Tensão na mansão Giulia sentia seu corpo frágil, mas o calor da mão de Enrico sobre sua cintura a sustentava enquanto subiam os degraus da mansão. Finalmente, estavam em casa. Ou era o que deveria ser... mas a atmosfera pesada e abafada logo denunciou que algo estava errado. Enrico empurrou a porta da frente e, antes mesmo de adentrarem o salão, Giulia estacou. O coração dela quase parou. Ali, em pé no centro do saguão, como se fosse o legítimo dono da casa, estava Victorio. O sorriso distorcido nos lábios dele, misto de loucura e certeza, fez Giulia instintivamente se encolher contra Enrico. Ele não deveria estar ali. Não poderia estar ali. A segurança da mansão era reforçada, quase impenetrável. Como ele tinha conseguido entrar? — Victorio — a voz de Enrico saiu carregada de ódio, mais fria do que aço. — Como diabos você entrou? Victorio deu de ombros, zombeteiro. — Quem quer que ame de verdade, sempre encontra um caminho — respondeu ele, com um brilho insano nos olhos f
GiuliaO cheiro de pólvora ainda parecia pairar no ar da mansão. Aquela noite tinha sido um pesadelo: Victorio fugira, e um dos seguranças, leal a Enrico há anos, quase perdera a vida tentando impedir.Agora, a segurança estava reforçada, e os olhos atentos da equipe não descansavam um segundo sequer.Giulia, no entanto, mal tinha forças para se preocupar com o que acontecia ao seu redor. Ainda se recuperava do atropelamento brutal que quase custara sua vida — e a do bebê que carregava.No quarto amplo, repousava cercada por almofadas e cobertores, olhando o jardim pela janela aberta. O som dos passarinhos lá fora parecia tão distante... Tudo nela ainda doía — o corpo, a mente, o coração.Foi então que uma batida leve na porta chamou sua atenção.— Pode entrar — disse, a voz baixa.Uma das empregadas se aproximou, um pouco sem jeito.— Senhora Giulia... tem visita. A dona Donatela.Giulia piscou, surpresa.Donatela? A mulher com quem ela mal falava? Aquela que ela sabia —
EnricoA luz do abajur lançava sombras suaves sobre o rosto de Giulia. Ela dormia como se nada existisse além daquela cama, do travesseiro onde seus cabelos se espalhavam como seda escura. Seus lábios entreabertos murmuravam qualquer coisa incompreensível, perdida nos sonhos. Eu deveria estar em paz por vê-la assim. Mas tudo dentro de mim gritava.Primeiro o sequestro. Agora, Victorio dentro da minha casa.A casa que deveria ser segura.Cruzei os braços sobre o peito, lutando para sufocar a sensação de impotência. Eu a conhecia bem demais. Era a mesma que me corroeu há anos. Patrizia.Mesmo quando tento não pensar nela, ela volta. Basta o silêncio... Basta Giulia adormecida."Enrico..."O som da voz de Patrizia sussurrando meu nome ecoa na minha mente. Vejo o sorriso dela. Um sorriso resignado, doce e amargo ao mesmo tempo. Estávamos no nosso quarto. Giacomo tinha acabado de adormecer. Patrizia vestia o robe de cetim azul que adorava, os cabelos molhados caindo nos ombros."Promete qu
Enrico O sol atravessava as frestas das cortinas do escritório quando Enrico Bianchi se levantou da cadeira. A casa estava em silêncio. Giulia ainda dormia no quarto acima, e ele fazia questão de deixá-la descansar. A noite anterior tinha sido longa e perturbadora.Ele girava lentamente um copo de uísque entre os dedos, ainda cheio, quando ouviu batidas na porta.Andrea surgiu. — Senhor, os gêmeos Callahan chegaram. Disseram que é importante.Enrico franziu o cenho. Já havia cruzado com eles rapidamente no hospital, quando Giulia sofreu aquele “acidente”. Lembrava-se de seus olhares intensos, mas não tinham conseguido conversar naquela ocasião. Ele assentiu com a cabeça. — Mande entrar.Caelan e Conor Callahan adentraram o escritório com passos firmes e silenciosos. A semelhança física entre os dois era inegável, mas o que mais chamava atenção era a firmeza no olhar — um tipo de dor moldada pela raiva e pelo tempo.— Bianchi — começou Caelan. — Viemos falar de alguém que, infeliz
