzando a minha cozinha vestida com uma bela lingerie preta, ofereceu-me um copo de vinho que ela trouxe consigo.

Aceitei prontamente, sentindo o aroma rico e encorpado que se desprende da taça. O cheiro da bebida se mistura com o perfume sutil que envolvia Merith, criando uma aura irresistível à minha volta.

Enquanto degustava o vinho, os nossos olhares encontraram-se e algo no ar pareceu mudar, ela falava alguma coisa que eu sinceramente não escutava. Há uma tensão palpável entre nós, uma faísca de paixão que ainda queimava sob a superfície. Os meus dedos, quase por vontade própria, deslizam suavemente pelos dreadlocks sedosos de Merith, enquanto o seu cabelo escuro se entrelaça nos meus toques.

A respiração tornou-se mais pesada à medida que nos aproximamos, os nossos corpos respondendo à atração que ainda permanecia. Senti a maciez da pele dela sob os meus dedos, enquanto as suas mãos delicadas exploram a minha nuca, provocando arrepios pela minha espinha.

A respiração quente de Merith contra o meu rosto, envolvendo-o num desejo crescente, foi o estopim para me deixar duro.

Os nossos lábios encontram-se, um beijo que transbordava de desejo reprimido. O sabor do vinho ainda dança na minha boca, mesclando-se com a doçura dos lábios da mulher sedutora à minha frente. O calor do seu corpo se funde ao meu, e cada contacto entre nós é eletrizante, uma sinfonia de sensações que parecem preencher cada centímetro do espaço ao nosso redor.

O gemido que ela solta quando alcanço um dos seus fartos seios é o suficiente para nublar qualquer lampejo de consciência que retorna à minha mente.

Amanhã estarei em uma merda muito grande.

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