Ficou bem claro que ela estava evitando ele.— Tá bom. — Isabela acenou com a cabeça.Naquele momento, ela achou que seria uma boa oportunidade para se acalmar e pensar sobre como iria explicar para ele.— Vamos jantar juntos essa noite. Essa viagem de negócios pode demorar mais do que eu pensei, você vai ficar um tempo sem me ver. — Jorge disse.Ele ainda tinha que ir para outro lugar e ficaria mais tempo.Isabela continuou recusando.— Eu preciso ir ver meus pais.— Eu vou com você...— Ah... Não precisa. — Isabela fez um gesto rápido com a mão. — Já está tarde, e faz tempo que não passo um tempo com eles. Além disso, o que aconteceu foi por minha causa, eu quero ficar sozinha com eles. Acho que até vou dormir lá, então...A recusa dela fez Jorge se sentir meio mal, mas quando ela explicou tudo, parecia fazer sentido.Realmente, era uma reunião de família, e ele realmente seria um intruso.Ele confirmou levemente com a cabeça.Depois de sair do escritório, Isabela foi direto para bai
Caio não aguentou e resmungou:— Tá bom, tá bom... Você é a pessoa que tem o melhor temperamento da família!Era óbvio que ele não estava falando sério.Isabela deu uma risadinha.Lara lançou um olhar de leve censura para o marido, e Caio logo tratou de colocar comida no prato dela, calando ela com gentileza.A mesa ficou em silêncio por um tempo. Depois de alguns minutos, Lara perguntou:— E o seu namorado? Por que não veio com você?Isabela, com a tigela nas mãos, congelou por um instante, mas não deixou transparecer nada.— Eu vim dormir em casa. Para que trazer ele? — Respondeu Isabela, como se fosse algo óbvio.Lara pensou um pouco e concordou com a cabeça. Ela pegou um pedaço de carne e colocou no prato de Isabela e disse:— É raro você estar em casa, coma mais um pouco.Isabela assentiu:— Vocês também. Comam bastante.Aos poucos, o clima na mesa foi ficando mais leve, mais descontraído.Mesmo sendo uma casa pequena e com apenas três pessoas ali, o ambiente parecia acolhedor, ch
Isabela não esperava que, assim que a garota abrisse a boca, fosse tocar num ponto tão importante para o caso.— Posso gravar? — Ela perguntou.A menina assentiu levemente com a cabeça.Isabela tirou um gravador da bolsa.A menina continuou:— Ela quer ficar com tudo que era deles, todo o patrimônio do casal. — Seus lábios estavam ressecados e pálidos. — Ela nunca pensou em como eu me sentia. Nunca se importou se eu estava viva ou morta. Para ela, só existe dinheiro.A voz dela era baixa, rouca, carregada de uma tristeza profunda.— Ela nunca cuidou de mim. Nunca teve um pingo de carinho. Mãe? Eu nem sei o que é ter uma mãe de verdade.Isabela escutava em silêncio.A garota desabafava, como se enfim pudesse soltar tudo que vinha guardando por muito tempo:— Todo mundo diz que mãe é a figura mais importante do mundo... Mas eu nunca senti nada disso. Nunca senti carinho, nunca fui amada... Desde que eu nasci, nunca soube o que é ser amada.Ela não chorava. Só falava, com o rosto sem expr
No entanto, quando o advogado da acusação afirmou que a tentativa de suicídio da garota havia sido causado pelo estupro cometido pelo réu, Isabela reagiu imediatamente.Ela sabia que aquilo não tinha relação com seu cliente e apresentou provas: o contrato de compra do primeiro imóvel da garota, e também o contrato do segundo apartamento.Além disso, mostrou evidências de que a garota enfrentava problemas no trabalho.Aqueles eram os verdadeiros motivos que a levaram ao suicídio. No fundo, o que mais a feriu foi o fato de que as pessoas mais próximas dela, mesmo sabendo o que ela havia passado, preferiram ignorar ela, ou pior, machucar ela ainda mais. Foi aí que ela perdeu o sentido da vida e decidiu acabar com tudo.Depois de ver as cicatrizes no pulso da garota, Isabela procurou o médico responsável pelo caso. Pelas palavras do doutor, soube que as marcas no pulso direito já existiam há pelo menos três anos.O médico também contou que, além do ferimento quase fatal no pulso esquerdo,
