Narrado pelo Rei
A chuva caía fina naquela manhã cinzenta, mas minha cabeça estava um caos muito maior do que qualquer tempestade que pudesse desabar sobre esse morro. Mariana tinha sumido desde a noite passada. Não respondia minhas mensagens, não atendia minhas ligações. Nem os vapores posicionados na frente da casa dela conseguiram trocar uma palavra com ela. Mandou dizer que não queria ver ninguém. Nem a mim.
Sabia que ia dar merda. Eu senti. Desde o momento em que ela apareceu naquela noite, com os olhos molhados e o rosto duro, segurando aquelas fotos nas mãos como se fossem a arma do seu próprio desencanto.
Ela jogou sobre a mesa sem dizer uma palavra. E eu, estatelado, olhei as imagens em preto e branco, tiradas à distância. Eu e o moleque. E mais ao fundo, a mulher. Bruna. O passado que eu nunca quis misturar com o presente. E que agora tava explodindo bem no meio do meu futuro.
— Você tem uma família? — ela cuspiu as palavras, como se elas queimassem na boca. — Um filho? Uma