05 – SEQUESTRADA

POV: HAPHEL

Fui literalmente jogada para dentro do carro, antes que conseguisse reagir, o cinto travou sobre meu peito, me prendendo. Ele abriu o porta-luvas, pegou algo e, sem dizer uma palavra, se inclinou sobre mim.

Sua respiração roçou em meu rosto. Quente. Controlado. Provocante.

A ponta dos seus dedos deslizou por minha pele, traçando meu maxilar com lentidão absurda. Senti um arrepio me subir pela espinha, e, por reflexo, travei o maxilar. Mas os olhos dele… não piscavam. Eram fixos aos meus. Duros. Implacáveis. E perigosamente hipnotizantes por seus tons amarelos.

— Para com isso... por favor... — murmurei, com a voz falhando no meio da frase. — Eu juro que vou gritar, você está completamente maluco! Isso é crime!

Ele não respondeu. Apenas subiu a mão e prendeu meus cabelos com firmeza, puxando-os para cima, expondo meu rosto.

— Solta. — Tentei afastá-lo, mas ele ignorou.

Com um movimento preciso, encaixou uma venda sobre meus olhos. O mundo escureceu em um estalo, minha respiração disparou.

— O que está fazendo? — Entrei em pânico, mordi o lábio e comecei a me debater, contorcendo o corpo como se aquilo fosse me livrar do controle dele. — Você não pode fazer isso, não pode me sequestrar! A polícia vai perceber! Eu sumir assim do nada é o tipo de coisa que dá cadeia, seu lunático!

— Ninguém vai perceber, Haphel. — A voz dele veio grave, baixa, cortante. — Foi você quem disse... que não tem mais ninguém, ninguém notará o seu sumiço.

Parei de lutar. Não porque quisesse, mas porque as palavras dele bateram fundo, mais do que eu estava pronta para admitir. A venda escondia meus olhos, mas não podia esconder as lágrimas quentes que escaparam, molhando minha pele. Mordi o lábio com força, tentando engolir a sensação de estar completamente à mercê dele.

— Por que você está fazendo isso comigo? — Minha voz saiu baixa, com o nó na garganta. Suspirei, tentando controlar a respiração que estava descompassada.

Encostei a cabeça no encosto do banco, o corpo rígido, e ergui o rosto em direção de onde sentia o calor dele, tão próximo que parecia me cercar.

— O que você quer de mim? — Forcei a pergunta, a voz vacilando. — Quem diabos é você de verdade?

Senti seus dedos subindo pelo meu pescoço, quentes, ásperos, firmes, até capturarem meu queixo. Sua mão bruta me obrigou a manter a cabeça erguida, imobilizada sob o seu controle. O hálito quente roçava na minha pele sensível, perto demais da minha boca, como se ele testasse o limite.

— Você viria até mim de qualquer forma, Raposinha. — Ele falou baixo, quase um rosnado, carregado de certeza. Seu cheiro me cercava, forte, viril, impossível de ignorar. — É o nosso destino.

— Destino? — Arqueei as sobrancelhas, inclinando levemente para a frente, e nossos lábios roçaram por acidente. O som grave do rosnado dele me fez congelar. Afastei o rosto, engolindo seco. — Eu não quis... eu...

— Cuidado, Haphel... —  Sua voz desceu para um tom grave, carregado de ameaça e uma calma irritante. — Não sou alguém que você queira provocar.

Senti sua mão afundar o encosto do banco, o corpo dele praticamente me cercando, a presença sufocante, como se me prendesse ali de propósito. O calor da respiração dele bateu no meu ouvido quando sussurrou, baixo e intenso:

— Mesmo que seja tentador.

— Você é mesmo um louco! — Disparei, sem pensar. Empurrei o corpo para frente e encostei nele de propósito. Fechei os lábios e mordi com força o que encontrei: talvez a clavícula, talvez o ombro, não tinha certeza pela venda.

