- Por que ainda não foram para casa? – encaro o homem alto dos pés a cabeça, os olhos escuro pareciam cansados e fundos pelas noites mal dormidas, a mandíbula rígida pela preocupação, os ombros largos tensos por carregar o peso de proteger os irmãos.
- Resolvemos passar para ver a Cami, e tomar um café. – Melissa sorri para seu protetor como uma criança que finge não ter feito nada de errado.
- Não vi você na Paradise ontem a noite. – os olhos escuros esmagam Bartolomeu que se encolhe levemente, se eu não estivesse acostumada com a típica discussão dos Mancini, jamais teria percebido isso.
- Alguém tinha que cuidar dela. – ele indica a irmã.
- Se não vão pedir mais nada, eu vou nessa. – me viro na tentativa de fugir dessa encenação.
- Camille. – meu nome sai grave e lento de seus lábios, um arrepio percorre minha espinha.
- Andrea. – concerto a postura e o encaro nos olhos.
- Quero um expresso duplo para a viagem por favor. – a tempestade que a poucos tornava seus olhos tenebrosos havia ido embora, agora um leve brilho de calmaria os dominava.
- Já trago para você. – saio deixando os irmãos Mancini na típica mesa perto da vitrine.
Passo pelos clientes que se amontoavam no balcão nas primeiras horas da manhã.
- Você já pensou em contratar mais alguém? – pergunto a Connor assim que chego do outro lado.
- Ele começa hoje. – o encaro surpresa com a noticia.
- Você vai me mandar embora? – pergunto preocupada.
- Como assim você vai mandar a Camille embora? – olho Melissa que fuzilava Connor com os olhos âmbar, seu rosto se contorcendo com a raiva. – Você ficou louco, ela é a melhor atendente que vai ter na sua vida, ninguém é melhor do que ela. Você não concorda comigo? – ela pergunta a um cliente desconhecido que a olha surpreso.
- Sim. – ele diz apressado.
- Está vendo, até esse homem tem o bom senso de reconhecer uma boa funcionaria. – minha amiga diz como se fosse algo obvio. – Você não vai demitir ela. Se não eu vou acabar com a sua vida, está me ouvindo. – ela aponta o dedo com a unha vermelha para o rosto de Connor que parecia assustado com os olhos verdes arregalados de medo.
- Eu jamais faria isso, só disse que contratei outra pessoa para a ajudar com o atendimento. – as palavras saem atropeladas na tentativa desesperada de se explicar.
- Acho bom mesmo. – o olhar gélido de Melissa deixava qualquer um com medo. Coloco o café de Andrea sobre o balcão. – Obrigada amiga, a gente se vê mais tarde. – ela sorri para mim e volta os olhos serio para Connor que se mantem imóvel.
- Ela é assustadora as vezes. – ele mexe os ombros e braços para se livrar da paralisia.
- Todos eles têm esse lado amedrontador. – dou uma risada baixa e volto ao trabalho.
- Vamos fazer nossa mudança amanhã. – Melissa anuncia assim que se senta ao meu lado na sala de aula.
- Não acha muito cedo? – pergunto.
- Já está pensando em desistir né. – ela me encara com os olhos melosos e tristes. – Você é a minha única esperança de viver longe das garras do Andrea.
- Ele te ama, por isso te protege. – passo o dedo sobre a pequena rosa azul que tinha no pulso direito.
- Seu irmão também te ama, tenho certeza disso. – a moça coloca uma mão sobre a minha com carinho. – Você sente muito a falta dele?
- Muito. – dou um sorriso amarelo.
-Posso comprar as passagens para você ir vê-lo no final de semana, tenho certeza que ele vai amar te ver. – ela parecia radiante com a ideia.
- Não posso voltar para casa. – as palavras saem antes que eu me desse conta do que havia dito.
- Você foi expulsa? – Melissa me olhava atentamente.
- Tenho muito problemas com meu pai e não posso voltar até resolver. – tento explica o mais superficial que conseguia.
- Você pode ficar aqui o tempo que quiser, eu e os meninos amamos ter você nas nossas vidas, você é minha melhor amiga. – ela j**a seus braços sobre meus ombros e me abraça com força.
- Também amo ter vocês na minha vida. E você é a minha melhor amiga. – retribuo o abraço. Sinto o telefone vibrar no bolso. – Preciso atender. – me levanto e saio da sala, caminho para fora do prédio e procuro um lugar vazio para a tender.
- Oi. – a voz mansa do outro lado aquece meu coração.
- Sinto a sua falta. – é tudo que consigo dizer.
- Termine logo esse serviço e volte para casa mi rosa. – ele implora.
- As coisas se tornaram um pouco mais difíceis do que eu esperava. – passo os dedos pelo cabelo escuro, os fios grossos e pesados. – Eles não são como eu esperava.
- Eu andei investigando depois da nossa última conversa. – ouço meu irmão suspirar do outro lado. – Talvez você esteja certa.