Para mim, a dor física e a forma que encontrei de superar a dor da alma. Ela é inferior a dor que sinto dentro de mim. Essas são as palavras que eu venho repetindo para mim mesma, como um mantra, durante toda a minha adolescência. Meu nome é Mellany, Mell para os íntimos. Eu sou depressiva. E me corto. A automutilação foi a forma que encontrei para ignora a dor que sinto. Uma dor que não é física. A minha vida se resume em ficar no meu quarto. Dese que esses sentimentos me invadiram eu penso muito. Olho para a lâmina enquanto estou lá sozinha e penso que ela é minha única amiga. A única que realmente se importa. As coisas são bem confusas, mas eu tento relevar Eu tenho as amigas da escola, elas tentam ajudar mas não é o suficiente. Esse é o resumo da minha vida, sofrimento e dor e então...mais dor. As vezes luto contra o desejo de morrer. As vezes não.
Leer másExistem muitas formas de morrer, umas ruins, outras nem tanto.
Mas a sensação que estou sentindo nesse momento, com certeza é pior do que a morte.Minhas mãos estão quentes, assim como as minhas orelhas.Um choque corre a minha espinha, um nó se forma na garganta e não importa o quanto eu queira falar, nada sai. Eu só choro, e tem essa coisa rasgando o peito por dentro como se fosse me engolir. Dá dor de barriga, dor de cabeça, vontade de vomitar, meu corpo todo fica tremendo, eu quero fugir, mas ao mesmo tempo quero só ficar no mesmo lugar. Penso em me abrir com alguém, ao mesmo tempo que pondero suicídio. Porque qualquer um que cruzou a linha da automutilação tem tendencias suicidas, é preocupante quando se chega a esse estado. Isso é o que o meu psiquiatra diz. E tem os casos de terror noturno, insônia, ansiedade gerada pela depressão, síndrome do pânico, irritação, nada que eu faço parece bom o suficiente, nada que eu gosto de fazer parece a mesma coisa, tudo fica preto e branco e minha única vontade é me encolher na cama e apodrecer lá.Os cortes liberam oxitocina e endorfina, que causam uma sensação de prazer. E isso me tira da dor que eu sinto, ao menos por alguns segundos.Olho para a lâmina, ela é minha companheira. Ela me ajuda a aliviar minha dor. Mas hoje eu não vou só me cortar. O pânico está me matando. Eu não aguento mais o inferno.Meus pais não me enxergam. Ninguém enxerga. Eu não sou nada. Sou invisível.Minha mãe está ocupada demais com as compras e meu pai? Bem esse só pensa no trabalho. Tenho dois irmãos. Cindy de dez anos, ela é uma idiota. Diz que eu gosto de chamar atenção. Mas no fundo ela só repete as palavras da minha mãe. E tem o Brian, ele tem dezessete e é o único que realmente se importa. Mas o que ele pode fazer? Ele discute constantemente com papai por minha causa, mas nada muda, só me deixa pior. Na escola não é diferente. Tem a Sue, ela é ridícula. Ela e as suas amigas não me dão paz. Passam o dia me perturbando e mexendo comigo. Odeio a escola. É como o inferno...dentro do inferno.Estou com a lâmina na mão, pondero se serei capaz de fazer o que minha mente me diz. Não há ninguém em casa. Mas a qualquer momento Brian vai chegar.Se ele estivesse aqui, estaria no quarto dele ouvindo Rap, ele gosta de Rap. Eu também gosto.Olho pela pequena janela do banheiro e vejo ele chegando. Não vai mudar nada. É muito difícil ele vir no meu quarto.Abro a torneira da banheira, a crise de pânico ainda me consome. Estou tremendo dos pés a cabeça.A banheira enche e eu tiro a roupa, mergulho na água quente. Deveria ser relaxante, mas não é. Estou alheia a qualquer sensação. Já estou acostumada. No momento das crises, só sinto o pânico me dominando. É destrutivo. É só a fase, eu ouço muito isso. Não acredito mais. Nem sei se acreditei um dia.Ainda estou com a lâminana na mão. Olho para os meus pulsos. Tomo coragem. Eu sei que tenho coragem. Penso na minha família.Não vou fazer falta para eles. Forço a lâmina e sinto a pele do meu pulso abrir. O sangue escorrendo forte. Não é o suficiente. Faço o mesmo no outro. O sangue jorra. Sinto uma pequena sensação de prazer antes de ver a água vermelha do meu sangue escorrer para fora da banheira. Sinto minhas forças se esvaindo e aos poucos vou perdendo os sentidos. Chegou a hora. Antes de apagar por completo vejo a porta se abrindo bruscamente.Tudo é uma névoa. Me sinto flutuando. Mãos firmes me pegam da água. Sou enrolada em algum tecido, ao mesmo tempo que descemos a escada. Sou lançada no carro. Estou quase apagando.Ouço meu irmão xingando alto. Não compreendo o que ele diz.Olho para meus pulsos meio grogue e vejo que o tecido que me envolve está embebido em sangue. A escuridão me engole.Abro os olhos e a claridade incomoda. Então os fecho outra vez. Minha boca está seca. Ouço vozes mas elas estão distantes. Abro novamente os olhos. Aos poucos me acostumo a claridade. Vejo Brian conversando com um homem de jaleco branco. Ele olha na minha direção e sorri.
