Não pense, execute (III)

Ele inclinou muito levemente a cabeça, como se anotasse um dado invisível sobre mim. E foi ali, nessa inclinação mínima, que senti o coração virar algo que nem fazia mais parte do meu corpo... e sim um órgão que tinha saído correndo dali.

— O salão está abafado — anunciou, com a certeza de quem não pede concordância. — Vamos a um lugar mais… privado, onde podemos conversar sem sermos interrompidos.

A proposta cortou meu estômago. Eu pensei em tudo ao mesmo tempo: mãe, casebre, três pontos de linha transparente no forro do meu sutiã, dinheiro, passaportes, vida. Pensei também no que meus olhos estavam vendo: um homem, não um menino mimado, como Leonel Harlow, a quem entreguei meu coração e como punição fui parar ali, usando a minha virgindade como um objeto de barganha pela liberdade da minha mãe.

Não havia frivolidade naquele homem, nem risos fáceis. Havia perigo e… uma força que, de tão contida, parecia viva. Pensei, e me odiei por pensar, que se eu tivesse de entregar algo o qual pr
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