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A escolhida da Lua Azul
A escolhida da Lua Azul
Por: Yas97
Capítulo 1 — Sob a Lua Azul

A dor rasgava meu corpo com força crescente, mas eu não podia me entregar a ela. Não agora. O reino estava sob ataque, e eu estava prestes a dar à luz. A coincidência — ou destino — dessa noite me causava calafrios. Sabia que o que estava acontecendo era mais do que uma invasão. Era o início da profecia.

A cada contração, sentia minha respiração falhar. O mundo ao redor parecia distorcer-se, as paredes do castelo tremiam, e o som metálico das espadas e gritos distantes penetrava pelos corredores. Apoiei-me no parapeito da janela e olhei para o céu. Lá estava ela, plena e cruelmente bela: a Lua Azul. Sua luz atravessava as cortinas como lâminas de gelo, cobrindo o chão dos meus aposentos com um brilho prateado. Era exatamente como o velho pergaminho dizia. Era esta noite. E meu bebê… o bebê que carregava em meu ventre, ainda desconhecido em sua essência, seria a chave de tudo.

O vento frio entrava pelas frestas, cortando minha pele e fazendo meus pensamentos dançarem entre a dor e o medo. Eu sentia cada batida do meu coração como um tambor de guerra. E, em meio a tudo isso, uma sensação de dever me dominava: não podia fraquejar, não podia deixar que o pânico me dominasse. Não agora.

A porta se escancarou com violência, interrompendo meus pensamentos.

— Majestade! — Era Clara, minha dama de companhia, confidente e amiga mais leal. Seu rosto estava pálido, os olhos arregalados, mas ainda assim havia determinação em seu porte. Ela também tinha visto a Lua Azul, e compreendia seu significado.

— Precisamos sair daqui, antes que cheguem até a senhora e o bebê — disse, já vindo me apoiar.

— Onde está meu marido? — perguntei, esforçando-me para andar com ela.

— O rei está na linha de frente com a tropa. Ordenou que a senhora fosse levada imediatamente ao abrigo. O feiticeiro já está esperando. Mas precisamos ser rápidas.

Cada passo era um martírio. Meu corpo queimava, minhas pernas tremiam e minhas mãos se fechavam em punhos, tentando segurar a dor que parecia rasgar cada fibra de meu ser. Um estrondo sacudiu as paredes. Algo havia atingido o castelo.

— Clara… nosso povo? — perguntei entre uma contração e outra, engolindo o medo que ameaçava sufocar minha voz.

— Assim que o sino tocou, os guardas começaram a evacuação. A maioria já está nos abrigos, mas não posso garantir que todos chegaram a tempo — respondeu ela, descendo comigo mais um lance de escadas. Estávamos perto da cozinha real.

Seguimos por um corredor escuro, as tochas tremeluzindo lançando sombras sinistras nas paredes. Quatro guardas nos esperavam. Três abriram a passagem secreta e entraram, formando um bloqueio protetor atrás de nós. O último permaneceu, vigilante, como uma estátua viva de ferro e sangue.

Mas eu parei. O medo me travou por um segundo — não por mim, mas pelo rei.

— Augusto… — disse ao guarda. — Vá até o rei. Diga a ele que precisa deixar o general no comando. Ele prometeu que estaria ao meu lado… e precisa estar aqui. — Minha voz falhou. As lágrimas desciam quentes pelas bochechas. — Soldado, isso é uma ordem da sua rainha. Vá agora mesmo!

Ele hesitou por um instante, mas assentiu. Correu pelo mesmo corredor de onde viemos, e então, finalmente, entrei na câmara secreta. A porta de pedra se fechou com um baque surdo atrás de mim. Do outro lado, o silêncio.

Senti o feitiço selando a entrada, como uma brisa mágica que arrepiava a pele. Olhei em volta. A sala era aconchegante, com mantas limpas, água fervida e um altar de runas brilhando com energia azulada. Cada símbolo pulsava suavemente, como se respirasse junto comigo. Era um refúgio, mas também um palco de destino.

— Majestade — disse uma voz familiar —, podemos começar?

Mesmo agora, ele mantinha aquele tom debochado, mas havia uma gravidade que não podia ser ignorada.

Lá estava ele: o feiticeiro. Alto, vestindo mantos negros com detalhes em azul profundo. Seus olhos tinham o mesmo brilho travesso de quando éramos crianças, mas agora havia uma intensidade que me gelava a espinha. Meu irmão. Sempre soubera, mas sempre esquivei-me de confrontar essa verdade até que a profecia exigisse.

— Vamos lá, irmãzinha — disse ele com um sorriso sereno, caminhando até mim com as mãos erguidas em preparo. — Eu disse que seria na Lua Azul.

A dor veio com força dobrada. Agarrei uma das mantas e cerrei os dentes, tentando não gritar. Clara segurava minha outra mão, firme, me lembrando que ainda havia quem lutasse ao meu lado. Cada gemido, cada respiração ofegante parecia ecoar pelas paredes mágicas da câmara.

