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Capítulo 2. Não me reconheça

Quando cheguei ao lugar, quase dei meia-volta. Era uma mansão enorme dentro de um condomínio fechado. Eu nunca tinha visto de perto uma casa tão grande. Não sabia nem como andar numa casa daquelas. Normalmente, eu era uma pessoa otimista e resolvida com meu passado e o fato de ter crescido em um abrigo. Fui cuidada, tive cama, comida e consegui estudar. Tinha vontade de correr atrás dos meus sonhos. Mas, em alguns momentos, como esse, eu sentia o abismo que me separava do resto da sociedade. Eu não conhecia muita coisa, só a cidade onde ficava o abrigo e Rio Claro do Sul. Não tinha história de pai e mãe para contar. E agora, ali, talvez eu nem soubesse o que responder para a pessoa que faria a entrevista. Imaginava se ela iria querer alguém como eu dentro daquela casa.

Depois de me identificar na portaria, um segurança me levou até a casa, que, de perto, era ainda mais bonita, com um jardim lindo, cheio de flores coloridas enfeitando a entrada. 

Fui recebida por uma mulher mais velha, vestida de forma elegante, que sorriu simpática e disse que me levaria até o escritório.

—  Meu nome é Márcia, sou a secretária pessoal do doutor Eduardo. Você foi muito bem recomendada.

Fiquei feliz. Imaginei que tia Cleide devia ter vendido bem meu peixe, então provavelmente eles já sabiam alguma coisa sobre mim. Fiquei mais tranquila, mas, mesmo assim, senti que começava a suar por baixo do vestido.

— O doutor Eduardo vai conduzir a entrevista. Ele vai explicar quais serão suas funções e querer saber sobre você. Pode falar tudo sem medo. Ele pode parecer um pouco rigoroso, mas não é uma má pessoa. Não se deixe intimidar — disse Márcia, com um sorriso tranquilizador, o que, infelizmente, não adiantou muito.

Ela abriu as portas de um escritório e me pediu para entrar. Era um lugar que eu só tinha visto em filmes, com quadros de arte nas paredes, móveis de madeira escura e maciça, estantes cheias de livros que iam do chão ao teto e uma janela enorme com vista para os fundos da casa, onde pude ver árvores e uma piscina.

— Pode ir, Márcia. Depois eu te chamo.

Eu me distraí olhando ao redor e tomei um susto quando ele falou. Meus olhos foram direto para o homem sentado atrás da mesa, um homem de terno e gravata, com cabelos um pouco longos, quase chegando aos ombros, e uma barba um pouco grande e cheia, que parecia meio descuidada. Senti as pernas ficarem trêmulas.

— Vai ficar aí parada? Pode sentar — disse a mesma voz. Era ele.

O homem da lanchonete. O tal ricaço. O doutor Eduardo Santana. Era o mesmo que apontei o dedo e me fez ser demitida. Agora eu estava ali, fazendo uma entrevista para cuidar dos filhos dele.

Eu podia ouvir as gargalhadas do roterista da minha vida. Não era possível uma coisa dessas. 

Nos encaramos por alguns segundos em silêncio, segundos nos quais cogitei ir embora. Mas eu não podia. Não tinha mais emprego, e aquela era uma boa oportunidade de ganhar mais, não apenas isso, de saber mais sobre a minha mãe. 

Por isso, me obriguei a sentar na cadeira em frente à mesa, engolir minha revolta e olhar nos olhos daquele homem, rezando para que ele não me reconhecesse, o que até o momento não tinha acontecido,  ele me viu de touca e uniforme, e eu sabia por experiência própria que o uniforme torna uma pessoa invisível. 

— Prazer, meu nome é Sofia - Eu disse com um sorriso no rosto e estendi a mão para cumprimentá-lo em um gesto de simpatia, ele me olhou em dúvida e pensei que ia ficar igual uma idiota, mas por fim ele aceitou o cumprimento e para minha surpresa não era uma mão gelada de vilão de novela, ele tinha um aperto quente e macio. 

 — A Márcia disse que você foi muito bem recomendada, mas antes de falar sobre a vaga quero que você  se apresente e fale das suas experiências ? - Ele disse me encarando sério, sem nenhum traço de simpatia no olhar. 

