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*Sophia Hale POV*

**

“Tens exatamente três segundos para me dizer quem és, porque me prendeste… antes de eu decidir o que fazer contigo.”

Olhei-o, preso na cama, com aquele ar perigoso a rodeá-lo. Algo no meu estômago se prendeu. Devia temê-lo, provavelmente. Sair dali sem olhar para trás. Mas, claramente, tenho um problema.

Fechei lentamente a porta entreaberta, com uma calma que não sentia. Sem tirar os olhos dele. Se tivesse raios laser, tê-lo-ia fulminado com o olhar.

“Isso é uma ameaça?” perguntei-lhe, dando alguns passos na direção dele, da cama. Pareceu-me uma ameaça. E bem, “Não lido bem quando me ameaçam. E nem estás em posição para isso.”

“Irei estar em breve.” atirou-me arrogantemente, com um sorriso presunçoso, superior. Idiota.

“Não se eu chamar aqueles teus amigos para terminarem o que começaram.” Vi no olhar escuro algo mudar — o cerrar do maxilar.  Como se não acreditasse que eu tivesse coragem de lhe devolver a ameaça. Não desviava o olhar de mim. Puxou novamente as cordas numa tentativa de se soltar. Bem, pelo menos o idiota musculado sabia como o prender. Senti ali a minha pequena vitória.

“Solta-me”, ordenou-me novamente. Sim, claro que sim.

“Ameaças-me, mesmo preso? Tens uma arma. Não achas que eu seria idiota se te soltasse?” Falei tranquilamente. Quase inocentemente. Não vou dizer que sentir-me ameaçada não me afeta. Sim, afeta, mas tenho um problema quando me ameaçam, quando me desafiam. Não fico com as pernas bambas, o meu sistema fica preenchido de uma adrenalina estranha em vez do medo cru. E não consigo me deixar ficar. Bem… todos morremos um dia.  

Virei-me novamente para a porta, pronta para finalmente sair daquele quarto — daquela tensão, daquele plano que deu errado. E quase fui apanhada numa situação perigosa que envolvia aquele homem errado. Tinha sido inusitado, interessante. Divertido.

“Ligo para a receção assim que sair.”

“Não.” resmungou-me, alto. Sim, como se isso me impedisse.

“Boa sorte... com isso então.”

“Liga-me para outro número.” Pediu — mesmo que não tivesse soado a um pedido.

Oh, raios. Ponderei. Devia ignorar e sair. Já o tinha ajudado uma vez, certo? Ele tinha acabado ali por erro, mas já o tinha ajudado com os outros homens com cara de poucos amigos. Devia ser mais do que suficiente.

“Se não me soltas, pelo menos liga para um homem da minha confiança.”

Ok... eu podia fazer aquilo. Aproximei-me do telefone fixo ranhoso do quarto de hotel. Devia desinfetar-me depois de pegar naquilo.

“Diz-me o número”, pedi-lhe, pronta para o marcar.

“No meu telemóvel.”

“Não tens telemóvel contigo, nem carteira. Já procurei.”

“Merda.”

“Não sabes o número?” esta situação estava a ficar ridícula. Ele negou com a cabeça. “De ninguém?”

O quarto encheu-se de um silêncio estranho. O que é que eu ainda fazia ali?

“Liga para o meu número.” Ergui uma sobrancelha. “Se estiver ligado, deve estar com o Lucas.”

Ele deu-me o número dele e eu marquei. Tocou, mas ninguém atendeu. Desliguei.

“Tenta outra vez.” ordenou-me.

Não gostei do tom dele, mas desta vez obedeci. Última tentativa antes de o deixar à sua mercê.

“Sim.” atenderam.

“Passa-me o telefone.” ouvi o homem errado dizer. Do outro lado da linha, devem ter ouvido a voz dele, porque logo se ouviu um “Chefe, és tu? Onde estás?”

“Nem pensar, grandalhão.” Avisei-lhe. Mas o homem do telefone também ouviu.

“Quem…” começou o homem do outro lado, mas interrompi-o, antes de ele continuar a falar. Disse-lhe o nome do hotel e o número do quarto.

“Quanto tempo?” perguntei logo de seguida.

