Narrado por Antonella Bellini

Foi como levar um tapa no escuro — seco, frio, e de onde menos se espera.

Encontrar Scarllet sentada ali, na sala de estar, ao lado de Irina, foi uma dessas surpresas de péssimo gosto que a vida sabe bem como servir. Inspirei profundamente, buscando por um ar que não vinha. Estava ali, mas não parecia me pertencer. Senti o estômago afundar.

Nada fazia sentido. As escolhas para o casamento seguiam um roteiro que não era meu. Tudo o que eu gostava parecia fora do cardápio, engavetado, esquecido. Eu e Giovani nunca fomos muito de doces. Talvez um reflexo da nossa aversão ao que é fácil, ao que remete à infância. Mas ali estavam: torres de açúcar, geleias finas, espumantes cristalinos. Tudo no melhor estilo "conto de fadas com final negociado".

Tentei participar. Tentei fingir. Até notar Scarllet provando vinhos. Vinhos. Ela, que estava em tratamento, tomando medicação controlada.

Chamei-a para o banheiro. Precisava entender.

No caminho, o chão parecia se mov