- Mell? Que bom que acordou.- Onde eu estou?- No hospital. Não se lembra?Aos poucos minha mente começa a desanuviar e lembro.
- Sim.- Por que fez isso? De novo?- Me deixa Brian.- Essa já é a quinta vez, só esse ano!- Cadê a mamãe?- Ela...- Tá já sei.Até a terceira vez que tentei suicídio, minha mãe chegava no hospital histérica, prometendo que ia mudar. Nunca mudou. Não ia mudar nunca.Foram as mesmas coisas de sempre. Psicólogo, psiquiatra, blá blá, blá. Todos fingindo que se importavam.Soube que dessa vez havia sido uma semana até eu acordar.Brian me levou para casa em silêncio. Fui eu quem falei.- Como me encontrou?- A água da banheira estava escorrendo pela escada. E havia sangue nela. Muito sangue. Então eu fui lá e te vi. Pensei que você já estava morta.- Era isso o que eu queria, sabe?- Não diga isso Mell.- Estou cansada.- É aquela garota de novo?- Também. Mas não quero falar nisso agora.Ele ficou quieto. Sai do carro e fui direto para o quarto. Achei que dessa vez eu morreria.Não foi dessa vez.Na minha cama tinha uma caixa, dentro havia um celular novo e um bilhete."Oi filha, desculpe não estar aí para te receber. Silvia precisou de mim para um evento. Te amoMamãe"Legal. Um presente por tentar morrer.
Minha mãe conseguia me deixar pior até quando tentava agradar. Ela não sabia, mas mais do que querer um celular novo, eu queria sua presença.
Deitei na cama e peguei um livro. Minha única alegria.A sobrevivente surgiu de um sofrimento. A cena descrita no primeiro capitulo foi vivida pela minha filha. Ela não chegou ao extremo de Mell, mas teve muita vontade.A depressão não é algo a ser ignorado, não é frescura. É uma doença e é gravíssima. Deve ser tratada como tal.Se você conhece alguém que tem depressão ou se corta, cuide, porque talvez seja tarde demais depois. Para Mell felizmente não foi, mas foi pra Cindy. Ajude, cuide, ofereça o seu carinho sem julgamentos. É tudo o que um depressivo precisa.Quero agradecer imensamente a todos os meus leitores.Mas quero dar uma abraço apertado na Angel e na Duda, que incansavelmente me incentivaram quando eu perdi o interesse pela escrita. Elas me ajudaram a continuar. Obrigada as duas! E obrigada a todos que leram A Sobrevivente.
