Donatela
A casa estava silenciosa, como sempre ficava quando o vinho era trocado pelo sangue da suspeita. As cortinas pesadas de veludo verde escuro filtravam a luz da lua, que esgueirava-se por entre as folhas da videira que escalava a varanda. Eu podia ouvir o tique-taque lento do relógio antigo no salão — um som que normalmente me confortava. Mas naquela noite, ele parecia zombar de mim, marcando os segundos da minha crescente desconfiança.
Victorio chegou atrasado. Como sempre, cheiro de cravo e fumaça. Vestia-se bem demais para um encontro particular. E o tom da voz dele, desde que entrou... ligeiramente mais baixo. Mais hesitante.
— Você demorou.
— Negócios... nossos amigos em Livorno estão inquietos.
Sorri. Um sorriso calmo, treinado, quase maternal. Mas meus olhos estavam fixos nos dele. Ele se aproximou como sempre fazia, como se o corpo dele pertencesse àquele espaço entre meus braços. Beijou minha mão com familiaridade. Eu deixei. Até o momento certo.
— Você anda fala