Observei ela dar os primeiros passos no saguão. O jeito como os olhos dela rodaram pelo lustre, pelas paredes claras, pelos quadros, pela escada que se enrolava em curva. Tudo ali gritava dinheiro. E vazio. Eu sabia. Morava nisso todo dia.
— Sua casa parece uma galeria de arte — ela soltou, quase sem pensar.
— É. Parece mesmo. — Dei de ombros, mãos nos bolsos do moletom. — Mas ninguém mora de verdade aqui. Só eu.
Ela arqueou a sobrancelha, curiosa. E aí veio a pergunta inevitável.
— E seus pais?
Parei por meio segundo. Só o suficiente pra catar a resposta padrão.
— Minha mãe mora em Los Angeles.
Joguei a frase como quem fala do tempo.
— E meu pai… bom, ele mora aqui, tecnicamente. Só não vive.
— E ele não tá?
— Provavelmente tá em algum lugar da casa. Ou em outro país. Vai saber. — Dei outro de ombros, o mais leve que pude. — Não se preocupa, a gente não vai ser interrompida.
Vi o rosto dela se contrair. Aquilo pegou. Era engraçado: gente como ela achava que luxo era sinônimo de tudo.