— Claro, meu nome é Sofia Valente, tenho 20 anos, me mudei para Rio Claro do Sul vai fazer quase um ano, mês que vem começo a faculdade de Letras, tenho conhecimento em inglês intermediário, então posso ajudar as criança com as tarefas escolares. Já trabalhei como jovem aprendiz em uma escola por dois anos, onde pude conviver com diversas crianças e adolescentes, também trabalhei como babá de uma menininha de 3 anos, que infelizmento precisei sair, quando mudei de cidade. E claro também tenho cursos de primeiros socorros e fiz um curso de formação de babá profissional, com o objetivo de aprender a cuidar melhor das crianças. 

— Seus outros empregadores falaram muito bem de você. A Márcia me convenceu a te dar uma chance. Mas tenho dúvidas se é qualificada para esse cargo. Tenho três filhos que não são fáceis e precisam de alguém responsável, com pulso firme, que seja capaz de cuidar do bem-estar deles. Você me parece muito jovem para isso, com pouca experiência. Mas, já que está aqui, quero que me diga, por que acha que é capaz de exercer essa função?

Senti um zumbido no ouvido. Queria gritar e jogar umas verdades na cara dele. Porém, eu não era burra. Mais uma vez, engoli a raiva e respondi com calma:

— Eu entendo sua preocupação. Afinal, são seus filhos. É muita responsabilidade. Sei que sou jovem, tenho apenas 21 anos e pareço inexperiente, mas sei lidar com diferentes tipos de comportamento infantil. Pouca coisa me assusta, na verdade. 

Eu não sabia até onde ele conhecia minha história, mas, de fato, eu sabia lidar com crianças difíceis, não só por cuidar, mas por conviver com diversas delas.

— E por que devo acreditar nisso?

— Bem, para começo de conversa, o senhor me perguntou se eu achava que sou capaz de exercer essa função, e estou respondendo. Além do mais, eu também sou órfã. Sei o que é perder uma mãe. Cresci em um abrigo de menores, com diversas outras crianças e adolescentes, com problemas e histórias que provavelmente ninguém nessa casa imagina. Então, sim, pouca coisa me assusta.

Respondi com um tom mais desaforado do que pretendia, mas aquele homem estava me fazendo perder a paciência. Ele ficou um momento em silêncio, me encarando, como se processasse tudo o que eu havia dito. Mais uma vez percebi o quanto ele era bonito, mas sua expressão séria, sem calor humano, e o jeito frio de falar apagavam qualquer traço de beleza.

— Meu filho mais velho, Davi, tem 9 anos, e os gêmeos Arthur e Alice, têm cinco. Eu viajo muito a trabalho. Preciso de alguém de confiança que garanta que eles estão estudando, cumprindo a agenda e evoluindo. Todas as pessoas que trabalham para mim são de confiança e me avisariam de imediato se vissem alguma coisa errada.

Entendi o tom de ameaça, e pensei se valia a pena continuar insistindo, mais uma vez coloquei meu lado racional para funcionar, eu precisava daquele emprego, pelo menos até achar outro, foquei nas contas que tinha para pagar.  

— Podemos fazer um teste de uma semana e o senhor pode observar se a minha interação com as crianças vai funcionar — Eu disse em de forma conciliatória, usando mais uma vez meu sorriso simpático para tentar quebrar aquela muralha de gelo.

Por um instante percebi que me olhou de forma estranha, e pensei que tinha me reconhecido,  mas ele se recuperou rápido, e para minha surpresa disse.

— Tudo bem, vamos fazer uma semana de teste, vou viajar pelos próximos 3 dias,  a Márcia vai observar de perto sua performance e me informar.  

Ele pegou o celular e mandou uma mensagem, em menos de um minuto, a secretária entrou no escritório. 

—Vamos fazer um teste de uma semana, vou precisar viajar agora a tarde, então você fica responsável pela apresentação com as crianças e acompanhar esse processo, quero que me atualize de qualquer problema. 

— Claro, doutor.  

E assim estava encerrada a entrevista, Eduardo Santana se levantou e foi embora me deixando com a Márcia, ele não explicou muitas coisas e nem estaria presente quando eu fosse apresentada para as crianças, achei estranho, mas não comentei nada. Pelo menos eu tinha uma semana de teste para conseguir conquistar as crianças. 

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