ALEX MONTENEGRO
Quando ouvi o toque do meu telefone, que estava no bolso, afastei-me para atender. — Ou, meu amor, como você está? — A voz animada da Isadora entrou pelos meus ouvidos. — Oi, meu amor, estou bem — suspirei ao sentir a dor incômoda na minha cabeça e nos cortes no braço também, eu acabei me ferindo enquanto tentava abrir a porta. — A sua voz não parece nada boa, aconteceu alguma coisa? — acabei sorrindo ao ouvir sua preocupação e perceber o quanto ela já me conhecia. Isadora era muito esperta e mostrava isso sempre. Ela tinha uma percepção rápida dos assuntos, resolvia com excelência seus casos na empresa e ainda tinha uma intuição poderosa, ela sempre acertava quando colocava algo na sua cabeça. — Não é nada demais, só um pequeno acidente, mas eu estou bem — respondi calmamente para tranquilizá-la quanto ao meu estado. — Meu Deus! Alex, você me fala isso assim? Onde foi esse acidente? Você se machucou muito? — perguntou, pela voz ansiosa e o barulho de algo caindo, minha intenção de mantê-la calma não foi atingida. — Eu vou pegar o próximo voo e irei para Aurizona hoje ainda! Minha risada saiu arrastada em meio à dor, ao ouvir seu desespero. — Não precisa vir, eu estou realmente bem, voltarei para casa amanhã — avisei. — Você está falando sério? Alex Montenegro, por favor, não brinque comigo! — Eu não estou brincando, eu só me feri levemente, não foi nada demais mesmo, amanhã você poderá conferir pessoalmente e cuidar de mim como quiser — falei e ouvi seu suspiro do outro lado. Antes de ouvir sua resposta, sinto um toque no meu braço, bem sobre o corte. — Eu preciso desligar agora — falei e encerrei a ligação. Virei-me na direção da voz que me chamou novamente e não consegui me conter quando senti a fisgada no braço, onde a mulher estava apertando. Eu acabei perdendo a paciência, a mulher na minha frente não mostrava nenhuma habilidade em atendimento, tanto que estava piorando a minha dor, acabamos discutindo e ela, ao invés de se desculpar pelo erro, me enfrentou, tentando justificar seu péssimo trabalho. Encarei-a, olhando fixamente nos grandes olhos azuis, seu rosto não estava à mostra, estava uma parte coberta pela máscara, e os aros pretos dos óculos de grau, mas os grandes olhos de um azul claro profundo, esses eu vi, e expressavam puro desdém e desafio. A nossa discussão acabou quando as sirenes do Samu soou, finalmente chegou um socorro eficiente. Isabela, esse é o nome da incompetente, Sérgio a conhecia, eu o ouvi chamando-a pelo nome completo agora e antes pelo apelido, com certeza eu iria reclamar com ele sobre ela. Após ser atendido no hospital da cidade vizinha, fomos liberados. Depois que falei com minha avó e novamente com Isadora, acabei me esquecendo da mulher incompetente e deixei o episódio passar, me desgastar com essa insignificante pra quê? Tudo o que eu precisava era de uma boa noite de sono e voar de volta para casa. — Uma estudante, nesta cidade eles enviam estudantes para socorrer vítimas de acidentes — murmurei, enquanto olhava o braço enfaixado e lembrava da mulher. E ela ainda me chamou de mal educado — Isabela — pronunciei seu nome e os enormes olhos azuis surgiram em minha mente. Meu voo de volta para São Paulo foi tranquilo. Quando cheguei em casa tinha um pequeno comitê de boas-vindas, minha avó, Isadora, Victor e os meus sogros, todos me aguardando. — Finalmente você chegou, meu amor, eu já não aguentava mais de tanta preocupação — a primeira a vir até mim foi Isadora. — Eu disse que estava bem, você não acreditou no seu futuro marido? — perguntei-lhe, retribuindo o beijo rápido. Ela ergueu a mecha de cabelos e tocou no esparadrapo que cobria os pontos do corte em minha testa, depois olhou o braço enfaixado. — Como você pode dizer que foi simples, olha só quantos machucados! — seu desespero me comoveu. — Eu estou realmente bem, isso foram só alguns cortes, estou inteiro, olha só — afastei-me o suficiente para dar uma volta na sua frente para confirmar que estava realmente bem. — Nós ficamos preocupados, isso é óbvio, venha aqui — minha avó disse, puxando-me para um abraço. — Felizmente foi só um susto mesmo, senão a Isadora iria ficar viúva antes mesmo de casar, isso seria azar demais — Victor soltou uma de suas pérolas e levou um tapa da Isadora. — Nem brinca com isso! — reclamou ela, fazendo-me rir. — É melhor mesmo não falar essas coisas, pode trazer mau agouro e esse casamento será perfeito — agora foi a vez da minha sogra, Maryeva falar. — Ele estava só brincando, meu bem — disse Josias, ele tem um pouco mais de leveza que a sua mulher. Foi servido um lanche, nós conversamos mais um pouco e depois foram todos embora, apenas Isadora e minha avó ficaram. — Agora eu preciso descansar e você vem comigo! — puxei Isadora pela cintura, indo em direção à escada. — É para descansar mesmo, cuidado com o repouso — ri ao ouvir o aviso da minha avó.