Capítulo 8

ISABELA SILVA

Eu consegui passar na prova e estou oficialmente cursando serviço social. E não só isso, eu também ganhei um curso de primeiros-socorros numa promoção que participei na loja onde comprei meus materiais escolares, isso não é incrível?! Parecia que tudo estava se encaminhando e dando certo para mim. Finalmente.

Após três meses de curso, que duraria um ano e meio, eu começarei o estágio na UBS do município. A minha empolgação era tamanha que acordei assim que o sol nasceu. Eu fiquei muito feliz por poder participar do curso e ser capaz de cumprir as metas estabelecidas, no começo fiquei receosa por causa da minha visão, mas com a ajuda dos óculos, eu passei nas aulas práticas de pontos, incisão e punção venosa, eu fiquei muito feliz.

— Nós vamos fazer aula na UBS (Unidade Básica de Saúde) da cidade, eu estou tão feliz, papai — comentei, enquanto mostrava o jaleco branco e a máscara, eu estava toda empolgada.

Meu pai cheirou o jaleco e bateu palmas, ele comemorava como se eu tivesse ganhado o prêmio Nobel de medicina.

— Parabéns, minha filha, você é muito inteligente. Eu estou muito orgulhoso de você — falou, seus olhos brilhavam, enquanto seu sorriso ocupava o rosto.

— Eu já consegui entrar na faculdade de serviço social e ainda estou fazendo o curso de primeiros-socorros. E isso é só o começo — minha felicidade é grande, pois sinto que agora eu irei realizar meus sonhos.

Às sete horas em ponto cheguei ao posto de saúde para começar meu primeiro estágio.

— Bom dia! Hoje vocês vão passar o dia de vocês aqui na UBS, participando dos atendimentos aos pacientes — A médica responsável pela unidade falou assim que nos viu chegar. Somos cinco alunos. A turma foi dividida, uma foi para UBS do vilarejo e os outros foram para o hospital regional da cidade.

— Bela, eu estou tão nervosa, hoje nós vamos passar o dia atendendo as pessoas, isso é tão legal! — Ana, que tinha entrado no curso para se decidir se essa é realmente a profissão que desejava, ela estava indecisa entre advocacia e medicina.

— Vai ser o primeiro dia de muitos. Espero que você se decida pela medicina, eu vou adorar ter uma amiga médica.

Não demorou muito, a médica chefe chegou para designar as funções.

— Por aqui turma, vamos dividir assim, três vão acompanhar os agentes de saúde na visita aos doentes que recebem tratamento em casa, enquanto os outros dois ficarão aqui e auxiliará nos curativos e pesagem para as consultas — ela me escolheu para ficar e os atendimentos começaram em seguida.

Após o almoço, nós voltamos para os atendimentos. Por volta das quatorze horas, recebemos uma ligação para atender um acidente que tinha acabado de acontecer na ponte. Minha primeira reação foi susto e preocupação, geralmente os acidentes na ponte são com veículos de moradores da cidade, mas me contive rapidamente e mantive o foco. Com as sirenes ligadas rapidamente chegamos ao local.

— Isabela, você vai avaliar os que já estão fora dos carros e depois anota tudo pra quando os bombeiros e o SAMU chegarem — a médica deu as instruções e foi até o ônibus para avaliar a situação dos feridos.

Eu estava certa na minha preocupação, pois um dos ocupantes do carro era o tio Sérgio, o pai da Ana, ele trabalha como encarregado na mineradora. Estava ele e o chefe também.

Sem esperar mais ordens, aproximei-me do carro.

— Oi, como vocês estão se sentindo? — perguntei, eu já estava devidamente equipada, jaleco, máscara e a caixa de primeiros-socorros.

— Oi, Bela, nós estamos apenas com alguns arranhões, o senhor Alex está com um corte na cabeça — respondeu tio Sérgio, seus braços estavam feridos e o sangramento no nariz, aparentemente fraturado pelo airbag. — Bela pode atendê-lo primeiro — apontou para o homem com o rosto sujo de sangue que se afastava para atender o telefone.

— Nada disso, seu nariz parece ter fraturado. O senhor está sentindo sonolência, tontura ou ânsia de vômito? — perguntei, enquanto enfaixava os ferimentos do braço.

— Não, eu só tenho dor de cabeça, acho que foi porque o airbag do carro bateu muito forte na minha cara, parece que realmente quebrou meu nariz — ele respondeu, contorcendo-se quando tentei estancar sua hemorragia nasal com um cotonete cirúrgico.

— Prontinho, agora é só aguardar o samu para levá-lo para fazer exames no hospital. Isso é necessário por causa do impacto do acidente. Se cuide, tio Sérgio.

Finalizei o atendimento com o tio Sérgio e caminhei até o homem, que estava alguns passos à frente, falando ao telefone.

— Ei, sente-se aqui, por favor, deixe eu examinar seus ferimentos — falei e esperei que ele se virasse, mas passou alguns minutos e ele continuava ao telefone, então, na intenção de concluir meu trabalho, eu peguei seu braço para chamar sua atenção, mas acabei segurando bem no lugar de um corte.

— Mas que porra, você não pode esperar eu terminar minha ligação? — ele finalmente virou-se e, pelo tom de voz alterado estava com um humor péssimo.

— Desculpe-me, mas é que eu preciso fazer meu trabalho, você não ouviu? — tentei me explicar.

— Você não está vendo aquele micro-ônibus ali? Lá está cheio de pessoas com ferimentos graves e que realmente precisam de atendimento — falou, o jeito como afastou-se expressava puro nojo.

— Eu não posso atender lá, eu sou apenas uma estudante — tentei contornar a situação explicando-me de maneira mais clara, porém acho que piorei ,pois fui interrompida.

— Como é que é? Quer dizer que aqui eles mandam socorristas que nem são formados? Eu nunca ouvi um absurdo maior — reclamou com desdém.

— Eles não mandam socorristas sem capacitação, eu não sou socorrista, mas estou estudando primeiros-socorros, estou apta a atender casos com ferimentos leves, é por isso que estou cuidando dos feridos sem gravidade. Não precisa ser mal educado — respondi e levantei minha cabeça, encarando-o. Ele parecia ser bonito sem toda aquela sujeira, mas em compensação tinha uma personalidade terrível.

— Mal educado eu? E quem você acha que é para falar da minha educação, sua inútil?! — Esbravejou, agora ele estava com muita raiva.

O homem ficou parado, encarando-me até ouvir as sirenes do Samu e do corpo de bombeiros, que finalmente tinham chegado. Foi um momento bastante constrangedor, aquele ser parecia querer me partir em pedaços, felizmente, tio Sérgio aproximou-se com um socorrista do Samu e me ajudou a sair da confusão.

— Isabela, já terminou sua parte? O socorrista está aqui para a avaliar — perguntou, ficando ao meu lado.

— Oi tio, já terminei sim, vou deixar o doutor fazer o trabalho dele — sorri para o médico, que retribuiu ao olhar em meus olhos e perceber o sorriso escondido atrás da máscara que cobria a parte de baixo do meu rosto.

Saí para atender outros pacientes e deixei-os com o médico do Samu.

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