DonatelaO sol do meio-dia parecia zombar da fúria que Donatela sentia enquanto abria a porta da casa com um estrondo. Os saltos batiam firme no chão de madeira, cada passo carregado de frustração. Jogou a bolsa no sofá, arrancou os óculos escuros com força e soltou um palavrão baixo.— Três dias! Três malditos dias tentando entrar naquela casa — murmurou, andando de um lado pro outro. — E nada. Nada!Subiu apressada as escadas até o segundo andar. Victorio, que estava escondido ali desde que Giulia quase foi envenenada, apareceu na entrada do corredor. O rosto cansado, barba por fazer, os olhos pesados de desconfiança.— O que houve agora? — perguntou, seco.— Os seguranças do Enrico. Nem me deixaram encostar no portão. Disseram que estou proibida de entrar. Nem me olharam nos olhos!Victorio desceu os dois degraus que separavam o corredor da escada, com a expressão cada vez mais fechada.— Eles sabem, Donatela.Ela parou no meio do corredor e o encarou.— Sabem o quê?— Sabem que os
O herdeiroMeu nome é Enrico, sou o próximo Don da família Grecco, tenho 27 anos e essa é a história da minha vida, de como eu virei capo e como foi tudo até aqui. Na verdade, minha história não foi muito diferente dos outros herdeiros da máfia, mas eu sempre quis que fosse. Assim eu não ia experimentar esse sofrimento que carrego dentro do peito. Como um doce dado para uma criança e arrancado logo em seguida. Só que junto com o doce, tinha meu coração arrancado dentro do peito e vivia ou sobrevivia quebrado. Dizem que o sofrimento transforma as pessoas, faz com que elas deixem de acreditar nas coisas do alto e só olhem para o próprio umbigo, que elas deixem de ter esperança, de sonhar. Eu nunca almejei herdar o trono do meu pai, mas como primogênito, não teve outro jeito. Só se sai da máfia morto, e eu preferia viver fingindo que estava tudo bem e sem exercer meu verdadeiro propósito, além de conviver com o vazio do luto, do que perder a vida.Sempre invejei o meu irmão Giancarlo, e
GIULIAMeu nome é GIULIA, tenho vinte e um anos, morena da cor do pecado, com olhos castanhos claros e cabelos cheios com ondas e encaracolados. Muito abençoada pelo cara lá de cima e hoje eu vou contar como o meu conto de fadas virou meu pesadelo pessoal de um dia para o outro. Eu cresci achando que o mundo era meu, que eu podia fazer qualquer coisa que eu quisesse, e nem precisava me esforçar para isso. Meus pais sempre me deixaram viver assim, tendo tudo na minha mão, no topo do mundo, ainda mais sendo filha única e mais ainda fazendo parte de uma família importante da Itália.Meu pai sempre disse ser um empresário bem-sucedido e que eu não precisava me preocupar com nada a não ser comigo. Eu vivi nessa ilusão até acabar a minha faculdade, o curso que eu escolhi com tanto carinho e que achava mesmo que ia seguir na minha carreira, abrir meu próprio negócio. A minha vida era resumida em tecido e linha, analisar as mulheres, os panos que as cobriam e imaginar o quanto eu podia melh
Giulia De repente, sinto as minhas mãos molhadas e olho para baixo e acabo percebendo que, o aperto que eu fazia questão de dar na mão do tal homem, chegou até mesmo a arrancar um pouco de sangue, por causa do detalhe que eu tinha no meu anel, como se um pingente com a lateral cortanteGIULIA - MEU DEUS, DESCULPA! NÃO SABIA QUE ESTAVA TE APERTANDO ASSIM TANTO.ENRICO - Anda, vamos voltar para dentro.GIULIA - Para dentro? Mas nós não estamos dentro do hotel?Agora, neste momento, percebo que posso ter fugido para um futuro desconhecido. Olho sem entender para o homem, sombrio à minha frente, no meu coração, acredito que ele é o meu cavaleiro de armadura brilhante, mas também não sei no que me estou prestes a me meter e isso também é assustador.Enrico: - Temos de voltar para Itália, onde eu mando e posso te manter em segurança.Giulia - Não, Itália não, o meu pai e este meu... como posso dizer, ex noivo, vivem lá. Eles podem me pegar, o meu pai tem dinheiro e ontem, me disse que está