Mundo de ficçãoIniciar sessãoPOV: HAPHEL
— Então está dizendo que ela é... — Uma voz feminina ecoou ao fundo, baixa, mas curiosa.
— Shiu, ela pode te ouvir. — Um homem respondeu em tom ríspido, como se tentasse controlar a situação. — Me parece que ele pessoalmente confirmou as suspeitas e a trouxe para cá.
— Mas por quê? — A mulher insistiu, a voz carregada de desconfiança. — O que o Alfa pretende fazer com uma jovem ômega? Ela nem tem presas.
— Sabemos da linhagem dela... sabemos de quem essa ômega é filha. — Outra voz masculina completou, soltando um suspiro pesado, seguido de silêncio. — E o Alfa Belmont mantém a palavra dele.
— Belmont? — Minha voz saiu rouca, ainda tonta. Forcei os músculos adormecidos para me sentar, sentindo o corpo reagir com um peso absurdo. A cabeça latejava, mas minha curiosidade era maior que o incômodo.
Pisquei algumas vezes, tentando ajustar a visão embaçada. As mãos foram direto aos meus olhos, coçando, enquanto pressionava as têmporas para aliviar a cabeça pesada. A boca estava seca, um gosto estranho preso na garganta. Respirei fundo, forçando o corpo a se erguer um pouco para olhar ao redor.
Foi então que vi. Um homem alto, loiro, de olhos claros, estava parado à minha frente. Me encarava com o cenho franzido e os braços cruzados, como se eu fosse algum tipo de problema. Ao lado dele, uma mulher igualmente loira, de olhos claros, me analisava com uma curiosidade irritante, quase como se me estudasse.
— Quem são vocês? — Perguntei, a voz firme, mesmo com o desconforto de estar sendo observada como um bicho exótico. Meu olhar percorreu o espaço e percebi que estava em um quarto. Na cama.
A adrenalina me empurrou para frente e me levantei rápido, cambaleando por um segundo, tentando disfarçar a falta de equilíbrio.
— Onde eu estou?
— Vai com calma, ainda está sob o efeito do sonífero. — A mulher disse, se aproximando com passos lentos, cautelosa. — Não vamos te machucar. Eu sou Soraya, e esse aqui com cara de mau é meu irmão, o Beta Aldric.
— Ouvi vocês falando “Alfa Belmont”? — Dei um passo à frente, sentindo o coração acelerar com a confirmação do nome. — Estou certa?
— Sim, mas... — Soraya começou a explicar, e eu não deixei.
— Onde ele está? — Interrompi, a voz saindo alta e apressada. Meus olhos varreram o quarto até pararem numa porta de correr. — Ele está ali?
— Olha, você não pode ir lá. — Aldric ergueu a mão, a expressão endurecida. — O Alfa é ocupado e não gosta de ser incomodado com coisas triviais e...
— Triviais? — Arqueei uma sobrancelha, bufando. — Eu não sou trivial, grandão.
Disparei em direção à porta antes que ele pudesse terminar, abrindo com força.
O ambiente do outro lado congelou. Um silêncio imediato tomou conta da sala.
Os olhos dele me encontraram. Lentamente, a cabeça se ergueu como se cada segundo fosse calculado. Aiden Belmont. Ele estava sentado atrás de uma mesa grande, em uma postura que gritava poder e domínio.
Havia homens em pé ao redor, todos viraram para me encarar com sobrancelhas franzidas, mas eu não recuei. Ajustei a postura, respirei fundo e limpei a garganta, ignorando cada olhar atravessado enquanto caminhava até a mesa.
Parei bem à frente dele, sem baixar o olhar.
— Você é Aiden Belmont? — Perguntei direto, a voz firme, segurando o contato visual com aquela intensidade predatória que ele exalava.
Ele se moveu devagar, como se tivesse todo o tempo do mundo. Pousou o queixo sobre as mãos cruzadas na mesa, os olhos dourados com tons acobreados semicerrados, me observando com aquela calma irritante.
— Responda, você é Aiden Belmont? — Reforcei, a voz tensa, sentindo meu coração bater acelerado.
— E se eu for? — Ele falou devagar, a sobrancelha arqueando com uma arrogância que me deu vontade de socar aquele rosto perfeito.
— Olha aqui... — Cruzei os braços, mas a raiva foi mais rápida, e bati as duas mãos espalmadas com força na mesa, fazendo um som seco ecoar pela sala. — Você é incrivelmente irritante! Juro que estou a um passo de perder a paciência de novo e te acertar. — Inclinei o corpo para frente, encarando-o de perto. — Já não basta ter me sequestrado e me apagado?
— Ela acertou o Alfa? — Ouvi alguém murmurar atrás de mim, a surpresa na voz era clara.
— Está ômega fraca? — Outro comentou, intrigado, e uma risada feminina soou ao fundo, debochada o bastante para me fazer ranger os dentes.
Dei um passo para trás, confusa, olhando de relance para os rostos curiosos ao redor. Ômega? Por que diabos todos estão me chamando de ômega? O que isso significa?
Antes que eu pudesse questionar, a voz dele cortou meus pensamentos.
— Você parecia precisar de um descanso. — Aiden falou com aquele sorriso torto, lento, que parecia um desafio. Se recostou na cadeira, revelando os braços fortes, os músculos definidos marcando a camisa preta fina, o corpo relaxado, mas o olhar... predatório. — Dormiu feito um anjo.
— Que se dane, Aiden Belmont. — Disparei, erguendo o queixo, o peito inflando na tentativa de não parecer intimidada. — Eu vim cobrar a dívida de Bryan Keen.
— É mesmo? — A voz dele soou lenta, carregada de ironia.
Ele se levantou preguiçosamente. Seu corpo, enorme e imponente, facilmente me cobriu, me fazendo sentir pequena e exposta. Suas mãos pousaram na mesa, copiando meu gesto anterior, ele se inclinou até que nossos rostos ficassem perigosamente próximos.
O olhar dele me prendeu com uma intensidade desconcertante. Um sorriso lento e torto surgiu nos lábios, quase como um aviso silencioso. Vi seus olhos percorrendo cada detalhe do meu corpo, devagar, e senti minha pele arrepiar em cada lugar onde o olhar dele passava. Quando finalmente voltou aos meus olhos, falou com um tom que fez minha respiração falhar por um instante:
— Não deveria cobrar a dívida de um homem usando essas roupas, Haphel...
Franzi o cenho, confusa, e abaixei o olhar para minhas próprias roupas. Ou melhor, para a falta delas. Meu rosto esquentou de imediato, uma onda de calor subindo pelo pescoço até as orelhas.