— Respire, Majestade — instruiu meu irmão, enquanto movia as mãos sobre o altar, traçando símbolos que brilhavam intensamente. — O bebê sente cada emoção sua. Ele — ou ela — precisa nascer protegido, mesmo que o mundo esteja desmoronando lá fora.

As palavras dele misturavam-se com a dor. Era um equilíbrio delicado: a força da magia e a força do meu corpo. A cada contração, sentia o peso do destino pressionando meus ombros, mas também uma estranha clareza. Este não era apenas um nascimento. Era o nascimento de esperança, de promessa.

Enquanto isso, o som do castelo em guerra chegava atenuado pelas paredes encantadas, mas ainda perceptível: o metal chocando-se, ordens gritando, cavalos relinchando. Meu coração se partia ao imaginar Augusto lutando, preocupado comigo e com o bebê, incapaz de estar presente neste momento crítico.

— Clara, você sempre disse que me protegeria — murmurei entre uma dor intensa, apertando sua mão.

— E sempre farei, Majestade. Até o fim — respondeu ela, firme, com uma determinação que me deu forças.

Meu irmão começou a entoar cânticos antigos, palavras que pareciam não pertencer a nenhum idioma conhecido, mas que ressoavam no ar como cordas invisíveis. Cada som parecia atravessar minha carne e alcançar o bebê, aquecendo-o, protegendo-o. A luz azul da Lua penetrava pela pequena janela da câmara, refletindo nas runas, criando padrões sobre meu corpo que pareciam dançar junto com os latidos do meu coração.

— Está quase — disse ele, a voz firme. — Lembre-se, a Lua Azul marca este momento. A criança é a chave. Tudo depende dela.

As contrações aumentavam em intensidade, mas eu comecei a perceber algo estranho: não era apenas dor. Era uma sensação de poder, de pertencimento a algo maior. Como se a profecia não fosse apenas sobre medo ou perda, mas também sobre força e renascimento. Cada respiração parecia carregar energia, cada batida do coração, coragem.

Em meio ao esforço, Clara começou a cantar suavemente. Uma canção antiga, passada pelas gerações, que falava de esperança e coragem. Cada palavra dela parecia acalmar minha mente, dando ritmo à dor, fazendo-a suportável, quase transformando-a em força.

Meu irmão, concentrado, guiava cada movimento, cada respiração. Suas mãos brilhavam com magia, formando barreiras invisíveis, dissipando sombras, protegendo o bebê de qualquer influência externa. O suor escorria por minha testa, misturando-se à luz azul que banhava a câmara. Cada segundo parecia uma eternidade, cada instante, uma eternidade de esperança e medo entrelaçados.

E então, senti o primeiro choro. Um som frágil, mas cheio de vida. O feiticeiro sorriu, Clara soluçou de alívio, e eu, apesar da exaustão, tremendo e coberta de suor, encarei o bebê colocado sobre meu peito. Um momento de silêncio absoluto nos envolveu. Eu olhei para ele — ou seria ela? — e meu coração quase parou quando percebi: era uma menina.

O mundo pareceu prender a respiração junto comigo. A Lua Azul iluminava seu rosto pequeno e perfeito, e cada feição parecia carregar a promessa de algo maior. Eu tocava sua mãozinha, sentindo a vida pulsando nela, e a compreensão me atingiu como um raio: a profecia falava de uma filha, e não de um filho. Todo o peso daquilo caiu sobre meus ombros, misturado à alegria e ao medo.

— Ela… é uma menina — sussurrei, com lágrimas escorrendo pelo meu rosto. — Minha filha.

Clara sorriu, segurando minha mão com força, como se dissesse que tudo ficaria bem. O feiticeiro colocou uma mão sobre a menina e outra sobre meu ombro. Uma onda de energia percorreu a sala, e senti algo mudar. A sensação de medo, que me dominara por toda a noite, começou a se dissipar. A filha estava protegida, e, de alguma forma, havia esperança.

— A profecia começou — disse meu irmão, sua voz séria agora. — Mas isso é só o começo. O mundo lá fora ainda precisa de nós, e o destino desta menina será determinante.

A dor ainda persistia, mas agora misturada com uma sensação de vitória e alívio. Eu havia sobrevivido, nossa filha havia nascido, e mesmo sob o caos e a guerra, havia magia, amor e coragem suficientes para enfrentar o que viesse.

Naquele instante, sob a luz da Lua Azul, percebi que o nascimento de nossa filha não era apenas um ato de sobrevivência, mas um símbolo de resistência. O destino, mesmo cruel, poderia ser enfrentado. E eu, mãe e rainha, sabia que lutaria por ela até o último suspiro.

E assim, enquanto o mundo desmoronava lá fora, na câmara secreta do castelo, a profecia se cumpria, selando o início de uma história que mudaria para sempre o destino do reino, da menina, e de todos aqueles que ousassem enfrentar a escuridão.

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