2 anos depois...A casa da praia estava toda decorada com flores. Amigos e familiares, todos reunidos. Tudo estava perfeito, perfeito para o dia dela.Parei no alto da escada e olhei para ela.- Você está linda filha...- Eu estou nervosa.- Théo será um ótimo marido.- Tem razão.Dei o braço para ela e Isadora, que exibia um barrigão, lhe entregou seu buquê.Brian e ela também haviam se casado e seus pais apareceram no dia da cerimônia. Eles pediram perdão e ela os perdoou. Mell posicionou o buquê a frente do corpo, e com a minha ajuda passou a descer lentamente a escada. A porta da frente foi aberta e eu senti no meu rosto a quente brisa de verão, com o cheiro da maresia.Olhei para a minha filha e vi o brilho em seu olhar. Ela usava um vestido princesa e parecia um anjo. Meus olhos se encheram de lágrimas. Eu estava prestes a entregar minha filha ao homem que ela amava, e que
Era a primeira vez que Théo me tocava tão profundamente.A nova rejeição dele tinha desencadeado uma crise de ansiedade, nada incontrolável, mas se ele não estivesse ali, eu sabia onde ela iria me levar.Ele me levou para cama e começou a depositar beijos pelo meu pescoço e clavícula. A sensação de sua pele na minha, de forma tão intima, desencadeava sensações que eu sequer sabia que existia.Théo tocou a pele do meus rosto e sorriu.- Tão linda.Eu sorri e ele beijou os meus lábios. Nosso amor estava presente em cada célula do nosso corpo.Ele desceu as a mão até a altura dos meus seios, mas sem tocá-los, como se esperasse a minha autorização. Fechei os olhos e ele entendeu a deixa. Passou a acariciar meu seio com a ponta dos dedos. Eu arfei e ele intensificou as caricias, massageando com vontade.Quanto mais ele me tocava mais eu precisava de seu toque. Minha pele formigou quando ele chupou o biquinho rígido.Ele desceu suas mã
Quem nos viu no início do relacionamento, tudo o que passamos, todo o preconceito dos pais de Mell, como fizeram tudo ao seu alcance para nos afastar, quem viu isso, não acreditaria se me visse agora.No momento em que saímos do quarto de Mell, ouvimos os gritos histéricos de sua mãe. Fomos ao encontro dela e vimos o desenrolar da saída do meu sogro. Ela gritava que o marido não deveria abandoná-la naquele momento e ele dizia que não estava abandonando ninguém, que precisava apenas de um tempo para colocar a cabeça no lugar. O pai de Mell saiu batendo a porta e a esposa correu até ela tocou a maçaneta, mas desistiu de abrir a porta, se encostando nela de costas e escorregando ate sentar no chão. Ali, abraçou os próprios joelhos e começou a chorar. Mell me deu um olhar sugestivo, ela não queria consolar a mãe. Eu a entendi, por um lado, mas por outro, não imaginaria ver minha mãe sofrendo e deixar que outra pessoa a abraçasse.-Não precisa se não quiser.- Eu vou.M
Minha mãe estava ao lado do caixão de Cindy, ela chorava muito. Meu pai estava próximo a janela, olhava para o nada. Me aproximei dele, acompanhada de Théo. Como se sentisse a nossa presença, ele se virou.- Oi filha.- Oi pai. Como se sente?- Culpado.- Não havia como saber. Nem eu imaginei.Ele suspirou e saiu. Olhei para a minha mãe e Théo me levou até ela. Tocou em seu ombro e ela se virou e o abraçou. Fiquei surpresa.Deixei os dois ali e fui me sentar do lado de fora. Pouco depois Brian se aproximou.- Como se sente?- Nem sei Brian. Ela estava tão feliz na festa...- Ela tinha que estragar tudo e fazer a menina se sentir um nada! Agora fica ali chorando. Hipócrita! Falsa!- A dor dela é genuína, isso dá pra ver.- E do que adianta? Ela deveria ter pensado antes. Quantas vezes você tentou sem sucesso fazer o que Cindy fez?Brian chorava muito.- Várias...-
- Sim papai, Cindy se matou.Foram as palavras mais amargas que saíram da minha boca, em muito tempo.Meu pai caiu no chão, aos prantos. Com as mãos no rosto.- Minha garotinha... Minha menininha...A culpa é minha...A culpa...- Não adianta procurar culpados.- Se eu tivesse vindo ontem a noite...- Acho que ela já tinha feito quando conversamos.Ele levantou o rosto banhado em lágrimas, seu olhar mostrava ódio.Ele se levantou e correu para fora. Fui atrás dele e cheguei a tempo de ver que ele segurava minha mãe pelos ombros. Ela estava pálida e ele a chacoalhava.- Ela está morta! Morta e a culpa é nossa!- Você...Ela não conseguiu concluir a frase, apenas olhou para mim com o olhar interrogativo. Eu baixei a cabeça. Ela entendeu e também começou a chorar. Lágrimas desciam pelo seu rosto, enquanto meu pai ensandecido, a chacoalhava mais e mais.Me aproximei e tirei ela das mãos dele. Ela caiu sentada na cadeira.- Vou
Último capítulo