A madrugada estava densa, abafada, como se o próprio ar soubesse que algo estava prestes a quebrar. As fogueiras da alcateia ardiam mais fracas que o habitual, e o uivo dos lobos parecia ter se recolhido para dentro da garganta de cada um.
Aurora não dormia. Estava encolhida num canto da cabana, tremendo, o corpo ainda sentindo o eco dos sonhos. Sonhos que mais pareciam lembranças... mas de outra vida. De outra pessoa.
Fogo. Gritos. Uma mulher vestida com roupas antigas, chorando diante de um berço envolto em chamas. Um trono vazio. Símbolos como o que carregava nas costas, gravados nas paredes de uma caverna feita de ossos e cristal.
E no fim, sempre a mesma palavra sussurrada por uma voz feminina, antiga, quase maternal:
"Desperte."
Ela acordou com um grito preso na garganta — e com o mundo ao seu redor... quebrado.
O chão de madeira sob seus pés rachara, linhas finas de fenda espalhando-se como veias por todo o cômodo. Um vento estranho soprava dentro da cabana, mesmo com as janela