Ele ainda achava que tinha se dado bem, agradecendo Isabela como se ela tivesse feito um grande favor a ele.— O suicídio dela não foi por minha causa. Isso pode reduzir minha pena, né? — O velho desgraçado perguntou.Isabela respondeu:— O juiz vai levar isso em consideração.Embora aquele fator pudesse amenizar um pouco a pena, não faria tanta diferença assim.Afinal, o que ele fez foi grave, e não foi uma vez só, foram vários abusos.Naquela época, a garota ainda era só uma criança.Chamar ele de "desgraçado" ainda era elogio. Ele não merecia nem ser chamado de ser humano.Leonardo se aproximou e puxou Isabela para o lado.Antes do juiz anunciar a sentença, havia um intervalo de meia hora para deliberação do tribunal. Leonardo estava presente e tinha escutado tudo no tribunal.Ele olhou para Isabela e disse:— Eu não consigo entender o que você fez.Na visão dele, o desgraçado era o responsável pelo suicídio da garota.Apesar de Isabela ter apresentado provas importantes, Leonardo q
Naquele dia, quando Isabela Lopes foi levada ao tribunal pelo próprio marido, Sandro Marques, uma nevasca intensa tomava conta da cidade.Ela ainda se lembrava de como acreditava em seu amor. Durante sete anos, desde que se apaixonaram até o casamento, sempre teve certeza de que ele amava ela e que viviam um casamento feliz.Tudo mudou, porém, quando ele entregou ela às autoridades, sem hesitar, por causa de uma palavra dita por Milena.O juiz começou a leitura do caso de Isabela, acusada de porte de substâncias proibidas.— No dia 23 deste mês, durante uma blitz na Rua Oeste, agentes encontraram substâncias ilícitas no veículo conduzido pela Sra. Isabela. — Declarou o juiz. — Esta audiência é para examinar os detalhes da acusação. Solicito que o autor leia suas alegações.Sandro se levantou, o corpo alto e imponente vestido com um terno preto impecável, que só aumentava seu ar sério e afiado. Seus olhos, que um dia transbordavam de amor por sua esposa, agora mostravam apenas desaponta
Isabela se virou para olhar Sandro. Era curioso como palavras tão decisivas agora pareciam deslizar com facilidade.Sandro, com uma expressão gélida, retrucou sem titubear:— Não vou me divorciar de você. Você sabe disso muito bem.— Você é advogado, deveria entender o que está em jogo. Se eu for condenada, vou parar na cadeia...— Com as provas contra você, Isabela, não posso fazer nada além de seguir o que a lei manda...— Não, Sandro. Não é sobre provas. É sobre você acreditar na Milena e não em mim.Isabela sentia cada palavra pesando no ar. Era mais do que simplesmente uma questão de confiança: ele estava disposto a vê-la presa para defender Milena.Ele baixou os olhos e, evitando a intensidade do olhar dela, depois caminhou para as escadas, sem oferecer qualquer explicação:— Vamos para casa.Isabela ajustou o casaco grosso ao corpo e seguiu até o carro. Aquele dia estava frio e o vento cortava o rosto dela como pequenas lâminas geladas. Ela entrou no carro e o silêncio entre ele
Na cozinha, não havia sinal dela, nada do costumeiro movimento enquanto ela preparava o jantar. No quarto, o vazio reinava. A casa parecia outra sem a presença dela. Ele pegou o celular, já impaciente para ligar e perguntar onde ela estava, mas foi surpreendido ao ver a tela cheia de notificações de gastos no cartão. Como estava incomodado com as ligações constantes, havia deixado o celular no silencioso, sem imaginar que as notificações de consumo o tomariam de surpresa.A tela do celular estava cheia de registros de gastos, e ele não pôde deixar de franzir a testa.Ele tentou ligar para Isabela, mas ninguém atendeu. Sentiu um vazio incômodo crescendo dentro dele e puxou a gola da camisa para aliviar o desconforto, como se o ar tivesse ficado mais pesado. Em vez de se perder na angústia, foi ao escritório, buscando se distrair com trabalho, uma tentativa de colocar a cabeça no lugar. No entanto, o que ele encontrou sobre a mesa paralisou ele: o acordo de divórcio. Ao lado, a aliança q