Narrado por Antonella Bellini:
Fiquei parada na calçada, como se o mundo tivesse parado junto comigo.
Meus lábios ainda ardiam do beijo. Inchados, sensíveis, latejando como se quisessem mais. Meu corpo inteiro vibrava, ansioso, quente... e entre minhas pernas, a calcinha molhada era a prova física de algo que nem eu conseguia explicar. Um estranho. Um beijo. Um incêndio.
Ele se afastava com passos firmes, como se não tivesse acabado de me virar do avesso com a boca. Entrou no carro sem olhar para trás, e eu fiquei ali, trêmula, com os dedos fechados contra o tecido do vestido, tentando conter o impulso de correr atrás dele. Como explicar o que eu sentia? Como racionalizar a vontade desesperada de me jogar em seus braços e pedir por mais?
Aquela língua, aquelas mãos…
Deus.
Um arrepio percorreu minha espinha, e só então percebi onde estava. A rua. A noite. O funeral. O cheiro de flores velhas ainda no ar. Meu corpo ainda tenso, as pernas fracas, os pensamentos embaralhados.
— Antonella?