“Dez minutos.” Ótimo. Tempo mais do que suficiente para eu desaparecer dali. Olhei para o homem errado, que me observava com uma expressão estranha.

“Tens cinco minutos.” disse, só porque sim. Não consegui evitar o sorriso. “E sê discreto. O teu chefinho tem amigos atrás dele.”

Desliguei antes de ele dizer mais alguma coisa.

“Feliz?” atirei-lhe.

“Não.” resmungou-me. Encolhi os ombros e dirigi-me para a porta. Considerando que já fiz a minha boa ação do dia. Ajudei-o duas vezes. Não o costumo fazer. Devia sentir-se um privilegiado.

“Adeus, grandalhão. Até… nunca!”

“Vou encontrar-te e…”

“Sê bonzinho, grandalhão!” atirei-lhe, sorrindo.

Não ia deixar-me irritar novamente, fazendo-me demorar ali mais tempo. Alguém de confiança dele estava a caminho; não ia correr o risco de ficar e ser apanhada. Não sei quem são, nem vou ficar para descobrir — considerando que ele já não era o meu problema.

**

Eram quase quatro da manhã quando cheguei a casa. Lily já estaria a dormir há muito tempo. Fui o mais silenciosa que consegui. Fechei-me no quarto e tomei um banho antes de me deitar na cama.

O meu pensamento foi imediatamente para o grandalhão — o homem errado que deixei preso numa cama de hotel rasca.

É incrível o que o dinheiro consegue comprar. E como é fácil aceder a pessoas capazes de fazer as coisas erradas pelo preço certo. No entanto, a parte mais divertida do meu plano vi o meu plano correr mal. Um desperdício de tempo e de dinheiro.

Pensei em deixar a Lily resolver aquilo por ela própria. Acabei por ir buscá-la à escola, sobretudo para comemorar que eu tinha ficado com o lugar da Francesca — e logo à porta estava Frank, o diretor, com aquele ar de homem que acha que pode tocar em tudo. Estava a tentar abraçar-lhe. Escusado será dizer que não gostei. Então percebi que não podia ficar à espera de que a princesa fizesse justiça. E resolvi tratar eu das limpezas.

No dia seguinte à saída da Francesca recebi um e-mail com a proposta — aceitei imediatamente. O diretor nem se deu ao trabalho de me confrontar com o que aconteceu.

Pensei que iria ser mal recebida pela minha equipa. Provavelmente o mais certo era a Jackie estar a envenenar-me com os cafés que continua a trazer-me, com o Bryan e a Magda como cúmplices. Afinal, estavam ali há mais tempo do que eu, e eu tirei-lhes a oportunidade de um deles ser promovido e aumentado.

Havia rumores por toda a empresa sobre a “Sophia CruHale de Vil” — a vadia cruel que fez a chefe de equipa ser despedida, a que dormia com o diretor para subir de posição. Alguém com quem apenas me reuni duas vezes.

Sim. Tinha agora uma fama na Verity para honrar.

No entanto, não podia reclamar do trabalho dos membros da minha equipa. Eles trabalhavam bem. Neste último mês mostraram-me ideias para campanhas bastante boas e estamos prestes a ganhar um novo cliente que será entregue à nossa equipa. E bem — aqui a vadia cruel não se apropria das ideias deles como minha, como acontecia com a Francesca. Posso ser a vilã, mas tenho classe.

Olhei para as horas no telemóvel. Certamente o homem de confiança do grandalhão já o teria ido salvar, certo? Já tinha passado pelo menos uma hora desde que o deixei no hotel rasca.

Soltei um suspiro, frustrada. Peguei no telemóvel com um cartão não registado que tinha comprado recentemente, ainda sem usar, ainda na caixa. Lembrava-me do número que o homem errado tinha dito. Sim, sou inteligente, mas, claramente, com o meu sistema de autopreservação desligado, liguei o telemóvel.

Tinha comprado aquele telemóvel para enviar fotos a Frank, chantageando-o por trair a esposa — e depois, talvez, enviá-las à própria esposa.

Vi-me a digitar uma mensagem para ele:

“Já estás solto, grandalhão?”

Enviei. O telemóvel vibrou quase de imediato. Na tela, uma mensagem curta:

“Vou encontrar-te.”

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