Capítulo 8. A sogra

— Quem é você?

Foi isso que Lúcia falou assim que entrou no quarto e me viu. Davi estava sentado na cama lendo, e os gêmeos brincavam com um jogo educativo de construção, enquanto eu cortava uma fruta para eles comerem. Não percebi quando ela entrou.

— Eu perguntei: quem é você? — ela repetiu, já que, no susto, demorei para responder.

— Desculpe, meu nome é Sofia, sou a nova babá — respondi, mostrando meu melhor sorriso simpático e me levantando do chão, enquanto as crianças corriam para abraçar a avó.

— Olá, meus amores — ela disse de forma mais gentil com eles. — A vovó tem uma notícia maravilhosa para vocês, nós vamos passear. Vocês vão conhecer um lugar incrível!

— Vou preparar a mochila deles.

— Não precisa. — ela disse de forma seca e saiu do quarto puxando as crianças. — Nós vamos sozinhos, você não vem.

Fiquei parada, em choque. Senti que havia algo errado. Eduardo não tinha mencionado que ela levaria as crianças, apenas que faria uma visita. Eles já estavam saindo pelo corredor quando fui atrás, tentando entender o que estava acontecendo.

— Desculpe, mas o doutor Eduardo não disse que a senhora levaria as crianças...

— E desde quando eu preciso pedir autorização pra alguma coisa? Sou a avó dessas crianças. É meu dever reparar todo o mal que o Eduardo causou a esta família! - Ela falou um pouco alterada. 

Achei que a situação estava ficando estranha demais. Corri de volta ao quarto para pegar meu celular — eu precisava avisar alguém. Eduardo havia saído logo cedo para o escritório da empresa, ou seja, só restava eu e os demais empregados.

Liguei desesperada para o celular dele, que não atendeu. Tentei mais vezes enquanto corria atrás de Lúcia, que já estava saindo de casa.

— Vovó, a gente vai no zoológico? — perguntou Alice, radiante, saltitando de curiosidade.

— Não, querida. Hoje vamos para um lugar bem melhor.

— Mas... o que digo ao doutor Eduardo? Para onde vocês vão? A que horas voltam?

— Já disse que não devo satisfações. Não te conheço. E como sei que aquele homem coloca qualquer uma para cuidar das crianças, tenho certeza que você não é digna de confiança. Diga ao seu chefe que, se quiser ver os filhos de novo, que fale com os meus advogados.

E assim ela entrou no carro com as crianças e foi embora, me deixando ali, transtornada.

— Carmen! — gritei, entrando correndo na cozinha. — A Lúcia, a avó deles, pegou as crianças! Eu não sei o que fazer, o Eduardo não me atende. Ela simplesmente levou eles, colocou no carro e disse que, se ele quiser ver as crianças de novo, que fale com os advogados!

— O quê? Mas você tem certeza? Às vezes ela leva eles pra passear. Será que você não entendeu errado?

— Não! Eu tenho certeza absoluta. Ela entrou no quarto, pegou as crianças e levou. Não me deixou dizer nada, nem levou mochila. Só disse que tinha uma surpresa para eles.

— Sempre achei que a dona Lúcia tinha ficado meio descompensada, mas isso é demais. Você ligou para o doutor Eduardo?

— Ele não atende. Nem a Márcia. Ninguém me atende!

Comecei a ficar nervosa. Por que ninguém atendia? Eu era a babá, eles deveriam atender no primeiro toque. Com um desespero crescente e um senso de urgência, decidi ir até o escritório da empresa.

Carmen ainda tentou argumentar que podia ser tudo um mal-entendido, mas eu sentia que não. Alguma coisa estava errada. Não achava que ela fosse machucar as crianças, mas tinha a impressão de que pretendia sumir com elas. E isso não estava certo. Eduardo podia não ser o melhor pai do mundo, mas era o pai. Ele precisava saber o que estava acontecendo.

Pedi um carro de aplicativo e não demorei para chegar à sede da empresa. Em uma cidade pequena como Rio Claro do Sul, nada é muito longe. Me identifiquei na portaria, e a recepcionista, após um telefonema, me autorizou a entrar. 

A sede era um prédio pequeno, todo espelhado, com uma fonte de água na frente — um dos mais bonitos da cidade. O escritório do CEO ficava no último andar. Quando o elevador parou, Márcia já me esperava no hall de entrada.

— Sofia? O que você está fazendo aqui?

— A Lúcia, a avó das crianças, levou eles embora. Sem dar explicações. Não deixou eu ir junto, não levou nada deles. Disse que era uma surpresa e afirmou que, se o Eduardo quiser ver os filhos de novo, terá que falar com os advogados dela.

— Tem certeza? Ela costuma levá-los para passear e já tinha avisado ao doutor que passaria lá hoje.

— Eu tenho certeza. Tem alguma coisa errada!

— Sofia, calma. A Lúcia pode ser uma mulher difícil, mas não vai sequestrar as crianças...

Comecei a ficar ainda mais nervosa. Ninguém parecia se importar! E um sentimento que eu odiava sentir era impotência. Aquilo me fazia voltar no tempo em que morava no abrigo — uma sensação horrível, que eu lutava para enterrar.

— Não, eu tenho certeza do que ouvi! E vocês não parecem se importar! Liguei mil vezes e ninguém atendeu. E você não está nem aí para saber pra onde ela levou as crianças?

— O que está acontecendo aqui?

De repente, a voz de Eduardo ecoou pelo recinto. Ele estava na porta do escritório, nos encarando com com cara de poucos amigos — e, para piorar, Beatriz estava ao lado dele, praticamente grudada, olhando tudo com curiosidade. 

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App