Ele soltou um grunhido abafado, a respiração saindo pesada contra meu rosto. Por um instante achei que tinha passado do limite. Mas, ao invés disso, ele riu. Baixo. Perigoso. E pior: divertido, como se tivesse acabado de achar graça na minha tentativa de enfrentá-lo.

— Suas presas humanas não podem me ferir. — Ele murmurou com um tom quase satisfeito, como se apreciasse o desafio. — Mas devo admitir... você desperta sensações interessantes.

Soltei na hora, pressionando os lábios como se aquilo pudesse apagar o que tinha acabado de fazer. Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, um som cortou o ar. Uivos. Vários. Próximos demais. Minha pele arrepiou.

— Você é mesmo filha dele... — A voz dele soou com um fascínio perigoso. Senti a ponta dos seus dedos deslizando devagar, contornando meus lábios como se limpasse qualquer vestígio do que eu tinha feito. — Isso vai ser interessante.

De repente, o calor dele se afastou. O espaço ficou frio, vazio. Eu me agitei, tentando segui-lo mesmo sem enxergar.

— Onde você vai? — Falei rápido, com a voz carregada de alerta. — Você não pode me deixar aqui, vendada e algemada!

— Hunf... é claro que posso, Haphel. — Ele rosnou, a voz mais grave, carregada de hostilidade — Agora você me pertence!

O rosnado veio logo depois, baixo, ameaçador, como se quisesse me lembrar de quem estava no controle. Senti a vibração dele no ar, como se meu corpo reagisse antes mesmo do cérebro entender o que estava acontecendo.

— Fique aí quietinha. Temos visitantes indesejados. — Completou, seco.

— Visitantes? — Rebati de imediato, franzindo o cenho sob a venda. O som mudou. Rosnados altos, mais próximos. Garras... eu conseguia ouvir as malditas garras arranhando o chão, junto a uivos que arrepiaram minha pele inteira. — O que está acontecendo? O que é isso?!

— Não se preocupe... Raposinha. — Ele falou meu apelido como uma promessa torta. — Quando você acordar, tudo estará acabado.

Senti algo encostar no meu nariz. Um cheiro forte, intenso, uma mistura de álcool e ervas que queimou minhas narinas.

— Acordar? — Resmunguei, franzindo a testa sob a venda. — Eu não tô com sono... O que é isso?

Tentei virar a cabeça, mas meus sentidos começaram a se afastar, como se tudo ao redor estivesse sendo drenado. O corpo ficou mole. Os músculos não obedeciam. Senti os olhos pesarem, o véu escuro se fechando, e a maldita sensação de impotência me tomou de novo.

— Eu... eu vou te matar, seu maldito... — Sussurrei entre os dentes, a fala embolando enquanto a consciência escorregava pelos meus dedos.

— Tenho certeza de que vai tentar. — A voz dele veio mais distante agora, como se se divertisse com a minha ameaça inútil. — Haphel.

Tentava lutar contra o peso que caía sobre minhas pálpebras, como se algo estivesse me puxando para um sono forçado. O esforço era inútil, mas eu resistia. De fundo, um caos me atingia em pedaços: gritos de dor, o som de algo sendo rasgado, estalos como se ossos se quebrassem, vozes lançando ameaças e rugidos tão fortes que minha pele se arrepiou inteira.

E então... uma frase se sobressaiu, me prendendo.

— Você não pode protegê-la para sempre, Alfa Belmont! — A voz veio de algum lugar, rouca, como se estivesse sufocada.

— Belmont? — Murmurei, a voz mole, quase arrastada. Tentei erguer as mãos pesadas em direção à venda, mas antes que chegassem lá, um toque firme me impediu.

— Não faça isso. — A voz dele me envolveu, profunda, mas curiosamente mais suave, quase... protetora. — Descanse, humana. — Uma pausa curta. — Está segura agora, Phel.

Fel? É um apelido? Meu sequestrador me apelidou?

Tentei raciocinar, mas minha consciência não aguentou. Tudo apagou de vez.

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